PF conclui que áudio não foi editado e que interrupções são características do aparelho

Um perito afirmou ao Estado que o modelo do aparelho de gravação usado efetua os cortes em momentos em que há silêncio

Publicado em 25 de junho de 2017 às 10:14

- Atualizado há um ano

A Polícia Federal concluiu que o áudio da conversa gravada pelo empresário Joesley Batista com o presidente Michel Temer, no dia 7 de março, no Palácio do Jaburu, não foi editado ou adulterado. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que o laudo sobre a gravação aponta para mais de cem interrupções, mas que nenhuma delas foi causada por agente externo ou realizada posteriormente à gravação.

De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, a perícia realizada no Instituto Nacional de Criminalística relaciona as interrupções ao gravador usado pelo empresário do Grupo J&F, do qual faz parte a JBS.(Foto: EBC)Um perito afirmou ao Estado que o modelo do aparelho de gravação usado efetua os cortes em momentos em que há silêncio. A ação espontânea do gravador tem como finalidade economizar bateria e espaço na memória do aparelho, mas não tem condições de alterar o áudio. Ainda segundo fontes ouvidas pela reportagem, o software usado pelos peritos tem a capacidade de separar todos os sons captados pelo gravador e separá-los por faixas. A partir dessa técnica, disse um perito, foi possível até melhorar a qualidade de alguns trechos inaudíveis.

O áudio da conversa de Joesley com Temer deu início à negociação de delação premiada dos acionistas e executivos da JBS. Após a revelação da gravação, o presidente disse que o áudio havia sido adulterado. “Essa gravação clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos e incluída no inquérito sem a devida e adequada averiguação”, disse Temer, em pronunciamento dois dias após o áudio ser tornado público pelo Supremo Tribunal Federal.

A defesa do presidente contratou um perito para analisar o material, que afirmou que a gravação era “imprestável”. Após pedido da defesa do peemedebista ao STF e também do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o áudio foi encaminhado à Polícia Federal para a realização de perícia. A PGR não havia periciado o áudio antes de pedir a abertura de inquérito contra o presidente. A expectativa agora é de que a perícia seja incluída na denúncia que será oferecida por Janot contra Temer na semana que vem.

Na quinta-feira, 22, o criminalista Antônio Claudio Mariz de Oliveira, responsável pela defesa de Temer, afirmou, em São Paulo, que será difícil pedir a anulação do acordo de colaboração premiada de Joesley caso a perícia não mostrasse adulteração na gravação da conversa do empresário com Temer. “Aí preocupará”, disse Mariz, quando perguntado sobre a possibilidade de o laudo da Polícia Federal não mostrar adulteração.

A perícia no áudio gravado por Joesley era aguardada por procuradores para a apresentação da acusação formal contra Temer. O presidente é investigado pelos crimes de corrupção passiva, obstrução da Justiça e organização criminosa. Uma parte da conversa questionada pela defesa de Temer é considerada crucial para imputar ao peemedebista a acusação de obstrução da Justiça.

Na conversa no Jaburu, Joesley indicou realizar pagamentos ao deputado cassado Eduardo Cunha e ao corretor Lúcio Funaro para evitar que os dois assinassem um acordo de colaboração com a Lava Jato. Joesley disse que “zerou” as “pendências” que possuía com Cunha e passou a manter um bom relacionamento com o deputado cassado. Temer respondeu: “Tem que manter isso, viu?”, ao que Joesley diz: “Todo mês”. Por causa da má qualidade do áudio, a perícia é peça importante para confirmar que não houve edição neste trecho da conversa. Para a PGR, este trecho do diálogo mostra que Temer anuiu com a obstrução da Justiça.