Percpan celebra a percussão com encontros entre Bahia, Pernambuco e Cuba

Com Lenine e Omara Portuondo entre destaques, evento gratuito acontece no Largo da Mariquita

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  • Da Redação

Publicado em 30 de outubro de 2017 às 06:01

- Atualizado há um ano

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Maior festival de música percussiva do país, o Percpan - Panorama Percussivo Mundial continua a promover encontros em torno das sonoridades e ritmos oriundos dos batuques. O evento, que chegou a ganhar uma edição em janeiro deste ano com shows no Teatro Castro Alves e no Terreiro de Jesus, volta a acontecer neste fim de semana, com apresentações gratuitas no Largo da Mariquita, no Rio Vermelho. Na sexta-feira, o cantor pernambucano Lenine repete a parceria com Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz e volta a Salvador com o concerto que apresentou em 2014 no TCA. “Tocar com a Orkestra Rumpilezz é sempre uma estreia. Não faz diferença se é ao ar livre ou indoor, porque é sempre impactante e carregado de ancestralidade. Além disso tudo, é 0800 e eu adoro quando o espetáculo é gratuito”, comenta Lenine. Este ano, o Percpan tem patrocínio da Petrobras e da Prefeitura de Salvador. Além de integrar a grade da primeira noite, o pernambucano, que é também o homenageado da edição, atuará como mestre de cerimônias das duas noites. Adoro exercitar “a ponte”. Com a Rumpilezz existe uma grande diferença com relação a outras orquestras. Letieres tirou a percussão do fundo da orquestra, tirou da cozinha e colocou no centro do palco. Tudo soa diferente! - LenineAinda na sexta, sobem ao palco o rapper baiano Baco Exu do Blues, que apresenta pela primeira vez em Salvador o seu bem-sucedido disco de estreia Esú, e o projeto social carioca Brazillian Piper, uma banda de gaiteiros de fole formada por mais de 30 integrantes.  A cantora cubana Omara Portuondo, 87 anos, encerra 22º Percpan no sábado (Foto: Divulgação) Estrela do encerramento do Percpan no sábado, a cubana Omara Portuondo é também uma das atrações mais esperadas do evento.  Aos 87 anos, a cantora que ficou conhecida mundialmente por ser a única voz feminina do cultuado projeto Buena Vista Social Club, apresenta músicas dos seus discos mais recentes, especialmente Gracias, premiado com o Grammy Latino.Brasil e Cuba são países irmãos, com muitas coisas em comum: do amor à música, à cultura, às influências. Tem sido um prazer trabalhar com grandes nomes da música brasileira, como meus amigos Maria Bethânia, Chico Buarque, Carlinhos Brown. Estou muito grata por mais esse convite - Omara PortuondoNão ficarão de fora, no entanto, sucessos como Veinte Años, Dos Gardenias, Magia Negra, nem canções presentes no DVD Omara Portuondo e Maria Bethânia (2008), trabalho que deu uma visibilidade ainda maior a Omara no Brasil. Antes de Omara subir ao palco, haverá o encontro entre o grupo Bongar, de Olinda, e a Santeria Cubana e também as apresentações dos grupos baianos Ilê Aiyê e Dão e a Caravanablack. Para a idealizadora do festival, Beth Cayres todos os artistas envolvidos nesta edição “dialogam com a cultura de matriz africana”. “O PercPan vem historicamente criando, também, um ambiente de troca de saberes em torno da arte da percussão. Essa troca está no DNA do festival”, destaca.Diálogos Segundo o produtor musical Alê Siqueira, responsável pela direção artística do Percpan, nesta 22ª edição o evento abriu mão da divisão das noites por temas. “As grandes linhas deste ano são a democratização do festival, que volta a ser realizado exclusivamente na rua, a ênfase na produção musical baiana e a contínua busca por interseções de sonoridades, pela promoção de encontros e pela interação cultural”, destaca. Talvez a paixão de Siqueira pela produção musical cubana e do Nordeste brasileiro, sobretudo da Bahia e de Pernambuco, justifiquem a escolha das atrações, que em sua maioria têm conexão com algum desses aspectos. “O grande barato da minha vida é pesquisar essas coisas”, ressalta. Para Swami Jr, diretor musical de Omara Portuondo há 13 anos, “a percussão é o coração da musicalidade” brasileira e cubana. A opinião é compartilhada por Lenine, que passou longe de “puxar sardinha” para seu estado de origem. “O que conheço do Brasil, até agora, só reafirma o quanto em cada região a percussão é fundamental, cada qual com seu sotaque. Em alguns lugares mais diversidade do que outros mas o ritmo esta sempre lá”, pondera. Grupo Bongar, de Olinda, recebe como convidados músicos da Santeria, principal religião afro-cubana (Foto: Divulgação) Alê Siqueira, que já produziu sete álbuns em Cuba - o mais recente deles da cantora Eme Alfonso -, diz que as semelhanças entres as músicas dos dois países são muitas: “temos a mesma genealogia, somos todos parentes. E isso se explica também historicamente, por conta do tráfico negreiro”, recorda, ao enfatizar as conexões entre o Bongar e a Santeria, que realizam um trabalho de resgate da religiosidade africana através dos batuques e se apresentam juntos no sábado.Experiências Para quem estranhou a presença de um rapper em um evento que celebra a percussão, não há nada de diferente nisso. Em edições anteriores, o Percpan trouxe a Salvador nomes como Mano Brown, Marcelo D2 e Simples Rap’ortagem. “A base do rap é o ritmo e a poesia. Baco é um MC, rapper da nova geração baiana e uma das coisas mais interessantes da cena. A presença dele na grade vai ao encontro do conceito do Percpan”, ressalta Siqueira. Rapper soteropolitano Baco Exu do Blues lança álbum que bebe nas sonoridades percussivas do maracatu e do candomblé durante o Percpan (Foto: Victor Carvalho/ Reprodução/ Instagram) Além dos shows, o Percpan promove uma mesa-redonda sobre Ética e Integração Cultural na Música. Participam do debate o maestro Letieres Leite; o cantor e compositor Dão; o sociólogo e músico Jorge Hilton; a antropóloga Goli Guerreiro; Fabrício Mota, músico, historiador e professor; Nelson Macca, professor de literatura e poeta e  Alê Siqueira, produtor musical e curador do PercPan.  Com entrada gratuita, o encontro acontece na manhã de quarta-feira, às 11h, no Auditório da Faculdade de Comunicação da Ufba, em Ondina. “Fiquei muito instigado em mergulhar nessa questão por conta inclusive das polêmicas sobre apropriação cultural que tomaram conta das redes sociais. É uma questão que está intimamente ligada à história cultural nacional. Acredito ser pertinente chamar uma turma que sabe muito do assunto para discutir isso em um festival que tem como vocação maior esse intercâmbio”, comenta Siqueira, que também ministra na quarta, às 16h, uma oficina de produção musical para crianças do projeto Rumpilezzinho.

PROGRAMAÇÃO MUSICAL3 de novembro (sexta-feira) LOCAL: Largo da Mariquita - Rio Vermelho   Mestre de Cerimônia: Lenine 19h30 - Brazilian Piper 20h30 - Baco Exu do Blues 21h30 – Letieres Leitte & Orkestra Rumpilezz e Lenine Aberto ao público  4 de novembro (sábado) LOCAL: Largo da Mariquita - Rio Vermelho   Mestre de Cerimônia: Lenine 19h - Ilê Aiyê 20h – Dão e a Caravana Black 21h - Bongar e Santeria Cubana 22h - Omara Portuondo Aberto ao público