‘O papel da arte é fazer provocação’, diz músico da BaianaSystem

Grupo indicado ao Prêmio Multishow abre temporada de shows na Bahia e fala sobre a arte como ferramenta de debate

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  • Laura Fernades

Publicado em 27 de outubro de 2017 às 06:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Jardel Souza/Divulgação

O poder da arte no debate social está cada vez mais em evidência e a banda BaianaSystem coloca lenha na fogueira ao denunciar, em suas letras e shows, questões como o preconceito e a invisibilidade de quem vive à margem da sociedade. Essa, por exemplo, é a tônica da música Invisível, indicada ao Prêmio Multishow de Música Brasileira de melhor canção e um dos destaques do repertório que o grupo apresenta na temporada de shows que começa neste fim de semana, na Ilha de Itaparica.

Denúncia da invisibilidade que atinge o rapaz da corda que ninguém vê no Carnaval, ou o homem do isopor que ninguém percebe, a música evidencia a crítica social sempre marcante no show da BaianaSystem, eleito o melhor de 2016 pelo Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). “Tem sido importante falar sobre o que estamos vivendo porque é uma situação muito delicada, politicamente e nas relações das pessoas”, ressalta o guitarrista da BaianaSystem, Roberto Barreto, 45 anos.

Beto destaca, ainda, que não só as letras, mas o som da banda reflete esse posicionamento crítico que ganha fôlego em tempos de debates sobre censura, arte e reações extremas. “Historicamente, o diferente incomoda. O cara aparece nu em uma exposição e a reação é quase uma caça às bruxas. O papel da arte é fazer essa provocação, para que esse estranhamento gere uma discussão ou um caminho. Dessa forma é que a arte pode transformar. A partir do questionamento de coisas consolidadas”, defende o guitarrista.

Depois de rodar o Brasil nos últimos meses, o que inclui elogiadas passagens pelo Rock in Rio e pelo Lollapalooza, a BaianaSystem volta a apresentar seu som provocativo na sua terra natal. Neste domingo (29), às 22h, o grupo encerra o I Festival de Itaparica (Fita), no dia 19 de novembro se apresenta no Bahia StreetArt Festival, em Lauro de Freitas, e já planeja as próximas apresentações e músicas que vão compor o Verão baiano e o próximo disco, ainda sem previsão de lançamento.

“A gente tem tocado bem pouco em Salvador, mas é importante pra gente como carreira, fundamental para entender os públicos e só a estrada dá isso. A gente está bem feliz com isso, porque dá uma maturidade ao show, ao repertório”, pondera Roberto Barreto. Vocalista do grupo, Russo Passapusso, 36 anos, concorda que o momento de circulação é importante para a BaianaSystem, mas lamenta ficar longe da capital baiana e critica a falta de investimento em espaços de médio porte na cidade.

“Quando toco em Salvador eu passo mal, eu choro, é a maior onda. Porque é muito difícil poder fazer música pra minha cidade. O Pelourinho, que é nossa única válvula de escape, está reformando. O Barra Hall fechou... Fico muito triste com o que se passa aqui”, lamenta Russo, que também se apresenta com show solo do disco Paraíso da Miragem, nesta sexta (27), dentro da programação do festival Sai da Rede, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves."É muito difícil poder fazer música pra minha cidade", diz Russo PassapussoO cantor critica, ainda, o fato dos baianos não valorizarem artistas locais que acabam fazendo mais sucesso fora do estado e cita Riachão, Lazzo, Lourimbau, Bule-Bule e Antonio Carlos e Jocafi, os dois últimos convidados de Russo para seu show solo na Concha. “Precisa de incentivo cultural para que eles possam mostrar o que são”, diz o cantor, sobre os artistas baianos. “Minha tristeza é relacionada ao entendimento cultural que temos que ter dentro da minha terrinha amada. Amor e ódio é o que tenho por Salvador (risos)”, completa bem humorado.

Ansioso para os próximos shows, Russo elogia a iniciativa do I Festival de Itaparica e defende que esse é um exemplo a ser seguido. “Itaparica está de parabéns. Salvador tem muito a aprender com isso. É nos momentos de grande dificuldade que aparecem as melhores coisas”, diz o cantor, ao lembrar do naufrágio da lancha Cavalo Marinho. “A primeira coisa de todas, antes de qualquer música, é rezar e saudar as pessoas da tragédia, da travessia. Depois a gente vai celebrar com a música, que é invisível, é essa alma”, finaliza.