‘Plantar árvores é fazer amigos’, diz médico que mantém projeto de arborização

Gaúcho radicado em Salvador, Mário Amici criou a Associação Amigos Pelo Itaigara. No seminário Cidades, ele compartilhou sua experiência com a plateia

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  • Saulo Miguez

Publicado em 31 de agosto de 2017 às 10:21

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/Correio

Nos painéis do seminário Cidades, no Agenda Bahia 2017, o público que lotou o auditório da Fieb, na tarde de ontem, ouviu histórias de pessoas que, motivadas pela vontade de fazer o bem, transformaram vidas. Empreendedores sociais que resolveram não esperar o estado para mudar o curso das coisas ao seu redor.

As pessoas se emocionaram com a trajetória do médico gaúcho Mário Amici. Morador do Itaigara, Amici, enquanto lutava contra um câncer, arborizou boa parte do bairro, criou espaços de convivência e deu início à Associação Amigos Pelo Itaigara (Apita), que promove educação ambiental e integração entre os moradores.

O dono do apito

Há sete anos, em uma manhã de domingo, Amici dava banho na filha quando o silêncio foi interrompido pelo som ensurdecedor de um motosserra. Assustado, ele desceu até o local onde uma árvore era derrubada.

“Aqui você não apita nada!”, disse um dos homens que derrubavam as árvores. O apito de Amici, no entanto, não ficou mudo diante das ameaças e num rompante, ele decidiu criar a associação. Meses depois, sonhou com a mãe o diagnosticando com câncer. A doença foi detectada e o cirurgião teve que repensar a vida.

 “Naquele momento, duas coisas me incomodaram. A primeira foi imaginar a minha mãe me enterrando e a outra o fato de não ter deixado nenhum legado para minha filha. Daí, resolvi plantar mais árvores”, lembrou.

Nem a burocracia o impediu de lançar suas sementes. Ele levou um ano para conseguir o alvará de permissão para plantar as primeiras mudas sobre as calçadas do Itaigara. “O técnico que me deu o documento disse que em 20 anos nunca havia encontrado ninguém que quisesse plantar árvores”, contou, para a surpresa da plateia.

As árvores plantadas pela Apita geram frutos que brotam em todas as estações. Mário Amici contou que um dia viu duas pessoas conversando à sombra de uma árvore plantada por ele. “Ali percebi que plantamos árvores para fazer amigos”.

Outras Histórias

A ativista Lívia Suarez também dividiu com o público a sua experiência. Criadora do projeto La Frida, que dentre as ações ensina mulheres negras a andar de bicicleta, Lívia contou que já ajudou mais de 100 mulheres a realizar o sonho de passear sobre duas rodas. “É uma forma de aflorar o empoderamento”, disse.

Lila Lopes, também compartilhou com o público um pouco do que aprendeu à frente do Instituto Íris. A organização promove ações de leitura e prática esportiva em bairros carentes de Salvador e os alunos atendidos já trouxeram medalhas paralímpicas em competições de remo.

Nos painéis abertos ao público foi apresentado ainda como o município mineiro de Santa Rita do Sapucaí se transformou em um dos principais polos tecnológicos e industriais da América Latina.

O consultor Paulo Bicalho explicou que a transformação da cidade só foi possível graças à integração entre o poder público, educação e os empresários. “Foi um movimento de convergência, porque para ter efetividade os elos não podem trabalhar isolados”, disse.