Para Emanuelle e Emanuel

Senta que lá vem...

Publicado em 3 de dezembro de 2017 às 20:08

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: .

Fui eu o advogado que entrou com ação cível em favor da mãe e do pai de Emanuel e Emanuelle. Minha relação com a família se deu em razão de que, na época do fato, ela era minha aluna na faculdade de Direito.

Não ganhei um único real. Não cobrei. Apenas fiz uma petição de mais de 40 páginas, expondo os fatos e a responsabilidade civil da ré.

Não sou um palpiteiro. Isso significa dizer, como vocês devem imaginar, que, para fazer a inicial, eu tive que ler todo o processo penal (cópia integral nos autos cíveis), perícias, defesa, etc, etc... Várias vezes.

Depois, por questões absolutamente pessoais, substabeleci para outros advogados, o que me libera para fazer o comentário que eu quiser, dentro da ética.

Foi crime! Ponto.

Homicídio doloso, na modalidade dolo eventual. Não foi “acidente de trânsito”. Aliás, o simples fato de que ela já havia se desentendido com as vítimas (mortas) quilômetros atrás já é a evidência insofismável de que houve a perseguição. Não foi um choque casual, foi a consequência de uma perseguição, cujo resultado não foi planejado, nem desejado, mas era previsível e podia ter sido evitado. Assumiu o risco: Dolo eventual. Acho até cínica a tese de “acidente de trânsito.” Mas...

Ela perseguiu e jogou o carro sobre a moto, o que resultou na morte. Qualquer estudante de Direito mediano sabe que estou certo. Nem há divergência sobre isso, nem sobre o fato, nem sobre seu enquadramento.

Os leigos podem dizer a besteira que quiserem, médico falando de Direito é igual a advogado falando de cirurgia de crânio... Escreve o que quer, lê quem quer, mas daí a fazer sentido, são outros zilhões de quinhentos.

Para você que agora faz campanha por “justiça”, ambos queremos a mesma coisa. E teremos. Então, não há motivo para brigar.

Aos leigos e agora defensores dos “fracos e oprimidos”, pesquisem aí no Google (que da muito diploma de doutor) e verão que é indiferente se ela desejava o resultado morte. Na verdade, até acredito que ela não desejava, mas ela assumiu o risco, dai o dolo eventual, como estudante de terceiro semestre aprende na faculdade.

Ela não é uma “bandida”, “uma demônia”, “uma desgraçada que têm que morrer”. Longe de mim querer ou concordar com agressões à Sra. Katia ou à sua família. Aliás, isso também é criminoso.

Porém... ela é uma pessoa que, no momento de destemperamento, não calculou as consequências de uma ação. Sendo assim, no Estado de Direito, tem que responder por isso. O fato de não desejar o resultado não significa que não foi responsável por ele. Aliás, por isso mesmo ela está indo ao júri popular, após vários recursos.

Já é hora de parar o ciclo em que somente “preto” comete crime e responde por ele.

Essa classe média é muito engraçada... Impressiona como ela se une e se comove para acobertar “os seus”.

Não é pessoal, não é palpite, é ciência, é consciência, é justiça. Espero que ela se realize.

É meu desejo que os que se foram estejam num lugar melhor do que este. Também é meu desejo que os que aqui estão possam ter alguma paz, mesmo no meio de todo esse “inferno”, e que aprendam com este fato a controlar “seus próprios diabos”. Todos temos.

Bom domingo.

Texto originalmente publicado no Facebook