O tiro foi esse

Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista

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  • Jolivaldo Freitas

Publicado em 20 de fevereiro de 2018 às 00:03

- Atualizado há um ano

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Tiro 1 O Rio de Janeiro está sob intervenção militar e o estado com poder dividido entre um governador e um general, coisa que não se via neste país desde os tempos da ditadura militar, mas entendo que, do jeito que as coisas estão, não há mais o que fazer, senão chamar o Exército, por mais emblemático que isso seja, por mais dolorosa lembrança que isso possa trazer.

O Rio de Janeiro é a face mais visível de um estado com falência múltipla de órgãos, em que um ex-governador está preso, um presidente de Assembleia Legislativa também nas mãos da Justiça, e coronéis, capitães, sargentos, cabos e soldados da Polícia Militar mancomunados com a bandidagem. O que se viu – de novo – como em todos os verões cariocas foi um período de tempestades e arrastões.

E se viu um prefeito longe da cidade, percorrendo a Europa enquanto sua cidade pegava fogo e sucumbia às águas e aos bandidos e ele mentindo sobre o motivo da excursão. Mentira tem pernas curtas até para quem se diz carne e unha com Deus.

Tiro 2 Uma vergonha o primeiro Ba-Vi do ano. Dois times de segunda lutando por um campeonato falido, desmotivado, sem glamour, sem torcida, sem empatia e por causa de um gesto idiota de um jogador sem noção faz com que a história dos dois maiores rivais do Nordeste seja manchada. Foi dos piores jogos da outrora gloriosa história dos dois times onde jogador bate em outro em pleno exercício da covardia; técnico que manda jogador forçar expulsão e o desrespeito para com a torcida. Covardia pura. E Os Imbatíveis? Não é tempo de acabar com esta facção de péssima memória para o futebol baiano? Mário Sérgio, homenageado com acesso ao Barradão, se revirou no túmulo.

Tiro 3 Inacreditável que quatro em cada dez brasileiros estão endividados, seja com crédito direto, no cheque especial ou no crédito rotativo onde quem entra dificilmente conseguirá sair. O cheque especial tem taxas que já passam de 300% ano. Muitas famílias têm perdido seus imóveis, até mesmo do Minha Casa Minha Vida. Os bancos não são amigos e nem geridos por Madre Teresa de Calcutá. Veículos adquiridos a crédito são sequestrados, os bancos cobram com toda gana as dívidas dos cartões de crédito. São mais de 55 milhões de consumidores impedidos de obter crédito, na avaliação da Serasa Experian. As dívidas chegam a mais de R$ 230 bilhões. Quem tem o nome sujo é um socialmente excluído.

Tiro 4 O Brasil está cada vez dividido politicamente. Passado o Carnaval, que começou antes em Salvador e só terminou mais de uma semana depois em São Paulo, o que se vê é uma perspectiva sombria. O espectro de Lula deixa o país num confronto aberto. E pairam algumas nuvens sobre nossa cabeça: a possibilidade de sua inelegibilidade e sua imediata prisão trazem o porvir de eleições em clima de insegurança jurídica e política.

Tiro final O tiro final é a necessidade de vacinação contra a febre amarela e a volta do sarampo. A febre amarela que fora erradicada há 11 anos. O sarampo tinha sido erradicado no Brasil, segundo a OMS, em 2016. O mundo indo para a frente. O Brasil que nem o Furdunço: fazendo o caminho contrário ao circuito. Dessa vez,  sem alegria.

Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista.