Pedra de Xangô, em Cajazeiras, era sinal de liberdade para escravos

Ela será tombada hoje como patrimônio da cidade de Salvador

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  • Thais Borges

Publicado em 4 de maio de 2017 às 05:31

- Atualizado há um ano

Fenda era utilizada por escravos para fugir(Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)  A Pedra de Xangô, que será tombada nesta quinta-feira (4), é um marco da resistência das religiões de matriz africana. Segundo o agbagigan do Terreiro do Bogum, Everaldo Duarte, ela representa também a libertação dos negros que foram escravizados na região.

“Ali é um divisor, um limite de terras. Havia uma concentração de senzalas de um lado e a pedra separava a liberdade. Muitos escravos conseguiam passar por aquela fenda na pedra”, explica ele, que reforça que a Pedra representou a passagem de cativos para um espaço livre. Além disso, ali está Xangô.

“Para nós, ele é o orixá que faz justiça para as pessoas. Ele mora ali, como um dos palácios dele. Ele é onipresente, mas, ali, ele tem uma força que ele dedica às pessoas que fugiam”, conta. Para ele, o local representa tranquilidade e paz. Ali, às margens da pedra, Duarte explica que os candomblecistas acreditam que têm um espaço com a proteção de Xangô.

Para a ialorixá Mãe Iara de Oxum, do terreiro Ilê T’ Omím Kíósísé Ayó, em Cajazeiras 11, a Pedra de Xangô representa sua fé e sua ancestralidade. “É o ar que eu respiro. Nossos ancestrais vieram em um navio negreiro e foram escravizados, mas, mesmo assim, preservaram nossa religião. Eles resistiram e lutaram”, afirma.

Ali, em Cajazeiras, também existiu um quilombo - era o Quilombo do Orobu. Naquela época, a mata fechada ainda circundava a pedra. Um rio também passava por ali. “Quando cheguei aqui, em 89, ainda existia o rio. Em 2004, com as obras da (Avenida) Assis Valente, o rio secou. E a Pedra ficou exposta”, lembra ela. Foi quando sua luta começou - inicialmente com a Caminhada da Pedra de Xangô, cuja primeira edição foi realizada em 2010.