Outros olhares: conheça 10 paisagens incríveis de Salvador que muita gente nunca viu

Esqueça um pouco os nossos cartões postais e descubra como a cidade pode ser linda onde você menos espera

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 29 de março de 2017 às 08:00

- Atualizado há um ano

A vista fica turva só de olhar para o céu. O sol ainda vai alto e faltam alguns graus para a terra completar totalmente o movimento de translação. Mesmo assim, a mais ou menos uma hora de o astro rei se pôr, o visual do alto da Vila Brandão já é incrível. “Vila Brandão? Onde fica isso?”, devem ter se perguntado parte dos que leram essas primeiras linhas. Pois vos digo que é possível afirmar sem medo: a vista da Vila Brandão é uma das paisagens mais espetaculares de Salvador. 

Tudo bem. Não faltam lugares famosos para exercitar o sentido da visão na capital baiana: seja na paisagem clássica do alto do Elevador Lacerda, na Praça Municipal, ou na imagem de cima da Colina Sagrada, no Bonfim; nos pores do sol a partir do Farol da Barra, do Museu de Arte Moderna ou da Ponta de Humaitá; no visual da Lagoa do Abaeté, do Largo do Pelourinho ou até da Enseada dos Tanheiros, na Ribeira.

Todos esses lugares estão na lista das paisagens mais vistas e visitadas por baianos e turistas. Mas, neste aniversário, se permita ter um outro olhar. Na verdade, outros olhares. Esqueça um pouco os nossos cartões postais e descubra como Salvador pode ser linda a partir de onde você menos espera. Visitamos diversas paisagens, todas desconhecidas da maior parte das pessoas, e escolhemos as dez mais espetaculares.

Pare! Olhe Escute! Além apreciar as fotos que mostram visuais exuberantes, curtam os nossos “timelapses” - vídeos com imagens aceleradas produzidos após um longo tempo de captação de imagens com a câmera parada. Vale muito a pena. Mais do que tudo, porém, experimente ir nesses locais. Nada se compara a, além de ver, sentir essas paisagens. Você vai enxergar Salvador de um novo jeito.  

1 - 2º Piso do Shopping LiberdadeSabe a Liberdade? O bairro mais negro do Brasil, nascente de arte, cultura e empoderamento afro-brasileiro, tem uma das vistas mais incríveis da cidade. Sobre a encosta que separa as cidades alta e baixa, o Shopping Liberdade é um dos mirantes mais espetaculares desta cidade. Dali é possível enxergar quase em 180º boa parte da orla da Baía de Todos os Santos. Da Ponta de Humaitá à Avenida Contorno. Também se vê a Calçada logo à direita, a Feira de São Joaquim bem à frente e as Docas à esquerda.

Ao longe se enxerga muito da cidade: a Igreja do Bonfim, a Ribeira, o Cantagalo, a Boa Viagem, o Terminal da França e os bairros da Massaranduba e do Uruguai. Não é à toa que muita gente fica ali no peitoril, nos fundos do Shopping, apreciando a vista. “Aqui não vem turista, não vem barão, não vem nem o pessoal dos outros bairros”, disse o guardador de carros Carlos Luiz dos Santos, 49 anos.

“Não sabem o que estão perdendo. Aqui é a melhor vista da cidade”, provocou Carlos, que vai ao local duas ou três vezes por semana só para “pensar na vida”. A visão do guardador é tão apurada que ele enxerga além das belezas. “Daqui de cima dá pra ver as coisas boas e ruins de Salvador. Olha aquele ferry boat. Todo acabado. Muita invasão também. Dá pra ver o quanto a cidade é pobre, né?”. A mesma vista do shopping se encontra em outros pontos do bairro, como em alguns bares que ficam nos fundos da Igreja de Cosme e Damião.

Visitação: De segunda a sábado, das 9h às 20h(Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)2 - Mirante de PlataformaDe repente, um carro para no meio da rua. O motorista avança sobre o meio fio, liga o pisca alerta e desce com a família inteira. Todos sacam os celulares e iniciamumaa sessão de fotos. “Eu não conhecia isso aqui, não. Passei descendo e achei incrível. Na volta resolvi parar”, disse o supervisor de loja Francisco Roberto do Carmo, 48 anos. A família de Francisco levou para casa imagens a partir de um elevado no bairro de Plataforma, no Subúrbio.

O elevado é um dos trechos da rua principal que dá aceso ao bairro e tem uma espécie de mirante de onde as pessoas podem ter uma visão única do Subúrbio de Salvador. Um amontoado de casinhas formam os bairros à beira mar. Debruçados sobre a água azul celeste, pincelada de dezenas de barquinhos e marisqueiras, Periperi, Paripe e São Thomé exibem uma beleza triste e convocam a uma reflexão social.

Francisco gostou tanto que decidiu tomar uma cerveja em uma barraca que fica na ponta do mirante, o único bar do local. “O pessoal vem de longe para tomar uma cerveja aqui apreciando a vista. Tenho cliente de Lauro de Freitas, do Garcia e do Campo Grande, por exemplo”, revelou Jaqueline Fonseca, 36 anos, dona da barraca. “Queria ter mais estrutura para atender o público. Ia atrair muita gente”, lamentou.  

Visitação: Domingo a domingo, gratuito  (Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)3 - Terraço do Cine Glauber RochaO poeta está ali, estático, à espera de mais um pôr do sol. Ao lado, basta atravessar a rua, está o prédio do atual Espaço Itaú de Cinema – o Cine Glauber Rocha, na Praça Castro Alves. Pouco a pouco, a cidade descobre uma paisagem que só era possível para quem  trabalhava no antigo Jornal A Tarde ou para os hóspedes do Hotel Rio Branco, que funcionaram em épocas diferentes no mesmo edifício, ao lado do Glauber, reformado em 2008.

Após a reforma, o terraço virou local de contemplação. Especialmente os jovens que estudam em escolas do Centro ou os frequentadores dos cinemas sobem para ver o espetáculo da natureza. Um cenário urbano, com o gigantesco edifício Sulacap, os carros descendo da avenida 7 e o prédio onde funciona o Palácio dos Esportes, e ao mesmo tempo bucólico, com o sol jogando sua luminosidade sobre as águas da baía.

“Completamente encantada. É incrível como essa cidade tem tantos lugares para ver tanta coisa bonita. A cada dia aqui descubro mais e mais”, disse a jornalista Elen Carvalho, 22 anos, paraibana que em breve vai morar aqui. Elen é uma exceção, dado o quanto é difícil encontrar visitantes de fora nesses locais desconhecidos. “Estou aqui há um ano e descobri essa maravilha. Aí quando ela chegou trouxe logo aqui”, explicou Tita Carneiro, 31 anos, amiga de Elen.

Visitação: Domingo a domingo, das 12h30 às 21h, gratuito(Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)4 - Capela de EscadaComo acontece com muitos pontos turísticos de Salvador, o local onde fica a capela de Nossa Senhora da Conceição de Escada, pouco conhecido dos moradores da capital baiana - e até do Subúrbio – mistura história, fé e uma paisagem deslumbrante. O templo, erguido possivelmente em 1536, é um dos mais antigos do país. Uma placa lateral indica a ocupação holandesa da igreja em 16 de abril de 1638 pela esquadra de Mauricio de Nassau.

Além de apreciar a história da capela e arquitetura do início do Brasil colônia, o visitante tem uma vista completamente diferente de todas as outras na Baía de Todos os Santos. De lá é possível ver a Praia Grande, os bairros de Periperi e Alto do Coutos, a Ilha de Itaparica e até as ilhas de Maré e dos Frades, que pertencem a Salvador. Espécie de guardiã da capela, Geovani Silva organiza a festa da padroeira, sempre no segundo domingo de setembro.

Sem a ajuda das autoridades, é ela que busca donativos da comunidade para preservar o local. A última reforma custou R$32 mil e incluiu a construção de um muro para impedir a entrada de ladrões. “Agora estamos mais seguros. Ainda nem pagamos metade da dívida. Esperamos que as autoridades nos ajudem”, diz Geovani, moradora do bairro de Periperi.  

Visitação: De segunda a sexta-feira, das 8h às 16h, sábado e domingo, das 8h às 12h, além de missas realizadas quarta-feira, às 17h, e domingo às 9h (Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)5 - Lagoa do CabulaVocê está em uma comunidade como outra qualquer em Salvador e de repente resolve entrar em um rua estreita. Eis que um mundo se abre. Como num passe de mágica, você parece estar em um cenário digno de Chapada Diamantina. O local é tão desconhecido que nem mesmo alguns moradores do bairro sabem de sua existência. A Lagoa do Cabula, claro, fica no bairro homônimo, escondida na comunidade da Timbalada.

Cercada por grandes paredões e mata atlântica, a lagoa é local de lazer da galera da Timbalada e outras localidades. “É uma maravilha que temos escondida. Apesar do aceso fácil, nem todo mundo conhece”, afirma Roudineli Conceição de Oliveira, 39 anos, vice presidente da Associação de Moradores do Cabula.

Um projeto feito pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), aprovado pelos moradores, deve urbanizar o local, que hoje conta apenas com uma ponte de restos de madeira improvisada, o que dificulta a visitação. Parte dos moradores, especialmente os que moram às margens da Lagoa, é contra a obra. “Existe essa divergência. Mas o projeto está aprovado e acredito que vai transformar o lugar em ponto turístico”, disse Roudineli.

Visitação: Domingo a domingo, gratuito(Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)6 - Vila BrandãoEm Salvador, uma vila de casas humildes dorme e acorda todos os dias com um paraíso à sua frente. Nos fundos da Igreja da Vitória, basta descer um beco à esquerda e você encontra a Vila Brandão, uma das vistas mais privilegiadas de Salvador. A Vila é conhecida pela tranquilidade. “Aqui não tem violência. Lugar de paz. Um vizinho ajuda o outro. Não tenho o que falar”, diz o agente de Limpeza Florisvaldo da Conceição Filho, 40 anos.

Do mirante construído na Vila se enxerga as embarcações do Iate Clube da Bahia e o monte onde está instalada a Igreja de Santo Antônio da Barra. Há quem defenda que o pôr do sol na Vila é mais bonito que o da Ponta de Humaitá ou Farol da Barra. “É uma dádiva morar de frente para essa benção que Deus nos concede. Pouco têm esse privilégio”, admite Florisvaldo.

Visitação: Domingo a domingo, gratuito(Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)7 - Igreja de Santo Antônio da BarraDo mar, para quem chega de barco guiado pelo Farol, a Igreja de Santo Antônio da Barra está ali, sempre imponente, no alto de um morro, com acesso em terra firme a partir da Ladeira da Barra. Pouca gente sabe, mas de lá é possível admirar uma vista exuberante de um dos trechos mais bonitos do nosso litoral. Da Igreja, por exemplo, você vai ver a praia do Porto da Barra de um jeito que nunca viu.

No cenário de cima, o Porto é um oásis quase engolido pelos prédios que nas últimas décadas de se ergueram no velho bairro. Ainda se vê também um pedaço de mata atlântica que igualmente resiste ao avanço do progresso. A igreja de Santo Antônio fica acima do Forte São Diogo.

Na outra ponta se vê o Forte de Santa Maria, outro marco de resistência histórica. “Você é baiano? De Salvador? Não conhecia essa vista aqui?”, indagou ao repórter, espantado, um dos frequentadores da igreja. “É lindo demais. Coisa de Deus”, observou padre Onofre Araújo, um mineiro que radicou-se na Bahia. “Essa terra tem muitas belezas particulares e escondidas”.  

Visitação: Terça a sábado, das 8h às 12 e das 14h às 18h  (Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)8 - São LázaroVenha pela Cardeal da Silva, na Federação, e entre na rua ao lado da Escola Politécnica da Bahia. Pergunte onde fica a Igreja de São Lázaro ou até Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Pronto, vão falar para você seguir pela Estrada de São Lázaro até o fim. O fim, na verdade, é um cenário incrível, com uma igreja e prédios históricos, resquícios de mata atlântica e uma paisagem do bairro de Ondina visto de cima, com o mar e a cidade em harmonia.

Estamos no Alto de São Lázaro, mais conhecido por ser um local de peregrinação do que pela santa vista. Na última segunda-feira do ano, uma das igrejas mais sincréticas de Salvador recebe gente de toda parte, católicos e integrantes do candomblé, para saldar São Lázaro e Omolu. Muitos nem se ligam que estão em um belo mirante da capital baiana.

Soteropolitanos não devotos não conhecem o point. A própria igreja também não está na lista dos locais visitados por turistas. “Mas aqui é deslumbrante. Vale a pena. Fico aqui na faculdade admirando essa vista. Despois desço e vou lá na igreja, de onde também se vê uma paisagem massa”, indicou o estudante Matheus Cardoso, 28 anos, que é ateu.

Visitação: Domingo a domingo, gratuito (Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)9 - Parque São BartolomeuChegamos ao Parque São Bartolomeu. De cara, uma cena curiosa. Dois jovens estão sentados no chão, saboreando com gosto uma jaca colhida e aberta na hora. O São Bartolomeu é assim. Além de jaca, tem cajá, manga, coco, dendê, abacate, jamelão, jambo e até ingá. O parque, desconhecido de boa parte da cidade, é um cenário de floresta bem no meio do caos da metrópole.

Entre o bairro de Pirajá e a Enseada do Cabrito, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Com grande biodiversidade, abriga quatro cachoeiras, manguezal e a barragem do Rio do Cobre. No início da trilha de cerca de um quilômetro, o melhor do lugar: a cachoeira de Oxum. No total, são três quedas d´água, dezenas de espécies de árvores nativas e uma fauna surpreendente para um parque no meio da cidade.

Se você der sorte, por exemplo, no final da tarde pode assistir a uma revoada de garças em um movimento migratório diário do mar para a mata. “Minha avó morava aqui dentro. Teve que sair quando reformaram o parque. Ouço muitas histórias dela e venho aqui sempre”, disse Mário Henrique Santos da Silva, 20 anos, um dos jovens que devoravam a jaca, bem na Praça de Oxum, onde foi colocada uma escultura de Bel Borba.

Visitação: Domingo a domingo (Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)10 - Parque das Dunas (Stela Maris)Bem no finzinho do bairro de Stela Maris, na divisa com a Praia do Flamengo, um oásis de 6 milhões e 400 mil metros quadrados é um dos cenários mais belos e diferentes da capital baiana. O conjunto de dunas com 12 lagoas perenes, fauna e flora diversificadas, parece escondida dos olhares dos soteropolitanos, apesar do tamanho gigantesco. Acompanhamos um lindo pôr do sol por entre os montes de areia e vegetação de restinga.

O Parque das Dunas é um dos maiores ecossistemas urbanos do país, o único que não tem investimento público. A Unidunas, uma universidade criada para proteger e preservar a área, é quem administra o local, que tem um mirante que fica em uma duna a 90 metros acima do nível do mar. “Salvador tem uma das maiores ‘dunas blue alt’, como são chamadas as dunas grandes de onde se vê o azul do mar”, explica Jorge Santana, diretor e criador do parque.

O Parque das Dunas se sustenta com as trilhas, momento em que são apresentadas aulas técnicas com noções de ecologia e sustentabilidade. Por isso, a visitação é cobrada, apesar de se tratar de um terreno público. Antes, as dunas estavam em área privada, mas uma luta de 25 anos de ambientalistas e pesquisadores transformou o espaço em área pública. Um decreto desapropriou as áreas para criar um parque ambiental com o conceito de educação, pesquisa e sustentabilidade. O lugar ganhou prêmio da Unesco como Reserva da Biosfera de Mata Atlântica (RBMA).

Visitação: Todos os dias, até as 18h, R$ 20 por pessoa (Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO) [[saiba_mais]]