Para Álvaro Assmar: blues no sangue e na vida

Senta que lá vem...

Publicado em 20 de dezembro de 2017 às 22:18

- Atualizado há um ano

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Eric e o pai, o guitarrista Álvaro Assmar, que morreu na última segunda-feira (18) (Fotos: Reprodução/Facebook) Acho que ainda não sei descrever essa sensação. Não sei se há como se preparar pra isso. É como se, a partir desse 18 de dezembro, tivesse nascido um "novo Eric", que nem eu mesmo sei quem é, como é, o que faz, como reage, etc. Aos poucos, precisarei ir conhecendo essa pessoa, convivendo com essa dor gigante da ausência física, do som da voz, do cheiro, das palavras.

Perdi meu melhor amigo, minha principal referência na vida. Quando criança, eu imitava esse cara! Queria ser como ele! Aprendi a amar a música com ele. A música se tornou minha razão e propósito de vida. Sem falar nos valores humanos, desse homem de hábitos simples, tão generoso, tão gentil e que tratava a todas as pessoas sem qualquer tipo de distinção. Estendeu a mão a tanta gente, sem cobrar nada em troca.

Justo, correto, humano e tão humilde. Um exemplo gigante de honradez, que tomo como um exemplo até o fim da minha vida. Me ensinou muito sobre tudo isso e sobre amor próprio, sobre acreditar em si mesmo e ser o seu maior fã. Tão amável e carinhoso com esposa, filhos, irmãos, pais, primos, amigos...

Ontem, durante seu sepultamento, ficamos todos muito emocionados com as inúmeras demonstrações de amor, homenagens, a um cara que só plantou o bem e cativou uma legião de pessoas.

Pioneiro e principal referência do blues aqui na Bahia, um idealista, um desbravador de terras, pavimentou uma estrada, lançou 6 discos, 2 DVDs, produziu e idealizou o Wednesday Blues (1999-2003), primeiro festival de blues realizado em teatro no Brasil, que trouxe vários grandes artistas do blues nacional para Salvador.

Esteve também à frente do Educadora Blues por quase 15 anos... Um programa de rádio tocando lançamentos de blues no Brasil e no mundo, em uma rádio pública, em horário nobre, por quase 15 anos! Sabem o que isso representa??? É um recorde nacional e uma ferramenta de difusão importantíssima da nova produção do blues, na cena nacional e internacional. Vários dos nossos colegas do blues brasileiro se solidarizam com a perda nesse momento, tive a oportunidade de falar com muitos amigos queridos.

Álvaro deixou muito amor aqui nesse plano. 59 anos. Vivia falando com entusiasmo da expectativa pelos 60, com os preparativos para o sétimo disco, o "Family And Friends", com a sua biografia, que está sendo escrita pelo queridíssimo amigo João Paulo Barreto, com shows comemorativos, etc. Esses planos precisarão ser concretizados.

A partir desse dia 18, esse novo Eric aqui não se conhece direito ainda, está completamente despedaçado e sem ainda entender direito de onde irá buscar forças, mas ele (cabeça dura, que nem o antigo) já tem uma certeza: ganhou uma nova missão de vida, que é a de concretizar esses planos e se empenhar ao máximo para honrar e manter vivo o imenso legado que esse grande homem deixou.

Meus amigos, nesse momento o que peço a vocês é que ouçam, vejam, cultuem, admirem, consumam, celebrem, homenageiem a vida e a obra de Álvaro Assmar. Todas as homenagens são bem vindas, certamente ainda faremos muitas delas, peço que todos os vários amigos do blues em todo o Brasil celebrem sua obra e mantenham para sempre essa chama acesa!

Agradeço muito por todas as incontáveis mensagens de amor e carinho, embora eu ainda não tenha conseguido ler tudo, e agradeço a todos vocês que foram ao Jardim da Saudade e tornaram essa despedida dele uma linda, grandiosa e emocionante homenagem, como esse homem merece! Deixo essa foto aqui, de um show dele em 02/02/1996, no Mercado Modelo (em Salvador). O cara não só colocou dois moleques de 5 e 8 anos (Eric e Vitor) sem qualquer experiência musical prévia para cantarem em seu primeiro disco, como também sempre convidava-os para participar de seus shows!

O caçula acabou topando a loucura e isso aconteceu inclusive nesse show aí, transmitido ao vivo pela TV Bahia (afiliada TV Globo) para todo o estado. Dá pra mensurar o tamanho desse amor?

Essa imagem me traz lindas memórias, pai. Eu tinha medo de olhar diretamente para a plateia e para câmeras, era uma criança extremamente tímida, olhava para meu pai como uma espécie de porto seguro, refúgio, "salvação", em meio àquele público imenso olhando diretamente para um guri de 08 anos com o coração acelerado e sem saber direito o que fazer.

Pai, esse meu olhar pra você representa um pouco do quanto eu te amo, do quanto sua presença me dava segurança e confiança, do quanto esse olhar se misturava com um profundo sentimento de admiração, de quem tomava você como uma referência.

Ainda criança, eu enxergava você como um super herói, um cara com mil poderes e eu sonhava um dia ser como você. A minha vida, minha história, minha personalidade, minhas preferências, escolhas, piadas, tudo isso está diretamente ligado à sua presença e ao nosso convívio.

E esse guri aí ainda vive com intensidade nesse Eric aqui beirando os 30, que se vê no momento mais difícil de sua vida. Gostaria muito de ter tido a oportunidade de me despedir, de pegar em suas mãos, olhar no seus olhos, dizer o quanto eu te amo e ver o seu sorriso besta logo em seguida.

Infelizmente, foi tudo muito súbito. Nosso amor é eterno e gigante, estarei sempre conversando com você, sentindo sua presença, celebrando seu legado e te defendendo a qualquer custo. Eu, Vitinho, Gisa, Adelmo, Sâmia, Jorgeth, Guió, sobrinhos, primos e amigos estamos unidos numa corrente muito firme, como você sempre gostava de ver. Família unida! Amo você pra sempre, meu pai. Um dia a gente se encontra.

Eric.

Texto publicado originalmente no Facebook e replicado com autorização.