O ouro que Nuzman nos tirou do peito

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  • Miro Palma

Publicado em 11 de outubro de 2017 às 05:14

- Atualizado há um ano

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Dezesseis barras de ouro de 1 kg cada. Dezesseis barras de ouro que, como diria Silvio Santos, valem mais do que dinheiro. Tudo isso escondido, entocado em um cofre na Suíça. Dezesseis barras de ouro que seriam suficientes para produzir mais de 2.600 medalhas de ouro, todas as medalhas de ouro necessárias até a Olímpiada de 2028, segundo cálculo de O Globo, tudo em posse de um homem só. Dezesseis quilos em barras de ouro. A repetição é para que você e eu nunca nos esqueçamos da quantidade de medalhas, vitórias e histórias do esporte que foram roubadas de nós pelo presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman.

Juntas, todas as barras valem cerca de R$ 2 milhões. O mesmo valor que o cartola declarou em 2006 como a soma de todos os seus bens. Em 2016, esse número deu um duplo twist carpado e subiu para R$ 7,3 milhões. Um acréscimo de 457% em seu patrimônio. Uma verdadeira façanha para quem não recebe nenhuma remuneração pela função de presidente do COB há 22 anos.

Em 2014, Nuzman poderia ter ganho uma medalha se a evolução do patrimônio fiscal fosse uma modalidade olímpica, já que dobrou o seu em relação ao ano anterior. Neste ano, ele declarou novos R$ 3,85 milhões referentes a ações de uma companhia nas Ilhas Virgens Britânicas, um conhecido paraíso fiscal. A origem dessas ações e do resto de seu patrimônio é desconhecida, já que ele não era muito bom em preencher a declaração de Imposto de Renda e não discriminava nos documentos à Receita Federal suas fontes pagadoras como pessoa física e os valores que tinham origem no exterior.

Engraçado é que, logo depois da primeira visita da Polícia Federal a sua casa, ele resolveu retificar sua declaração, acrescentando o valor de R$ 490 mil – que foram encontrados em cinco moedas diferentes pelos policiais – e as 16 barras de ouro que estão na Suíça. E pasmem:  Nuzman aprendeu a discriminar a origem dos montantes que, segundo ele, são “sobras de viagens ao longo de muitos anos”.

Por tudo isso e pelas investigações sobre a compra de votos para que o Rio de Janeiro sediasse os Jogos Olímpicos de 2016, apuradas pela operação Unfair Play, desdobramento da Lava Jato, Nuzman teve sua prisão preventiva acatada pelo juiz federal Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio, e segue vendo o sol nascer quadrado por tempo indeterminado. O mesmo vale para o seu braço-direito, Leonardo Gryner, ex-diretor de marketing do COB e de comunicação e marketing do Comitê Rio-2016.

As 16 barras de ouro, os R$ 490 mil e todo o dinheiro envolvido nesse esquema de corrupção que manchou os Jogos Olímpicos do Rio e a história do esporte brasileiro tiraram de nós medalhas de ouro, prata e bronze que não foram conquistadas por falta de investimento no fomento ao esporte, tiraram o legado da Olimpíada que se transformou em piadas com equipamentos perecendo sem utilização. Tiraram de nós, um povo tão necessitado de instituições honestas, de exemplos de caráter, o orgulho por ter recebido um evento tão grande em nossa casa. Infelizmente, esses crimes, que foram muito mais nocivos a nossa sociedade, não estarão arrolados no processo. Mas me contento em saber que, seja com a punição na Justiça ou através da perda de sua reputação, ele vai pagar por isso.