Paul in Bahia!

Jorge Cajazeira, Ph.D, é vice-presidente da Cieb/Fieb e membro de fã- clube de Paul McCartney

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  • Da Redação

Publicado em 20 de setembro de 2017 às 11:06

- Atualizado há um ano

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Com 1,2 milhão de dólares de patrimônio, Paul McCartney é o artista mais bem-sucedido de todos os tempos. Com toda essa grana e aos 75 anos de idade, Sir Paul poderia estar curtindo sua aposentadoria como o maior ícone da música pop mundial. E, como todo ícone, McCartney já passou por situações que escapam à vida de uma pessoa normal. Ele vendeu centenas de milhões, tornou-se Sir (ou seja, um Cavaleiro do Império Britânico) e regularmente encabeça a lista dos artistas mais ricos do planeta. E, claro, integrou um dos melhores grupos de todos os tempos: o Wings. E os Beatles também - o melhor de todos os tempos.

A intenção de Paul em “se manter no jogo”, brigando de igual para igual no coração dos jovens com nomes pop como Miley Cyrus e Justin Timberlake, por exemplo, faz com que o rapaz da cidade operária de Liverpool continue sendo o centro das atenções. Essa áurea peterpânica e megalomaníaca paira sobre Paul há algum tempo e, ao assistir sua vitalidade no palco, é impossível não refletir sobre as diferentes formas de encarar a velhice - ou talvez a própria vida.

Paul é puro rock’n’roll. Tenho acompanhado seus shows pelo mundo afora e há pelo menos um par de décadas suas apresentações ao vivo começam da mesma forma: os telões exibem uma retrospectiva dos mais de 50 anos de carreira do músico, dos primórdios em Liverpool a acontecimentos recentes. Soa redundante - um dos maiores expoentes da história do rock deveria dispensar apresentações formais. Ao mesmo tempo, essa introdução cumpre sua função emocional, a de deixar claro que ali, naquele palco, se apresentará uma verdadeira lenda.

Ao tocar os primeiros acordes de Magical Mystery Tour – que em geral abre o show – a letra da música prediz o que serão aquelas próximas três horas de música “a viagem mágica e misteriosa / está vindo te levar embora”. Sim, meu rei, aperte o cinto e prepare-se para uma sequência espetacular de canções imortais que passam pela singela When I Saw Her Standing There (Meu coração fez boom, quando eu atravessei aquele salão), pela genial e enigmática Eleanor Rigby (todas as pessoas solitárias, de onde elas vêm? A que lugares elas pertencem?) até a mais bombástica de todas as canções atribuídas a Lennon e McCartney, na verdade só de Paul, uma daquelas canções que mudaram o mundo da música: Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Eles andaram entrando e saindo de moda/ mas, garantem levar um sorriso). Ademais, é impossível não se emocionar com as luzes e balões e o coro da esperançosa Hey Jude (não piore as coisas/ escolha uma música triste e melhore-a/ então você começará a ficar melhor). Que outro artista consegue  que um público de 60 mil pessoas cante, não só uma, mas todos os refrãos das suas canções em um idioma estrangeiro?

Sempre me perguntam quem foi melhor, Paul ou John. Inegável que Paul tem uma contribuição mais longeva e consistente à música popular mundial. Mas John se foi tão cedo e, mesmo assim, nos deixou clássicos como a belíssima e pacifista Imagine e o emocionante hino natalino, Happy Xmas, na sua fase pós-Beatles. Por isso, ninguém sabe onde ele poderia chegar. Juntos, como sabemos, na mais espetacular banda do mundo “mais famosa do que Jesus Cristo”, nas palavras distorcidas de John, compuseram melodias e letras de arrepiar. Paul trazia o otimismo a cada verso depressivo de John e o mundo assistiu encantado a um espetáculo de criatividade que nunca mais se repetiria. E, com Paul ainda na estrada, o legado de Lennon e McCartney se mantém inigualável, ainda que o séquito de imitadores não pare de crescer.

Bem-vindo Sir Paul à terra de João Gilberto, Gil e Caetano. Capital brasileira da música popular brasileira.