O que o turismo pode fazer pela Baía de Todos os Santos

Especialistas defendem que a marca Amazônia Azul deva ser melhor

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  • Murilo Gitel

Publicado em 4 de fevereiro de 2018 às 15:22

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO

De férias em Salvador, a turista italiana Giorgia Marchetti, 43 anos, visitava na quinta-feira (1º/2) o Monumento da Cruz Caída, na Praça da Sé, quando vislumbrou a Baía de Todos os Santos (BTS) pela primeira vez. “Foi amor à primeira vista. Perguntei logo ao guia turístico o que fazer para visitar”, relatou, entusiasmada.

Sobram motivos para tamanho encantamento. Maior baía de águas tropicais do mundo e sede da Amazônia Azul, a BTS reúne águas transparentes, calmas e mornas, além de uma série de atrativos culturais produzidos pelas comunidades tradicionais dos 18 municípios que a circundam. Contudo, especialistas ouvidos pelo CORREIO Sustentabilidade são unânimes ao afirmar que esse potencial turístico pode ser melhor aproveitado, o que contribuiria para o desenvolvimento do Estado como um todo.

“Entendemos que é preciso formatar um produto turístico que possa promover a Baía de Todos os Santos enquanto sede da Amazônia Azul”, afirma Marcos Lomanto, chefe da Assessoria de Projetos e Parcerias da Embratur, entidade vinculada ao Ministério do Turismo. Ele reforça que grandes eventos realizados na Bahia, como o Carnaval e o São João “já se vendem”, e que é necessário captar novas oportunidades, sobretudo no turismo náutico.

“O turismo náutico é fonte de geração de empregos e divisas. O turista que viaja com seu próprio barco tem alto poder aquisitivo. A Baía de Todos os Santos tem grande potencial para receber este tipo de viajante”, ressalta Angelo Calmon de Sá Júnior, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estados da Bahia (Fieb). “É preciso criar regras claras de ordenamento e atrair mais investimentos dos setores público e privado”, reivindica.

Marinas A ausência de marinas impede que este tipo de turista explore a região. Ele não tem, por exemplo, onde parar para abastecer, se alimentar e pernoitar com segurança. Contribuir para esse tipo de questão será um dos objetivos do Comitê Náutico de Salvador, criado por meio do Decreto Municipal 28.231/2016. Essa instância, lançada no segundo semestre do ano passado, objetiva organizar, promover e apoiar o desenvolvimento da economia náutica na cidade, com foco na expansão do turismo e das demais atividades econômicas relacionadas a esse segmento.

“Este comitê conta com cinco representações públicas e também com a participação de importantes entidades privadas de nossa cidade, como a Associação Comercial da Bahia (ACB), e também vai propor medidas para tornar a emissão de licenças mais eficiente”, detalha Claudio Tinoco, secretário municipal de Cultura e Turismo.

Esportes Os esportes náuticos também têm grande potencial para desenvolver o turismo na BTS. Neste sábado (3) foi realizado o II Desafio Yacht Salvador-Morro de São Paulo de canoa havaiana, que contou com mais de 200 competidores de todo o Brasil. “Esse tipo de evento ajuda a dar mais visibilidade ao potencial da Baía de Todos os Santos e do arquipélago de Tinharé - onde está localizada a ilha de Morro de São Paulo - para esportes náuticos”, observa Benedito Braga, subsecretário do Turismo no Estado.

Assim como já ocorre em baías de todo o mundo, outra possibilidade de fomentar o turismo na BTS é a realização de regatas, como a Transat Jacques Vabre, considerada a maior transatlântica do mundo – e que teve Salvador como destino em novembro do ano passado. “A BTS ficou inserida durante 20 dias na mídia internacional. Já existe uma negociação em curso para atrair um evento náutico semelhante em breve, mas prefiro não adiantar nada enquanto não estiver sacramentado”, projeta José Alves, secretário estadual de Turismo.

Comunidades Melhorar a infraestrutura das 56 ilhas da BTS é outra demanda antiga do trade turístico. Extremamente belas, Itaparica, Frades e Maré sofrem com a falta de segurança do transporte marítimo, precariedade dos trapiches de atracação e esgotos a céu aberto. “Muitas vezes, o trabalho de desenvolvimento e capacitação das comunidades que vivem da BTS é realizado, mas quem é de fora não chega a conhecer essa produção artesanal, pois é complicado chegar até elas”, aponta Ana Paula Almeida, gerente de Turismo do Sebrae-BA. Ela propõe a criação de um sistema semelhante ao que já existe para a ligação Salvador-Morro de São Paulo, com o uso de catamarãs.

Em Ilha de Maré, uma das principais atividades econômicas é o artesanato. Boa parte da população local é artesã e usa desde a renda de bilro até o artesanato de cestaria com bambu. As iguarias culinárias, como a tradicional moqueca de peguari, também são muito recomendadas. “Já tivemos momentos de abundância, mas a pesca vem reduzindo e o nosso trabalho hoje é orientar os pescadores para evitar a pesca predatória”, alerta Seu Naná, um dos moradores mais conhecidos do arquipélago.

Iniciativas Promover a capacitação das comunidades tradicionais com foco na geração de renda é uma das metas do Programa Maré Boa, desenvolvido pela Braskem em parceria com organizações do terceiro setor, como o Instituto Maré Global, e a Marinha do Brasil. A iniciativa, que também promove ações de educação ambiental e sustentabilidade pesqueira, já beneficiou cerca de 6 mil moradores da Ilha de Maré e do município de Candeias desde 2015.

Em nível governamental, uma das esperanças para o desenvolvimento turístico da BTS como um todo consiste na aplicação dos recursos do Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), orçados em US$ 84,7 milhões via Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Aqui na Bahia,esse mecanismo busca estabelecer a promoção do turismo náutico de forma integrada ao segmento cultural.

Turismo sustentável A preservação da BTS também passa pela consciência ambiental dos turistas que a visitam todos os anos. Atitudes simples, como recolher os resíduos e descarta-los corretamente, ao invés de deixa-los na praia, auxiliam bastante na conservação da sede da Amazônia Azul.

Em 2016, o Ministério do Turismo lançou um manual de sustentabilidade com o objetivo de orientar os viajantes que escolheram o Brasil como destino. Confira as dicas:

1) Melhor se hospedar perto das atrações turísticas, para se deslocar a pé ou de transporte público;

2) Não desperdice alimentos: coma apenas o que for necessário para matar a fome;

3) Deixe claro ao hotel ou pousada que não precisa trocar toalhas e lençóis diariamente;

4) Se possível, viaje na baixa temporada, para não sobrecarregar ainda mais o destino;

5) Respeite os locais e peça permissão para fazer fotos: pessoas não são animais exóticos;

6) Consuma produtos típicos, feitos no lugar que está visitando. Prefira as frutas da estação;

7) Leve para casa artesanato típico, o que valoriza a cultura e gera renda para o local;

8) Dê preferência a empresas com práticas de responsabilidade social ou ecoeficiência;

9) Contrate guias locais e procure aprender palavras no idioma, para criar um vínculo maior.

10) Em trilhas, se atenha a caminhos já existentes. Folhas e galhos não são suvenires;

11) Em praias, não deixe o lixo para trás. Conchas e pedrinhas são para ficar na areia;

12) Leve uma garrafa reutilizável e uma ecobag, para evitar a multiplicação de garrafas e sacos plásticos;

13) Prefira voos diretos, para reduzir sua pegada de carbono. E, lembre-se: mala pesada consome mais combustível;

14) Não alimente nem toque nos animais. Evite passeios que prometam essa interação.