Projetos de infraestrutura devem levar em conta riscos climáticos, sugere relatório

País perde algo próximo a R$ 800 milhões mensalmente com desastres naturais em vários setores; ONG avalia que Projeto Crescer ignora riscos climáticos

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  • Murilo Gitel

Publicado em 6 de dezembro de 2017 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Ponte sobre o Rio Negro, em Manaus. Obras de infraestruturas são essenciais para o desenvolvimento econômico, mas elas precisam ser planejadas tendo em vista os riscos climáticos, adverte WWF (foto: Chico Batata/Divulgação)

Analisar a relação entre as mudanças bruscas do clima e os projetos de infraestrutura no Brasil é o principal objetivo do relatório Decisões sobre infraestrutura considerando riscos climáticos: Guia prático para decisões com impacto no longo prazo no Brasil, lançado pela organização não governamental WWF-Brasil, na terça-feira (5/12).

O documento orienta tomadores de decisão no sentido de reconhecer e avaliar os riscos climáticos incidentes em empreendimentos de longo prazo.  A infraestrutura é uma das condições necessárias para o desenvolvimento e para a competitividade de um país. Fazer com que os investimentos nessa direção aumentem a resiliência – ou seja, sofram menos com eventos climáticos extremos – é de suma importância.

Entre outros pontos, o estudo aponta que o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que integra o Projeto Crescer – principal iniciativa do atual governo para alavancar a infraestrutura e o crescimento econômico no país –, desconsidera riscos climáticos. Para sanar essa ausência, o relatório propõe um guia prático como o primeiro passo para gestores públicos avaliarem riscos em projetos de infraestrutura.

Anualmente, no Brasil, são reportadas perdas superiores a R$ 9 bilhões com desastres naturais, o que significa que o país perde algo próximo a R$ 800 milhões mensalmente com desastres naturais em vários setores.“Incorporar a análise sobre riscos climáticos na tomada de decisões de setores estratégicos para o Brasil, como o setor de infraestrutura, é fundamental para alavancar um desenvolvimento sustentável no país. Ao assegurar uma infraestrutura planejada, que se prepara para lidar com eventos extremos, estaremos evitando perdas econômicas altíssimas e promovendo benefícios para a economia do país e bem-estar para a população”, afirma Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil.Prejuízos diretos

Cenários de redução de precipitação de chuvas na região Norte, assim como aumento de chuvas na região Sudeste e elevação do nível do mar em regiões litorâneas do país, já apontam para prejuízos diretos em infraestruturas de energia e transportes. O Nordeste é citado no relatório como a região onde há maior ocorrência de registros de estiagem e seca. “A região do Semiárido frequentemente se depara com longos períodos de escassez de chuva. ”Ao ter esses dados em vista, o relatório sugere que um esforço para aumentar a qualidade da infraestrutura no Brasil deve necessariamente considerar os riscos climáticos. “A infraestrutura requer investimentos em longo prazo, e os custos para sua recuperação, quando afetada por desastres e eventos extremos, estão entre os mais elevados. Como atualmente não há qualquer intervenção no sentido de considerar dados climáticos futuros na contratação, na construção e na operação dessas infraestruturas, o senso comum indica que elas estão sob ameaça”, comenta a autora do estudo, Natalie Unterstell, diretora de riscos e oportunidades ambientais do projeto Infra2038.O relatório traz ainda um conjunto de ferramentas, adotadas em diversos países por governos e bancos multilaterais de desenvolvimento, com metodologias que avaliam riscos climáticos incidentes sobre a infraestrutura. Essas ferramentas podem auxiliar na tomada de decisão tanto de gestores públicos, quanto de investidores e financiadores.

O estudo completo pode ser lido aqui