O papel que cabe a cada um

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  • Da Redação

Publicado em 27 de julho de 2019 às 05:10

- Atualizado há um ano

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Levantamento recente realizado pelo CORREIO junto aos órgãos responsáveis pelo controle de endemias revelou a existência de mais de 40 áreas de risco em Salvador para os chamados arbovírus, dos quais os mais comuns na zona urbana são os da dengue, zika e chikungunya. O que torna tais localidades focos de prováveis surtos ou epidemias é, frequentemente, a grande quantidade de imóveis abandonados pelos proprietários. Uma vez esquecidos, tornam-se criadouros de doenças praticamente invisíveis aos olhos das autoridades da área de saúde pública, contribuindo, sobremaneira, para frequentes avanços no número de casos dessas doenças.

Apenas de janeiro a 11 de julho  deste ano, Salvador já apresentava um crescimento de 30% na quantidade de casos de dengue em comparação com o mesmo período de 2018. Em números absolutos, passou de 1.824 para 2.374. O salto foi ainda maior em relação a chikungunya, com 38% de vítimas a mais que no ano passado. Como os depósitos preferenciais do mosquito Aedes aegypti estão em áreas internas e externas das residências – vasos de plantas, reservatórios, pneus velhos, bebedouros de animais e toda sorte de recipientes capazes de armazenar água -, especialistas em arboviroses são claros em afirmar que o risco se eleva onde há alta incidência de imóveis em estado de abandono.

Com a capital anos a fio sob alerta de risco para epidemia de dengue, cresce de modo exponencial a responsabilidade por parte dos donos de imóveis deixados ao léu. Zelar por determinada propriedade, seja ela objeto ou não de uso, é obrigação legal de quem tem a posse. No entanto, é um dever constantemente desobedecido, deixando milhares de cidadãos à mercê de doenças com potencial de levar à morte ou provocar danos irreversíveis ao organismo humano. Um exemplo claro da negligência pôde ser visto esta semana nas páginas do CORREIO.

Reportagem publicada quinta-feira abordou mais uma operação de agentes de endemia do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) em imóveis esquecidos por seus donos. A ação se concentrou na Pituba, uma das dezenas de bairros na lista de localidades de Salvador com índice de infestação por Aedes aegypti considerado acima do normal. Acompanhados pela Guarda Municipal, os técnicos do CCZ conseguiram entrar em endereços cujos proprietários parecem sequer lembrar que eles existem e os pertencem. Constataram o perigo denunciado previamente por moradores que vivem próximos a possíveis focos de vírus.

Na fila dos agentes há ainda 40 imóveis em iguais condições a serem vistoriados pelo CCZ na Pituba e em mais dois bairros: Boca do Rio e Barra. A entrada forçada sem anuência do dono ou responsável legal só é possível por aval do Ministério da Saúde, válido para casos em que há risco de infestação do mosquito e quando as equipes de vistoria tentam, sem sucesso, obter a autorização para acesso à propriedade. A medida, de caráter extremo, não exclui a gigantesca parcela de responsabilidade dos proprietários de imóveis em alto grau de abandono.

Apesar de todos os esforços dispensados pelos técnicos em vigilância epidemiológica, é inconcebível pensar no poder público como instância única para problemas cujo enfrentamento depende também do cidadão. Assim como os efeitos decorrentes do lixo jogado a esmo pelas ruas poderiam ser minimizados ou evitados através de gestos simples, impedir que imóveis sirvam para proliferar doenças é um papel que cabe, em grande nível, aos seus donos. E eles precisam urgentemente assumi-lo.