Perereca de Jorge Amado

Elieser Cesar é jornalista e escritor

  • D
  • Da Redação

Publicado em 13 de janeiro de 2018 às 03:30

- Atualizado há um ano

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Que Jorge Amado entendia de perereca, poucos leitores duvidam. Porém, se há ainda alguma dúvida, basta apenas folhear a obra do escritor baiano e mais popular do Brasil. Nela pululam, lúbricas, oferecidas, recatadas, à mostra ou defendidas com zelo de beata, um sem número de pererecas, a começar pelas de Gabriela e passando por Dona Flor, Tieta e Tereza Batista, sem contar a variedade ofertada no Bataclan, o famoso cabaré de Ilhéus, dirigido com competência, autoridade e carinho maternal por Maria Machadão, no romance Gabriela, Cravo e Canela.

A essa fauna numerosa e perseguida pelos coronéis, boêmios e intelectuais da obra de Jorge Amado vem se juntar, agora, uma simpática perereca, também desdentada, mas menos perseguida do que aquelas do cardápio amadiano, porém, com poder de sedução para atrair zoólogos, biólogos e ambientalistas e outros estudiosos da natureza. Trata-se de uma rãzinha descoberta em 2015, em Una, na região cacaueira da Bahia, um dos pontos cardeais da geografia literária de Jorge Amado.

Numa homenagem que não deixa de ter um ingrediente rocambolesco, a nova espécie de perereca foi batizada de Phyllodytes amadoi, em homenagem ao escritor baiano que era apreciador de anfíbios, como, aliás, anfíbios são muitos de seus personagens, como os velhos marinheiros, mestres no mar e safos na terra. De fato, Jorge Amado gostava desses simpáticos bichinhos, lentos na terra e ágeis na água. Tanto que quem visitar o Memorial Jorge Amado, em Salvador, encontrará vários objetos relacionados a anfíbios.

A rãzinha ganhou seu pomposo nome científico, mas no imaginário popular já é conhecida como “A Perereca de Jorge Amado”. Muitos curiosos andam perguntando como é A Perereca de Jorge Amado. Pequena. A Phyllodytes amadoi mede apenas dois centímetros. Não enche a palma da mão, mas tem os seus encantos e atavios. O principal deles é um canto agudo que despertou a atenção dos pesquisadores durante o estudo realizado desde 2015 pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), no sul da Bahia, com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

Além disso, deve-se acrescentar, diferentemente das pererecas que povoam a imaginação dos leitores solitários (e mesmo dos acompanhados) dos romances do escritor grapiúna, a Perereca de Jorge Amado tem um focinho arredondado e uma listra que vai dos olhos aos flancos. Portanto, não é uma perereca qualquer, pois nenhuma das que apimentam os livros do escritor tem características semelhantes. São bem maiores, mas sem as cores tropicais e o secreto encanto da Phyllodytes amadoi. Em comum, a umidade que  desprende das duas espécies de pererecas. Nas primeiras quando saracoteiam nas alcovas. Na rãzinha tão logo salta dos charcos.

A perereca amadiana foi encontrada na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Ararauna, região rica em bromélias. É ali, camuflada na vegetação que ele gostava de estar, como, aliás, a perereca de um gênero também camuflado na vegetação.

Para a alegria dos leitores e apreciadores da obra do escritor no mundo todo, se espera que A Perereca de Jorge Amado acabe exposta na Casa do Rio Vermelho em meio a tantos objetos menos inusitados que remetem à obra amadiana.

Elieser Cesar é jornalista e escritor