O muso do Fica Temer

Malu Fontes é jornalista e professora de jornalismo da Facom/UFBA

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Publicado em 7 de agosto de 2017 às 03:25

- Atualizado há um ano

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Só dá ele. Nos últimos dias, Wlad, como gosta de ser chamado, vem estampando jornais e revistas nacionais, inclusive capas, reportagens de televisão, sites, redes sociais e memes a perder de vista. Moreno no tom caboclo, cabelos com chumaços frontais na fronteira entre o acaju e o grisalho-disfarçado, peitoral nu, e bíceps e barriga mais salientes e túrgidos do que exatamente malhados, umbigo meio empenado, aquele típico das pessoas que, entre a academia e a lipoaspiração, ficam sempre com a segunda opção para se livrar das gorduras do corpo, e um vocabulário que parte do folclórico e estaciona no chulo.   Ah, claro, o mais importante e razão do protagonismo todo do rapaz: Wlad ostenta uma tatuagem entre o ombro direito e a axila com um tema improvável: a palavra “Temer” embaixo de uma bandeira do brasil. Na esteira dos escândalos e das acusações contra o presidente Michel Temer, eis que emerge a figura tosca e burlesca do deputado federal Wladimir Costa (SD-PA), imediatamente erigido à condição de muso do “Fica Temer”.  CANTOR BREGA  O posto de muso do #ficatemer foi conquistado pelo deputado com louvor, afinal, quem mais, além dele e da primeira dama presidencial, Marcela Temer, teria a coragem de tatuar o nome de um presidente que é uma unanimidade em rejeição popular? A tatuagem de Marcela, além de ser de tempos idos, é mínima e discretíssima. A bela tem o primeiro nome do marido tatuado na nuca, em letras cursivas e miúdas, quase sempre cobertas pela longa cabeleira loira.   Mas afinal, quem é Wladimir Costa, o deputado que debutou nas últimas semanas no mundo da fama, mesmo que como objeto de piada? É difícil escolher por onde começar a apresentar o parlamentar, tantas foram as funções que ele desempenhou na vida antes de ser eleito, com 160 mil votos, em 2003, para o primeiro mandato na Câmara dos Deputados. De camelô de creme dental no tradicional Mercado Ver-o-Peso, em Belém, a cantor de tecnobrega na periferia da capital paraense, Wlad já fez “de um tudo”. Tudo mesmo, inclusive durante os exercícios dos mandatos e as campanhas. Tanta coisa que, não à toa, o TSE do Pará cassou seu mandato. Ele recorreu ao TSE, em Brasília, que até hoje não julgou o caso.  PAR DE BUNDA O deputado tatuado, como agora é conhecido em todo o país, começou a vida como camelô no Ver-o-Peso, passou a ser locutor de todo o mercado, tornou-se cantor de tecnobrega, empresário de festas de aparelhagem (comuns e famosas em Belém) e apresentador de programas policialescos de rádio e tv, de onde partiu para a carreira política, autodenominando-se “o federal do povão”. Agora, graças à tattoo em homenagem ao presidente, alcançou fama nacional. Embora seus colegas opositores e tatuadores famosos ouvidos pela imprensa jurem que a tatuagem do deputado é fake, ou seja, provisória, feita com hena, ele jura o contrário e já anunciou que fará outra com o mesmo tema, agora nas costelas.   Para turbinar a fama, Wlad teve a tela do celular flagrada por um fotógrafo no plenário da Câmara, durante a votação que barrou o processo contra Temer, pedindo nude a uma mulher, aliás pedindo a imagem da bunda da moça. No diálogo, inova e altera com um neologismo a configuração anatômica dos glúteos femininos, ao usar como sinônima a expressão “um par de bunda”. Apesar disso, em casa tudo parece ir bem. Sua mulher teria se emocionado tanto com a tatuagem, segundo o próprio, que foi às lágrimas. Mas, como macho que é, Wlad já decidiu: “se ela quiser tatuar o nome dele, eu não deixo”.