Pro ano nascer, crescer e morrer feliz

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  • D
  • Da Redação

Publicado em 6 de janeiro de 2018 às 22:53

- Atualizado há um ano

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Somos aquele burrinho serelepe que segue em frente porque parece existir  suculenta cenoura a pairar sobre nossos focinhos. É lorota necessária. Como remar contra a maré se suculentas cenouras – tipo enriquecer, constituir família, descobrir cura do câncer, comprar  esmartfone da hora, cobiçar a mulher do próximo et al – não nos forem direcionadas? Como suportar o espeto quente no fiofó se não nos contraofertarem alguma promessa de falsa redenção?

Não nego. A suculenta cenoura que me leva a atravessar rubicões coalhados de esfomeados tubarões-martelo tem verbo: escrever.  Escrevo para salvar a alma – mas, sei, escrever, por melhor que escrevamos, não salva nada de nada.

Escritores nos jactamos: romances, contos, poesias, crônicas e outros exercícios literários podem mudar o mundo. Lamento informar, nossas obras + primas não modificam porríssima nenhuma.

 1 de janeiro de 2018. Acordo às 5 da manhã para  descrever – com a câmera parada – o amanhecer do ano novo - novo? Novo é o ovo! Escancaro a janela: o sol brilha, o céu azula-se – pura rotina – e mudo o rumo da prosa. Jogo a caneta e o caderninho no chão. Volto pra cama. [Escrever pra quê? Escrever por quê?] Calor de rachar, ligo o ventilador. Acordo às 11.

Resolvo me deixar levar. Após o banho gelado, a escovação de dentes,  e o café preto com pão sírio e queijo coalho, abro a cartela de remédios, e descubro: não há + comprimidos de Omeprazol 20 mg, que combate a minha esofagite C. Sigo para a farmácia.

Remédio comprado, caminho sem rumo. Ao me aproximar da casa dos G.T. – família irmã, eles com suas tezes negras, nós + para o branco-amarelado –, sinto vontade de revê-los.

Dos treze integrantes do clã, dona A., o senhor E. e um dos filhos, L., já morreram. Dos dez sobreviventes, dois lutam para adiar o inadiável. O resto da turma está zero bala.

Percebo movimento na varanda da casa dos G.T.. Estão lá: F., J., e T. – que, após acidente vascular cerebral (avc), vive com alegria e gáudio, mas afunda-se em sequelas que lhe dificultam  movimentos.

Sentamos, proseamos, bebemos e comemos. Adentro a casa para visitar o presépio centenário. Pergunto por N. Sigo até o quarto de N.

Sobre a cama – recém-saída de assepsia rigorosa  - mulher que já foi a mulata + cobiçada da cidade definha imersa em metamorfose que a tornou pequeno grande  besouro. Vive fase terminal do Mal de Alzheimer. Dou-lhe beijo na testa. Faço-lhe cafuné. Passo-lhe mão na face. Faço-lhe cosquinhas nos pés. [Sem choro nem vela – é a vida, folks!]

Tento ir embora, mas F.,T, e J. me enchem de carinhos sem ter fim por mais meia hora e aceito a meia hora a mais de carinhos sem ter fim. Já em casa, decido não mergulhar no mundo virtual das almas sebosas e nem chego perto do notebook. Volto a dormir. Ao acordar, lema bombardeia-me neurônios: - Limpar caminhos!

Armo-me de vassoura e saponáceos, e deixo brilhante a escada de casa. [Melhor assim].