O que a vida quer é coragem

por Flávia Azevedo (mãe de Leo)

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Publicado em 16 de março de 2018 às 08:10

- Atualizado há um ano

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Carão em branco Nesta semana, não tenho carão que dê conta: Marielle Franco.

‘A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem’. Vamos de Guimarães Rosa que também sem poesia ninguém segura esse rojão.

“Taurina, mulher, cervejeira, retada, cozinheira”, é assim que Karla Baqueiro se define. A caçula de cinco irmãos é uma neta de espanhóis imigrantes que trouxe, da ancestralidade, o comércio como destino. E não teve jeito: teve que ser um bar. Apaixonada por botecos desde cedo, ela é dona do @bagacinhoboteco, querido de um monte de gente que curte arte, simplicidade e cerveja. Foi assim: um dia, ela tava bebendo no estabelecimento e o garçom disse que a dona queria vender. Pronto, Karla comprou. Repaginou, trouxe cinema, música e (muita) cerveja. São 80 rótulos de artesanais. Há três anos, no projeto Bagacine, acontecem projeções toda terça. Fora o jazz, aos domingos. São 15 mesas ao ar livre, na Barra. O tipo do ponto que vale a pena bater. Karla Baqueiro (Foto: Divulgação) Giovanna Severo nasceu em Alagoinhas e veio ainda criança para a capital. Trouxe com ela a fome dessa qualidade de imigrante: desbravar a “cidade grande”, esse desafio e mistério. Formada pelo Curso Livre de Teatro da Ufba, é atriz, mas outras coisas também. No MAM/BA encontrou destino para suas inquietações: diversos caminhos nas salas de aulas dos cursos de cerâmica, xilogravura e serigrafia. Seguiu aprendendo a fazer encadernação artesanal, fotografia, gravuras e ilustrações. Juntou com os bordados e crochês que já sabia e o resultado é um monte de produtos em lojas físicas e virtuais. Pra você que tá aí ainda pensando no que fazer da vida, uma informação: Giovanna tem 23 anos. E três marcas. Veja aí: @pitayamanual, @ateliealfinete e @olhodebaleia. Foto: Giovana Severo (Foto: Juh Almeida/Divulgação) Flávia Santana tentou teatro, violão e pintura. “Só meus pais tiveram coragem de colocar os quadros que pintei na casa deles”, ela diz, reconhecendo a condescendência. Felizmente, mudou de rumo porque uma hora, sacou: não era pra ser artista. Mas a arte (essa paixão de sempre) oferece outros caminhos. Fez Comunicação na Ufba, com ênfase em produção cultural, e finalmente o “agora sim!”. Em 2014, com as amigas Joana Giron, Gabriela Rocha e Juliana Vieira montou a @giroplanejamentocultural. A produtora realiza projetos de teatro, música, audiovisual, artes visuais e outras manifestações artísticas desde a elaboração até a prestação de contas. Uma equipe de mulheres atentas ao conteúdo do que produzem porque concordam: trabalhar com arte é, também, um ato político.  Flavia Santana (Foto: Juh Almeida) Essa moça aí é Hávata Serena West Reis, filha de Ewá, neta de Nanã e sobrinha de Oxumaré. Isso, no candomblé, religião à qual pertence. Aqui, entre os humanos, foi criada por duas mulheres: a mãe e a irmã. Cursa Artes Plásticas na Ufba e é uma especialista em maquiagem para pele negra. Também faz penteados e design de sobrancelhas. Para clientes avulsas, mas, principalmente, para audiovisual. Esta, uma paixão. Começou a maquiar há cinco anos quando descobriu uma lacuna na sua área de atuação. Não é que, em Salvador, cidade negra e mestiça, a maioria dos profissionais e produtos se refere a peles brancas? Lógica não tem nenhuma, mas espaço de trabalho sobra e ela, imediatamente, decidiu ocupar. Quer conhecer? 71 9 8862 7215. Hávata Serena West Reis (Foto: Divulgação) Mulherão Esse véu é um hijab,  adereço religioso que Alice Barbosa passou a usar quando se converteu ao Islamismo. A paulista adotada pela Bahia encontrou nele o ambiente para a pessoa que é e quer ser para o resto da vida. Morando na Cidade do México desde 2013, a jornalista pede que não confundam os muçulmanos com regimes totalitários e estereótipos terroristas. De fato, nenhuma violência combina com a vida dessa moça que, a cada terremoto em sua nova pátria, se une a correntes de ajuda às vítimas e vive a resgatar animais em situação de risco. Isso, parte de um modo de ser e estar no mundo que inclui coragem pra se reinventar todinha. Já tem quatro restaurantes de delivery e uma empresa de comunicação que apresenta a estrangeiros muito da cultura daqui. Deu certo, pois, para esse mulherão que foi embora, mas põe em cada trabalho que faz, uma pitada de Brasil.  Alice Barbosa (Foto: Divulgação) Vale o Print: o martelo de Nietzsce