O naufrágio da lancha Cavalo Marinho I me deixou meio fora do ar 

Por Valmar Hupsel Filho

  • D
  • Da Redação

Publicado em 24 de agosto de 2017 às 20:49

- Atualizado há um ano

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As tragédias naturalmente consternam qualquer pessoa que guarda um pouco de humanidade no coração, mas nos tocam mais profundamente quando, de alguma maneira, nos são próximas. O naufrágio da lancha Cavalo Marinho I durante a travessia Mar Grande – Salvador, na manhã desta quinta-feira, me deixou meio fora do ar. 

A imagem dos corpos perfilados na praia do Duro me causou profunda tristeza. Meus pais tinham uma casa a menos de cinquenta metros dali e uma pousada a menos de um quilômetro dessa praia. Dei meus primeiros passos naquela areia e tomei meus primeiros banhos naquela água. Mar Grande, e em especial aquela praia, é o grande paraíso da minha infância e adolescência. Ali estão grande parte de minhas melhores lembranças.  (Foto: Marina Silva/CORREIO) Faço essa travessia desde quando estava na barriga de minha mãe. Meu filho, hoje com 21 anos, também. Por diversas vezes a agradabilíssima viagem de cerca de 45 minutos cruzando a Baía de Todos os Santos foi feita naquela mesma lancha, cujos marinheiros eu chamava pelo nome. Não sei se entre as vítimas estão conhecidos meus. Possivelmente sim. 

Por isso a imagem do bebê de cerca de um ano nos braços do bombeiro que fez o resgate me é tão forte. Ele foi uma das 18 vítimas confirmadas até agora. Poderia (pode?) ser filho de um conhecido meu. Poderia ter sido meu filho. Poderia ter sido eu. 

Desde pequeno ouço e vivencio histórias de travessias difíceis por causa do mar revolto feitas por lanchas superlotadas e mal conservadas. Lembro de senhorinhas rezando nas viagens em que o mar entrava por um lado da embarcação e saia pelo outro, de tanto que balançava. 

Nos últimos anos a Capitania dos Portos intensificou a fiscalização, exigindo embarcações mais conservadas, com salva-vidas e equipamentos de segurança e com o número de passageiros limitado às suas capacidades. Ainda não sei se a negligência foi a causa do acidente. Espero sinceramente que não. Porque, quando os tiver, desejo que meus netos também façam essa travessia...

Texto publicado originalmente no Facebook