Obra provoca interdição parcial do zoológico de Salvador

Reforma já dura oito meses e primeira etapa só deve acabar em abril

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  • Gil Santos

Publicado em 16 de março de 2018 às 03:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO

Obras deveriam ter acabado no final do ano passado; novo prazo é o próximo mês de abril (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Lá vem o pato. Bem perto dele têm crianças, adultos, gente de todas as idades que vão ao zoológico, no bairro de Ondina, em Salvador, para ver os bichos. Mas, basta olhar para o lado e lá está a placa que proíbe o acesso a diversas áreas. Pendurado em cones, o aviso de “Interditado” mostra que nem tudo no Parque Zoobotânico de Salvador pode ser visto.

Como o espaço, administrado pelo governo do estado através do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), está passando por uma reforma, uma parte do zoo não pode ser acessada pelos visitantes. As obras começaram em julho do ano passado. Apesar das intervenções, há animais circulando pelo espaço.

É o caso do pato, uma das espécies que vivem soltas no parque e que, ao caminhar por lá, ultimamente, precisa desviar dos trabalhadores e dos carrinhos de mão que ocupam o espaço. O vai e vem de homens carregando madeira, serrando, polindo e martelando coisas atrai a atenção de alguns dos bichos e preocupa os especialistas.

Saúde

Para o médico veterinário Bruno Rapozo, os profissionais do zoológico de Salvador precisam redobrar a atenção aos sinais emitidos pelos bichos que vivem por lá. Enquanto as obras acontecem, ele recomenda a retirada de algumas espécies do local das obras para evitar danos à saúde dos bichos.

“Esses animais já vivem em uma situação de estresse, por isso, o cuidado com eles precisa ser maior. Quando se trata de reforma, isso vale também para quem tem bichos em casa. Os animais não falam, mas eles expressam os sentimentos. Então, se ele está sem comer ou mais agressivo é um sinal de que não está tudo bem”, afirmou.

Os mais de 1,6 mil animais de 164 espécies que vivem atualmente no parque são visitados por cerca de 40 mil pessoas todos os meses. Em outubro, esse número pode ser até três vezes maior, por conta do Dia das Crianças, que costuma atrair muita gente para lá.

Cuidado O coordenador-geral do zoo da capital baiana, Vinicius Dantas, garante que a saúde dos bichos é prioridade na reforma. As obras da primeira fase, que deveriam ter terminado no final do ano passado, têm agora um novo prazo: abril deste ano (leia mais ao lado). Vinicius contou que foi preciso adequar a agenda dos trabalhadores ao bem-estar dos animais.

“Tivemos até alguns embates por conta disso, mas a saúde deles é nossa prioridade. Quando eles (operários) vão usar uma britadeira, por exemplo, precisam nos avisar com antecedência para retirarmos os animais do local. Eles também têm horário para terminar de usar a máquina, para que o horário de descanso dos bichos seja respeitado”, afirmou.  

Enquanto as obras acontecem, alguns animais não podem ser vistos, já que são deslocados para outros locais dentro do parque. O coordenador Vinicius Dantas explicou que algumas espécies lidam melhor com o barulho e, por isso, não precisam ser realocadas. O pato e uma família de pavões pareciam mesmo bem à vontade passeando entre os trabalhadores, enquanto alguns primatas acompanhavam atentos a rotina dos operários e as nuvens de poeira.

Para a estudante Denise de Jesus, 28 anos, que costuma passear no parque com os sobrinhos, a reforma é importante e necessária. “O jardim zoológico é ótimo para passear com crianças, mas estava com alguns problemas. Lembro de ter visto vidro rachado de algumas jaulas, banheiros ruins e mato demais em alguns locais. Que bom que eles estão melhorando”, afirmou.

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Interdição Por conta da reforma, há trechos inteiros do parque interditados. Na quinta-feira, 15, por exemplo, quem visitou o lugar não pôde ver a área dos felinos, que estava bloqueada. Os mais curiosos ainda conseguiam ver os bichos, mas de longe. Vinicius Dantas contou que o antigo gradil que formava o guarda-corpo será substituído por troncos de eucaliptos e, por isso, o acesso dos visitantes está restrito.  

“À medida que o guarda-corpo é substituído, vamos liberando um trecho e interditando outro. A interdição é necessária porque sem ela, os visitantes podem se aproximar demais das jaulas, o que é perigoso. Essa troca faz parte da primeira etapa, que será concluída nas próximas três semanas”, disse o coordenador-geral.

Duas empresas são responsáveis pela reforma, cuja expectativa é finalizar a primeira fase no próximo mês de abril. O número de trabalhadores presentes no local oscila entre 25 a 30, dependendo do tipo de serviço.

Primeira etapa Além do guarda-corpo da área que abriga os felinos no Parque Zoobotânico de Salvador, a administração do lugar também está implantando muretas de contenção e novos módulos sanitários, pavimentando quilômetros de pista com piso intertravado, substituindo a cobertura no setor dos felinos e fazendo a reforma dos parquinhos infantis e dos pontos de apoio. Esta é a primeira fase de reforma no espaço e, segundo consta no próprio site do zoo, deveria ter terminado no final do ano passado, após seis meses de intervenção. Agora, a entrega está prevista para abril.

Na segunda etapa de reforma será feita a recuperação das estruturas do aviário, onde vivem hoje cerca de 300 animais, a renovação das estruturas que compõem o Horto Botânico e o setor de répteis. Após a reforma, ambos serão abertos pela primeira vez à visitação pública. Essa última fase será concluída somente no ano que vem, segundo a administração.

A primeira fase de intervenções no espaço custou cerca de R$ 3 milhões e a expectativa é de que o mesmo valor seja empregado na segunda parte. O zoológico de Salvador é administrado pelo governo do estado, através do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema).

Em setembro do ano passado, o Inema divulgou que a reforma contemplaria nove setores do zoológico. Na época, o instituto divulgou que estava desenvolvendo, junto com a Superintendência de Patrimônio do Governo da Bahia (Supat), a requalificação do recinto de Herpetologia, além da implantação de um estacionamento exclusivo para ônibus no antigo terreno, que fica no Alto de Ondina. A expectativa era de licitar as duas intervenções no primeiro semestre de 2018.

Enquanto as obras não terminam, o pato, aquele que circulava ontem no meio das obras, alheio às placas que indicavam a interdição de diversas áreas, aproveitou o dia para passear pelas instalações e, quem sabe, fiscalizar as obras.

Visitou os macacos, que estão agora em um local isolado, com o objetivo de mantê-los isolados dos mosquitos que transmitem a febre amarela e de outros animais. A coordenação do zoo da capital baiana disse que, em breve, eles serão levados de volta para as antigas jaulas.

Tanque de jacarés Segundo a direção do Parque Zoobotânico de Salvador, o objetivo da reforma em andamento é oferecer mais conforto para os animais e também para os visitantes - todos os anos, passam cerca de 480 mil pessoas por lá. Inicialmente, a capacidade do espaço não será ampliada depois que as mudanças forem concluídas.  

Em outubro do ano passado, o parque recebeu 47 novos jacarés-de-papo-amarelo. Os pequenos répteis foram frutos do relacionamento entre um jacaré macho e três fêmeas.

Os animais, que nasceram em fevereiro do ano passado, foram expostos ao público pela primeira vez no Dia das Crianças de 2017. Na época, cada um deles media cerca de 30 centímetros de comprimento. Eles podem chegar a dois metros, vivem aproximdamente 80 anos e recebem esse nome - papo-amarelo - porque, na época do acasalamento, costumam ficar com a área da papada amarela.

Embora sejam distribuídos em todo o Brasil, sobretudo no bioma de Mata Atlântica, a espécie  estava na lista vermelha da International Union for Conservation of Nature (IUCN) de espécies ameaçadas de extinção até dezembro de 2002, tendo como principais causas a perda de habitat natural e a caça predatória para o comércio ilegal de produtos e subprodutos.

O número de filhotes surpreendeu os biólogos e a coordenação do espaço, que já havia previsto no projeto de reforma a ampliação do tanque onde eles viviam. Essa ação já foi concluída, segundo a administração.