Os sapiens, a fofoca e o congresso nacional

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  • Armando Avena

Publicado em 3 de novembro de 2017 às 00:57

- Atualizado há um ano

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O Homo Sapiens, do qual todos nós descendemos, surgiu há cerca de 200 mil anos, destruiu todas as outras espécies “homo” e dominou o mundo. E fez isso, sobretudo, por sua linguagem única. A linguagem permitiu que os homens cooperassem, buscassem a sobrevivência juntos e, juntos, enfrentassem os grandes animais que habitavam o mundo. Outros animais também têm algum tipo de linguagem e, como o homem, avisam uns aos outros quando há perigo. Mas, a linguagem humana era muito mais versátil e servia não só para alertar contra o perigo, mas também para montar uma estratégia de enfrentamento ou de caça. 

A cooperação social foi quem fez o Homo Sapiens dominar o mundo. Mas essa luta para sobreviver unia poucos homens e os bandos só se tornaram maiores quando a linguagem evoluiu tanto que eles puderam “fofocar”, ou seja, falar sobre eles mesmos horas a fio e assim se conhecerem intimamente. A teoria da fofoca parece brincadeira, mas é aceita por grande parte dos pesquisadores, afinal até os dias de hoje o homem passa grande parte do seu tempo falando das pessoas próximas, reclamando de certo tipo de comportamento e elogiando outros e esse tipo de comunicação tem a capacidade de unir – brigando, fazendo as pazes e voltando a se unir – a família e pequenos grupos de homens e mulheres. 

A fofoca permite que os homens se conheçam intimamente e possam agir juntos, mas a capacidade de conhecer intimamente pessoas de um grupo e fofocar sobre elas, está limitada a no máximo 150 pessoas. Ora, sendo assim, nem a linguagem da fofoca, nem aquela usada para estabelecer estratégias de sobrevivência são capazes de unir milhares de pessoas em torno de um objetivo comum. Então, de que maneira os Sapiens conseguiram reunir esses imensos grupos para conquistar o planeta? A resposta está na ficção. O homem é o único animal que cria histórias sobre coisas que não existem e essas histórias são tão verosímeis que une milhares de pessoas em torno delas. 

Não poderia haver cooperação humana em grande escala baseada apenas na fofoca ou na comunicação necessária para a caça e, para que isso acontecesse, o homem precisou criar mitos e, contra eles ou em defesa deles, milhares de outros homens se uniram em grandes empreitadas que organizaram para guerrear ou colonizar o mundo. O código de Hamurabi, as tábuas que Moisés recebeu no Monte Sinai, o deus dos judeus e dos cristãos, os reis divinos, tudo isso são mitos criados pela inteligência dos Sapiens para assim se unirem em torno do objetivo de preservar a vida, os direitos de cada um, a propriedade e uni-los em torno de empreendimentos grandiosos, as vezes de razão duvidosa como as cruzadas, as pirâmides e outros realizados em nome de uma causa que era apenas uma ficção. 

Mas, vale lembrar, para que se envolvessem nisso, os homens precisavam efetivamente acreditar naquele no código, no deus, ou naquilo em que pactuaram.  A tese, extremamente original e exposta aqui de forma resumida, está o livro Sapiens – Uma breve história da humanidade, do escritor israelense Yuval Noah Harari, e mostra que os mitos – a crença em coisas que não existem ou não tem caráter tangível –  sejam eles religiosos ou não foi quem permitiu aos homens trabalhar em conjunto e dominar o mundo.  E não se trata apenas do passado, Harari diz que a Declaração dos Direitos do Homem, na Revolução Francesa, a Declaração de Independência dos Estados Unidos e mesmo a ideia de Democracia são mitos, criados pelo homem com o objetivo de ordenar a sociedade e proteger determinados valores que são mutáveis no tempo, e os homens acreditam nessa “ordem imaginada” até quando ela viabilize a existência de uma sociedade estável e próspera. Mas isso só funciona quando os homens acreditam verdadeiramente nessas ideias.

Esse talvez seja o problema do Brasil. Aqui, ao sul do Equador, adotou-se também a ideia de que o Poder Legislativo, o Congresso Nacional, é o local onde os anseios do povo devem estar representados, e que seus integrantes estão ali para defender os interesses do povo. Mas, infelizmente, os políticos brasileiros não acreditam no mito criador da Democracia, utilizam a casa do povo apenas para prover seus interesses pessoais, são, na verdade, políticos que ainda não atingiram o estágio “Sapiens”.

A Petrobras atinge o coração do polo

A Petrobras pretende aumentar o preço do suprimento de gás que fornece à Bahia Gás  e outras distribuidoras em montante muito acima da inflação. A estatal quer aumentar o preço total de venda do gás que destina a Bahia Gás em 11% em relação ao preço atual, quando a inflação acumulada está  em torno de 3%. Além disso, pretende aumentar em 40% o preço da molécula, que é um componente adicional, e aumentar o custo do transporte. O reajuste vai elevar o preço das empresas que utilizam o gás como insumo e que serão obrigadas a repassar aos consumidores. 

O aumento do preço do gás para uso industrial afeta diretamente o Polo Industrial de Camaçari e vai aumentar também o custo do gás residencial.  Utilizando sua condição de monopolista, a Petrobras está exigindo que qualquer excedente que a distribuidora utilize mais do que a quantidade contratada, tenha preço maior e se o consumo for maior que 110% do previsto haverá penalidades. As novas regras vão aumentar o preço do gás, afetando a indústria baiana que já vem sofrendo com o aumento do custo das matérias-primas. E vai sobrar também para os consumidores residenciais.

Cargos em comissão

Um dos elementos desestabilizadores do sistema político brasileiro são os cargos em comissão. Nos países da Europa, a quase totalidade dos servidores públicos são concursados e obedecem ao regime de meritocracia. Por isso, quando cai o governo, apenas os ocupantes do primeiro escalão perdem seus cargos, todos os demais permanecem em suas funções. Isso dá enorme estabilidade ao governo. No Brasil, ao contrário, quando cai o governo, milhares de ocupantes de cargos comissionados ficam desempregados. 

Considerando estados, municípios e União, o Brasil possui cerca de 800 mil cargos de livre nomeação do Presidente e governadores e prefeitos eleitos. Esse é um dos motivos porque a luta política é tão acirrada, especialmente na classe média que ocupa a maioria desses cargos, afinal, não se trata só de defender uma ideologia ou um candidato, trata-se da defesa do próprio emprego. Por isso, seria saudável para a democracia brasileira substituir gradualmente o contingente de cargos comissionados por servidores concursados.  

A extorsão das passagens aéreas

Entre junho e setembro, a alta nos preços das passagens aéreas chegou a 35,9%, segundo a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. E isso após as empresas aéreas brasileiras afirmarem que as tarifas iriam cair após passarem a cobrar pela bagagem transportada. Na verdade, o setor de aviação no Brasil pratica preços a seu bel prazer, é um cartel disfarçado que impede a competição e prejudica os brasileiros. É hora do governo federal pensar em implementar uma política de céus abertos, estabelecendo um mercado livre para a indústria aérea, onde diversos países, através de tratados, cooperam entre si e fornecem serviços aéreos em seus respectivos mercado. A política de céus abertos estimularia o turismo, aumentaria a competição e acabaria com o cartel, beneficiando os brasileiros.