Por nosso pais, estamos aqui

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  • Darino Sena

Publicado em 8 de agosto de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Porque a vida não é exatamente como a gente quer, eu só fui duas vezes ao estádio com meu pai. Foi inesquecível, mas foi pouco. Muito pouco. Imagino quantas histórias poderíamos ter compartilhado. Quantos bons momentos deixamos de viver juntos. Quantos abraços perdemos. Quanta emoção deixamos passar... Uma pena.  

Mesmo assim, meu pai, goleiro amador, amigo de ex-jogadores profissionais, torcedor dos Fluminenses (daqui e do Rio) e do Vitória, foi fundamental pra eu ser um apaixonado pelo futebol. Um amor que norteou minhas escolhas, minha carreira, ajudou a formar meu caráter e minha personalidade. A definir quem eu sou. Serei eternamente grato, a meu pai e ao futebol. Não sei o que seria de mim sem essa dupla.

Na maioria das vezes, a paixão pelo futebol nasce de pai pra filho, ainda criança. Em simples e pequenas coisas. Quando a gente senta do lado do velho pra assistir a um jogo na televisão e, ao ver as reações dele, começamos a entender que aquilo é muito mais do que 22 pessoas correndo atrás de uma bola. Quando pegamos a chuteira do coroa escondido, mal conseguimos nos equilibrar nela, mas nos sentimos craques, mesmo jogando sozinho na laje de casa. Quando folheamos a Placar que ele deixou esquecida num canto. Quando “roubamos” o jogo de botão oficial dele, “de osso”, pra tirar onda com os amigos na escola. Ou voltamos pra casa ouvindo um jogo no rádio, com ele ao volante. A gente nem sabe, talvez nem ele: mas ali, naqueles momentos aparentemente banais, o pai ensina o filho a amar o esporte. Generoso, geralmente o futebol retribui criando ou reforçando os laços de amizade, cumplicidade e companheirismo entre pai e filho, ou filha.

Laços que ajudam a entender o tamanho da dor de Abel Braga. E a explicar por que o mundo do futebol foi tão solidário com o técnico do Fluminense, que perdeu o filho João Pedro, de apenas 19 anos, há 10 dias – João passou mal e caiu da janela do prédio do apartamento da família, no Rio de Janeiro.

Quem ama o futebol foi incapaz de não se solidarizar com Abel, de não sentir a dor dele, de não querer abraçá-lo, confortá-lo e até chorar por ele. Um sentimento capaz de fazer um estádio inteiro bater palmas pra Abelão, ainda que aquela não fosse a casa dele – viva a Ilha do Retiro, salve o Sport Recife!

É que nós, personagens do planeta bola – torcedores, cronistas, jogadores, treinadores, dirigentes, árbitros, etc. –, independentemente de preferências clubísticas, de certa forma, sabemos que só estamos ali por causa de gente como Abel – nossos pais. Em sua tragédia pessoal, Abel acabou, simbolicamente, virando o pai de todos nós.

A ferida de Abel nunca vai cicatrizar. Quem é pai sabe disso. Mas o carinho dos “novos filhos” , segundo o próprio treinador, deu-lhe forças pra voltar à labuta, apenas dois dias depois da terrível fatalidade. “Eu perdi pra morte. Não vou perder pra vida”.  

Domingo é Dia dos Pais. Se você é filho, não deixe de dar um monte de abraços e beijos no seu. Se você é pai, continue ajudando o futebol – não deixe de alimentar seu guri ou sua guria com esse amor. Se você é torcedor, não esqueça de dizer a seu pai: muito obrigado. Se seu pai não está mais aqui, agradeça assim mesmo. Ele ainda está torcendo pro grande time da vida dele: você.* Darino Sena é jornalista e escreve às terças-feiras