Paralamas lançam Sinais do Sim, 13º álbum de estúdio

Novo disco tem reggae, rock e canção da banda argentina Soda Stereo. Nando Reis compôs uma das músicas

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  • Roberto Midlej

Publicado em 21 de agosto de 2017 às 06:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Maurício Valladares

Já se passaram oito anos desde o lançamento de Brasil Afora e finalmente os Paralamas do Sucesso estão com um novo álbum de estúdio, Sinais do Sim, o 13º disco da banda - se não forem incluídos os registros ao vivo.

Mas, neste intervalo de oito anos, aquela que pode ser considerada uma das mais importantes bandas da história do pop rock brasileiro não parou: viajou o país para comemorar as três décadas de carreira de Herbert Vianna (guitarra e vocal), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria), que estrearam em disco em 1982, com Cinema Mudo.

Bi diz que a longevidade e a sintonia entre os integrantes da banda têm um motivo especial, além do respeito que os integrantes nutrem um pelo outro: o empresário José Fortes, que está com o trio desde o começo. “A gente tem confiança plena que ele toma conta de tudo. Então, isso evita desgastes entre nós. Ele faz a agenda, os contratos, cuida de questões financeiras e isso nos poupa de estresse. Muitas bandas brigam por isso”, diz. José Fortes é o empresário do Paralamas desde o início da banda (Foto: divulgação) Herbert Naturalmente, o ritmo de produção dos Paralamas mudou desde 2001, quando ocorreu o acidente com  Herbert, que continua a ser o letrista principal da banda. E, diga-se, é um milagre que continue compondo, afinal, devido aos danos causados pelo acidente de ultraleve, Herbert foi submetido a uma cirurgia no cérebro.

E em Sinais do Sim, ele mostra que continua muito hábil na guitarra. Nota-se isso logo na primeira canção, que batiza o disco, a única em que os três Paralamas originais aparecem sozinhos. As outras têm a participação de pelo menos mais um instrumentista.

“No ano passado, a gente andou fazendo uns shows paralelos aos nossos outros. Éramos só nós três no palco. Foram umas dez ou quinze apresentações só e a gente gostava de brincar com esse lado nosso com somente os três tocando”, diz Bi, comentando a presença somente dos três na primeira faixa, balada com pegada roqueira no melhor estilo paralâmico.

Entre um show e outro para comemorar as três décadas, a banda dava uma parada na casa de João Barone, para tocar, e ali iam surgindo as canções do novo álbum. As músicas “nasciam” com o trio, apenas com guitarra, baixo e bateria, e só na reta final ganhavam metais e teclados.

Para a produção do novo álbum, o trio escolheu um nome diferente daqueles com quem já havia trabalhado: Mario Caldato Jr., que foi produtor dos Beastie Boys e trabalhou com artistas internacionais como Beck e Bjork.  “A gente queria sair da zona de conforto. Havíamos gravado Brasil Afora com Liminha e a tendência era permanecer nesta zona. Mas queríamos um sopro de fora e João (Barone) sugeriu o Caldato. Demos carta branca pra ele”, conta Bi.

Voz Sinais do Sim é um álbum que, de certa forma, resume a história dos Paralamas, já que há ali muitos elementos que marcaram seus 30 anos. Tem o reggae, ritmo que sempre esteve ligado ao repertório deles; há uma canção em espanhol, que representa a aproximação que eles têm do mercado hispânico, e tem rock’n’roll no álbum, claro.

E, entre as marcas históricas do Paralamas, continua também a limitação vocal de Herbert, que é conhecida, mas nem por isso diminui a importância da banda. Bi diz que os três músicos sempre lidaram bem com isso: “Ele é só uma pessoa que canta nos Paralamas e que nunca quis ser cantor. Mas acho bacana porque ele canta com verdade”.

Mesmo com as facilidades dos programas de computador que suavizam as imperfeições da voz, Bi diz que não vê motivos para usá-los: “Acho que ficaria muito artificial mexer na voz de Herbert e Mário respeitou muito isso. Ele nem insistia para regravar. Para ele, o que importa é o conjunto, a espontaneidade”. Vale dizer que Bi, Barone e Herbert gravam a parte deles juntos, “ao vivo” no estúdio e só depois inserem os outros instrumentos.

Herbert, que continua como o letrista da banda, tem a contribuição de Bi e Barone na hora de compor as músicas. Das 11 canções, oito são originais dos Paralamas. Três outras faixas são de outros compositores: Não Posso Mais, de Nando Reis,  inédita; Cuando Pase el Temblor, sucesso da banda de rock argentina Soda Stereo, e Medo do Medo, da rapper portuguesa Capicua.

Medo do Medo, que é originalmente um rap tradicional, virou rock com os Paralamas. Bi conta que conheceu a canção por meio de Hermano Vianna, irmão de Herbert e pesquisador de música. “Ele mostrou para a gente e nos identificamos muito”.

O baixista tem razão, afinal a letra tem uma conotação social que muitas vezes lembra canções originais dos Paralamas, como Calibre e Perplexo. A canção fala sobre como o medo move a economia e como é um elemento que interessa a determinados setores, como as indústrias da farmácia e da segurança.

Em um dos trechos mais contundentes da longa letra, Herbert canta: “O medo paga à máfia pela segurança/ O medo teme de tudo por isso paga o seguro/ Por isso constrói o muro e mantém a distância”. A letra original passou por adaptações, devido às diferenças entre o português falado no Brasil e em Portugal.

América latina Cuando Pase el Temblor, da Soda Stereo, reaproxima os Paralamas do universo latino-americano, que eles conhecem muito bem, afinal, entre o fim dos anos 80 e início dos 90, a banda tornou-se muito popular em países como Argentina, Uruguai e Chile.

“Teve uma época em que, talvez, a gente tenha tocado mais na Argentina que no Brasil”, afirma Bi. O baixista diz que a gravação da canção do Soda Stereo foi uma forma de homenagear Gustavo Cerati (1959-2014), vocalista e guitarrista da banda, que passou quatro anos em coma, após sofrer um AVC no palco.

Bi acredita que o Brasil deveria ser mais receptivo com a música dos países vizinhos: “O Brasil produz tanta coisa que talvez a gente não consiga dar conta de ouvir nem a nossa própria produção. Por isso, talvez não os ouçamos como deveríamos”. Ele diz que os Paralamas ainda se apresentam na américa hispânica, mas não na mesma intensidade de 20 anos atrás, devido à crise econômica argentina.