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Elton Serra
Publicado em 11 de fevereiro de 2018 às 05:00
- Atualizado há um ano
Eu poderia começar esta coluna momesca afirmando que a CBF, na semana passada, cometeu o maior equívoco deste início de temporada. Ao repassar aos clubes os custos e a responsabilidade da implantação do VAR, o famoso árbitro de vídeo, na Série A do Campeonato Brasileiro, a entidade se absteve do papel de organizadora da competição e escancarou algo que já estava implícito há décadas: o Brasileirão é um produto que faz pouca diferença para a confederação. Mas, vamos lá.
Antes, uma informação. De acordo com o International Football Association Board (Ifab), departamento da Fifa, 804 jogos de futebol que utilizaram o VAR foram analisados e, em 98,9% dos casos em que se precisou recorrer ao árbitro de vídeo, as decisões foram acertadas. O mecanismo mostra-se eficiente desde que foi implantado nas grandes ligas mundiais.
É verdade, sim, que a CBF erra ao querer que os clubes paguem a conta sozinhos, afinal, faturou quase R$ 600 milhões em 2016 e deve fechar o balanço de 2017 com números ainda maiores – tudo isso em meio a diversos escândalos no futebol mundial, com prisões e investigações de vários cartolas. Nenhum clube brasileiro teve receitas maiores que as da entidade neste período. Como gestora do esporte no país, a CBF tem a obrigação de fomentar o desenvolvimento do futebol.
Porém, existe outra verdade. A maioria dos dirigentes é omissa. Sim, omissa. Não existe um movimento capaz de fazer com que os clubes tomem as rédeas do futebol brasileiro, tornando-se os verdadeiros protagonistas da organização do Campeonato Brasileiro. Quando a rica CBF abre mão de investir no VAR, alegando que o regulamento das competições a impede, as agremiações perdem a chance de serem os organizadores da Série A através de uma liga, assim como acontece nos principais países europeus.
O que também intriga é os clubes aceitarem os valores do VAR sem questionar a CBF. São realmente necessários R$ 20 milhões para implantar o árbitro de vídeo no Campeonato Brasileiro? Em Portugal, por exemplo, o mecanismo custa R$ 4 milhões por temporada, que são pagos pela Federação Portuguesa de Futebol. Ninguém ficou curioso em saber o porquê de cifras tão exorbitantes?
O presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, foi favorável à implantação do VAR no Brasileirão. O sistema diminui significativamente os erros de arbitragem, que tem perseguido os clubes baianos nas últimas edições da Série A. Não parecia ser problema para o tricolor investir R$ 1 milhão no árbitro de vídeo, o que o coloca numa posição de vanguarda. Mas o dirigente, publicamente, não questionou o valor absurdo.
O Vitória também declarou ser a favor do VAR, mas votou contra a implantação devido aos altos custos. Ricardo David alegou que o rubro-negro não possui orçamento suficiente para fazer o investimento. Cai, no final das contas, no mesmo questionamento de Bellintani: o mais correto não seria fazer a CBF escancarar as contas do tal árbitro virtual?
Ainda é utopia pensar que no Brasil teremos uma liga capaz de fazer com que o nosso futebol se torne atrativo novamente. A organização fora de campo ajuda também no nível técnico dentro dele. Com um individualismo já conhecido de nossos clubes, a tendência é que a CBF siga ditando as regras, contando com o “amém” da maioria dos cartolas. Enquanto as equipes, endividadas até a testa, não se equilibrarem, a confederação, rica até a estratosfera, continuará com o cabresto curto nas mãos.
Elton Serra é jornalista escreve aos domingos.