O Universo mítico de Mestre Didi

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  • Cesar Romero

Publicado em 26 de novembro de 2017 às 07:00

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Neste mês comemora-se os 100 anos de nascimento do Mestre Didi (Deoscóredes Maximiliano dos Santos) nascido em Salvador – Bahia, em 1917. Aos oito anos de idade, em 1925, é iniciado como Korikowê Olukotun no culto aos ancestrais Egun, no Ilê Olukotun, Tuntun, Ilha de Itaparica, Bahia. Foi escultor, ensaísta, escritor com mais de 20 livros publicados, em que narrou histórias de terreiros e contos de tradição afro-brasileira. Sumo sacerdote do culto aos ancestrais Egungun e estudioso da língua iorubá. Recebeu vários títulos e cargos sacerdotais da hierarquia religiosa de origem africana. Em 1975, recebeu a mais alta escala sacerdotal Alapini no culto aos antecessores Egun. O universo mítico de Mestre Didi vem de suas tradições como Assogba, sacerdote supremo do culto à terra. Esteve visceralmente ligado ao universo nagô. Seus trabalhos escultóricos são inspirados na Natureza, em relações simbólicas e míticas. A espiritualidade e o entorno cultural onde nasceu e viveu trouxeram-lhe uma poética visual endógena. Essência e raiz. Os mitos coletivos se enovelam, se ligam e se enroscam, buscando um ritmo de memória, um lugar-testamento. Mestre Didi, de longeva trajetória, trouxe carga avoenga, somatório de informações que lhe foi passada pelos mais antigos na prática nagô. Suas esculturas de grande leveza trazem intrínseca a força arquetípica e simbólica de uma África remota. Uma visão teológica e mítica de seus antepassados. Sua arte não é ritualista, mas um conjunto orgânico de elementos visuais de raiz ascendente. Ocupou os espaços com nervuras de palmeira, couro rendado colorido, búzios, contas, barbantes e palha da costa, trabalhados em conjunto e minúcias. Surgiam formas originais, sinuosas, agrupadas por braçadeiras de couro, que investem em diferentes direções. Lanças em sua verticalidade apontam o infinito, curvas serpenteiam, se enroscam em movimentos e sinuosidades. Espacialidade mágica, sutil e convicta. Reorganização de códigos viscerais. Transfigurações no aqui-e-agora de “flashs” arcaicos, reorganizados no espaço, volutas, retas e curvas onde se inserem serpentes, pássaros, peixes, camaleões, garças, pombos, insetos, gaivotas, plantas, árvores, búzios, ninhos e o que mais couber de sua iconografia. As remotas memórias, aquelas atávicas, levaram o artista ao autoconhecimento, e assim fidelizado, produziu outra realidade notável: esculturas. Mestre Didi evocou a natureza do sagrado. Coerência da infância à finitude. Disciplina. Seu voto de silêncio, um juramento religioso, um desapego, trouxe à luz suas esculturas, que encantam pela “fala” plástico-visual.