Pra que corda? Conheça sete grandes pipoqueiros do Carnaval da Pipoca

O CORREIO selecionou grandes representantes das maiores pipocas do Carnaval de Salvador

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 1 de março de 2017 às 06:45

- Atualizado há um ano

É, pai! O Carnaval esse ano foi pipoco! Quer dizer, pipoca! Na moral, lindo de ver a rua sendo ocupada por quem quer se divertir e viver suas fantasias sem gastar um real. Gente como Paulo, Fábia, o casal Isaías e Maiara, Aneilton, Marcelo, Arlan e Léo Fissura. Escolhemos os sete, gente que tem a alegria no coração, o Carnaval no sangue e a pipoca na mente, como os representantes das maiores pipocas da festa.    

Desde o Furdunço e o Fuzuê, a pipoca mostrou que tava com a corda toda. Os blocos ainda marcaram presença. E vão continuar marcando. Têm suma importância. Mas, como não se emocionar com as passagens de Armandinho, Dodô e Osmar, novamente essenciais? E Saulo? Mostrou que apostou certo ao fazer o novo axé para o povão ver.

O Psi e o Kannário trouxeram as comunidades periféricas para as ruas do Centro e da Barra. Sem cordas! “A favela invadiu a Orla. O comando agora é nosso”, disse o Príncipe do Gueto. Daniela, sempre ela! Desde novinha, já estrela dos blocos, fazia questão dos trios independentes. Esse ano pipocou de vez.

Teve também Brown, Ivete, Timbalada, Moraes Moreira, Baby, Léo Santana. Anos atrás, em uma das suas músicas, a Baiana System, aliás uma das pipocas mais alucinantes da festa deste ano, perguntou: “Como serão os futuros Carnavais?”. A resposta começa a ganhar fundamento. E ela tem a ver com a pipoca.

- Pipoca de ArmandinhoPaulo Cavalcante, 58 anos, engenheiro

No chão, com guitarra em punho para imitar o ídolo, o engenheiro Paulo Cavalcante, 58 anos, acompanha há mais de 30 a pipoca de Armandinho, Dodô e Osmar. Nada é mais democrático no Carnaval da Bahia, acredita. Para Paulo, a pipoca é o fundamento da alegria. Sem ela, o Carnaval não se sustenta. E Armandinho, diz ele, seria o resumo dessa folia acessível a todos. “Pipoca é a essência do Carnaval. É nela que está a espontaneidade. Todo mundo hoje quer ser pipoca. Que bom! Pouco tempo atrás todo mundo queria sair em bloco. Mas descobriram que a graça tá na pipoca”. Por isso, usando a música carro-chefe de Armandinho esse ano, Paulo se perguntou: “Pra quê corda?”.(Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)

- Pipoca de SauloFabia Martins, 37 anos, engenheira de produçãoÉ segunda-feira de Carnaval e Saulo invade a Passarela do Campo Grande. Carregando uma multidão apaixonada, ele está visivelmente feliz. Afinal de contas, seus planos de baixar as cordas deram certo. A engenheira de produção Fábia Martins, 37 anos, viu esse sonho se concretizar. Acompanha Saulo na pipoca desde que ele entrou na Banda Eva. Do lado de fora das cordas, comemorou quando o cantor começou a desfilar em trios independentes, o que teria feito crescer, e muito, o seu público. “Ele tem cada vez mais fãs”. A pipoca de Saulo, diz Fábia, é inclusiva e tem espaço para todos. “Como artista, Saulo é inigualável. É difícil não gostar dele. Por isso na pipoca dele tem todo tipo de gente”.(Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)

- Pipoca do PsiricoIsaías Santos, 22 anos, e Maira Marques, 19

A batida é segura e o ritmo é forte. Como uma onda, o arrastão do Psi passa deixando rastros. Um desses rastros é o casal Isaías Santos, 22 anos, e Maira Marques, 19. Eles se abraçam para tentar se equilibrar entre foliões, isopores de ambulantes, calçada e a pista. Assim é a pipoca. Isaías e Maira foram atrás do Psi em todas as saídas neste Carnaval. A opção é sempre a pipoca. Sem problemas. Eles já têm a manha. “O negócio é usar a gentileza e a educação. Tem que entender que é Carnaval”, ensina Isaías.(Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)

- Pipoca do KannárioAneilton Ventura, 20 anos

O gueto pula e dança em um só ritmo. Alucinada, a multidão naquele momento só obedece a uma voz: a que vem de cima do trio. Ele empunha o microfone e avisa. “O comando aqui é nosso”, larga Igor Kannário, antes de iniciar as duas pipocas que fez, a primeira na Barra (sexta-feira) e a segunda no Campo Grande (segunda-feira). Aqui de baixo, um jovem da Baixinha de São Gonçalo se arrepia. Tem no peito a mesma tatuagem do ídolo, além de mais seis que fazem referência ao artista. Pipoqueiro Kannariano desde 2015, quando surgiu a primeira pipoca do Kannário, Aneilton Ventura, 20 anos, diz que só há uma forma de enfrentar a pipoca do Príncipe do Gueto: “Brincando na paz e no amor. Favela não briga com favela”, ensina. Conhecido como Nem Kannariano, Aneilton é a maior prova de que o gueto também é pipoqueiro.(Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)

- Pipoca da Baiana SystemMarcelo Santos, 30 anos

O navio pirata atravessou o mar de gente e ancorou na alegria de um Carnaval que se renova. Devidamente mascarado, no meio da pipoca da Baiana System, o administrador Marcelo Santos, 30 anos, é um dos que acreditam na perpetuação da festa. Por isso, foi atrás de Russo Passapusso, Roberto Barreto e seus comparsas em todas as passarelas que eles se apresentaram. Sempre sem cordas. Na verdade, tem feito isso desde que a Baiana se apresentou pela primeira vez no Carnaval, em 2010. “Lembro que tinha umas quarenta e poucas pessoas atrás do trio. Agora, olha para isso aqui”, mostrou a multidão pipocando ensandecida.(Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)

- Pipoca de Daniela MercuryArlan Fonseca, 23 anos

Aparentemente, ele é só mais um folião feliz no meio do povo. Mas, na verdade, ali está um folião de Daniela Mercury, dona de uma das pipocas mais poderosas da história do Carnaval. Arlan Fonseca, 23 anos, talvez nem saiba. Mesmo no auge dos blocos com cordas, Daniela já puxava trios independentes. O fato é que Arlan, após se tornar fã da cantora há dez anos, hoje desfruta do talento e da máquina de pipoca que é Daniela. Neste Carnaval, a seguiu em todas as oportunidades, inclusive quando puxou bloco com cordas. Arlan, porém, sempre do lado de fora. “Se ela for aí até Itapuã eu vou atrás, no meio da pipoca”, avisava, quando a rainha ainda estava no Farol da Barra.(Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO)

- Pipoca de Bell MarquesLéo Fissura, 43 anos

Em 1988, Leonardo Simplicio, o Leo Fissura, sentiu o gostinho da pipoca do Carnaval de Salvador pela primeira vez. Quem passava na hora? A banda Chiclete com Banana. Logo de cara teve de aprender a abrir caminho na pipoca do Chicletão, puxado pelo mesmo Bell Marques que até hoje ele persegue em todos os Carnavais. Léo Fissura, hoje com 43 anos, não quis mais largar aquele mundo de sacolejos e alegrias, onde por vezes se é vítima de uma cotovelada ali ou empurrão aqui. Léo acompanha Bell na pipoca há quase 30 anos. Já saiu dentro da corda com abadás doados pela produção. Mas o negócio dele é a pipoca. “Eu vou sempre na lateral do trio. Porque eu gosto de observar Bell, os gestos dele, a banda tocando. Gosto de ouvir o som batendo forte também. Eu vou no embalo e a pipoca comendo no centro”. Hoje, Léo é um dos pipoqueiros mais respeitados do Carnaval de Salvador. “O pessoal me abraça, faz foto, me paga cerveja”. Mas também já passou por momentos de aperto. “Tem horas que aperta um pouco. Bell lá de cima observa, vê que o bicho tá pegando e sempre dá um alô: ‘se segura Léo’”.(Foto: Acervo Pessoal)