ONU em Piritiba

Por Eduardo Athayde

Publicado em 15 de agosto de 2017 às 02:05

- Atualizado há um ano

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Situada no Piemonte da Chamada Diamantina, com ares alpinos, a sedutora Piritiba inspirou Raul Seixas e Wilson Aragão, cantor e compositor nascido na cidade, que a imortalizaram na música Capim Guiné: “Plantei um sítio/ No sertão de Piritiba/ Dois pés de guataíba/ Caju, manga e cajá/ Peguei na enxada/ Como pega um catingueiro/ Fiz acero, botei fogo/ Vá ver como é que tá.

Banhada pelo Rio Jacuípe, que rasgou um canion para formar o Poço Feio, com bela praia, um dos pontos de lazer dos piritibanos, a cidade começou a ser desbravada em 1883 pelo coronel João Damasceno Sampaio a partir da Fazenda Cinco Várzeas, na época toda coberta pela Mata Atlântica. Suas terras, com novas técnicas agrícolas, confirmam o que disse Pero Vaz de Caminha, há 500 anos, “em se plantando, tudo dá”.

Conhecida pelas animadas festas de São João, charmosa, organizada e limpa, com cerca de 25 mil habitantes (IBGE), piritibanos residentes e os espalhados pelo país, reunidos em grupo de watszap, inovando como sociedade civil digital organizada online, decidiram, com apoio da prefeitura municipal, aceitar o chamamento da ONU e dar um passo largo para adotar, oficialmente, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - ODS 2030.

“Esta Agenda é um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade e foca as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental”, declarou o então secretário geral da ONU Ban Ki Moon durante o lançamento dos ODS em Nova York. “Ações ousadas e transformadoras são necessárias para direcionar o mundo para um caminho sustentável”, afirmou.

Acreditando que sonho sonhado junto vira realidade, a pequena Piritiba reúne, no próximo dia 18 de agosto, gente de peso de todo o país para lançar  o Piritiba 2030. Um hackathon - maratona de programação com objetivo de criar projetos de software e soluções tecnológicas para a gestão pública e servir melhor ao cidadão - está sendo realizado no evento, premiando, com  R$ 1 mil, o primeiro  lugar.

A sustentabilidade de resultados mostra que, com conhecimento disponibilizado via internet, a velha noção de “interior e capital” desaparece, cedendo lugar à visão de “ponto do planeta”. Conectado, qualquer um pode ter acesso a qualquer coisa, em qualquer lugar. Os ODS dependem da articulação de cidadãos e gestores locais para conscientização e mobilização. Entusiasmados com a iniciativa de Piritiba, coordenadores dos ODS acreditam que esse exemplo pode ser replicado em pequenas cidades do país.

Convidados da prefeitura chegam de todos os cantos. O superintendente da Sudene, a diretora de ensino superior do Ministério da Educação-MEC, o secretario de Inovação, Ciência e Tecnologia da Bahia, o reitor do Instituto Federal da Bahia - Ifba; a vice-presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia IGHB; a coordenadora da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), da Ufba, e o presidente da Fábrica de Florestas. Proprietários rurais e empresários rotarianos, interessados no desenvolvimento local sustentável, confirmaram presença - todos acreditando que podem fazer sonho virar realidade.

Somos todos feitos da matéria-prima dos sonhos, dizia Shakespeare, acreditava Raul Seixas e todos que estão construindo o Piritiba 2030. Durante o evento será lançada a Feira Literária de Piritiba – Flipi para divulgar a riqueza cultural da região do Piemonte da Chapada, inspirada na Feira Literária Flipelô, que acontece enquanto este texto está sendo escrito, no Pelourinho, colhendo letras que dançam livres para plantar aqui e estimular ações ousadas e transformadoras - como incentiva a ONU.

Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil