Protagonismo juvenil: estudantes e professores tiram dúvidas sobre novo ensino médio

Mudanças no currículos são tema de segunda edição do CORREIO Encontros

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  • Saulo Miguez

Publicado em 21 de julho de 2017 às 05:30

- Atualizado há um ano

Mais do que a uma mudança na estrutura curricular, a reforma do ensino médio soa para os jovens como a possibilidade de assumir o protagonismo das suas vidas. Ontem, cerca de 350 pessoas, a maioria delas adolescentes, lotaram o Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura do Shopping Salvador, para  esclarecer pontos ainda desconhecidos da mudança.

O evento - a segunda edição do projeto CORREIO Encontros - contou com a presença do ministro da Educação, Mendonça Filho, do secretário de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB-MEC), Rossieli Soares, do prefeito de Salvador, ACM Neto, e de outras autoridades.

Os estudantes do Colégio Anchieta chegaram de galera ao bate-papo. Cheios de expectativas, os adolescentes fizeram questão de participar ativamente do encontro. Maurício Maciel, 14, ingressará no segundo grau em 2019 e já sabe que pretende seguir a área de exatas. Ele acredita que, com mais tempo para estudar o que gosta, será um profissional melhor. 

“Vou ter mais foco para me dedicar”, frisou. A opinião é compartilhada pelos colegas Alice Dantas, 14, que deverá seguir os caminhos da Medicina, e Bianca Bitencourt, 14, que  pretende ser engenheira. “Nós sabemos que essas mudanças têm muitos pontos positivos e estamos buscando informação para ter uma opinião melhor”, disse Alice. (Foto: Arisson Marinho/CORREIO)Desconfiada das mudanças, a professora de Redação Lisabeth Teixeira, 67 anos, foi ao CORREIO Encontros em busca de informação. “A princípio, não estava muito de acordo com as mudanças, mas eu vim ouvir o que o secretário Rossieli tem a dizer para não ficar apenas na crítica”, disse.

Se para a professora há espaço para desconfiança, estudantes veem a mudança como sinal de alívio. A estudante Sahane Melo, 15, que cursa o 2º ano do ensino médio no Colégio Montessoriano, comemora o fato de os futuros alunos não serem obrigados a estudar todas as matérias. “A gente vai se especializar na área de interesse. Até porque tem muita coisa que nós aprendemos na escola e que não utilizamos na vida”, declarou.

Marjore Queiroz, 15, também estudante do Montessoriano, deseja que as mudanças de fato transformem o cenário da educação brasileira. “Eu, por exemplo, quero ser veterinária e hoje a carga de matérias na escola é muito grande. Com a reforma, isso deverá ser amenizado”, pontuou.

Currículo que afastaA professora Telma Souza, 63, que leciona História em um colégio particular de Salvador, também esteve presente no bate-papo de ontem. Ela partilha da ideia de que o acúmulo de conteúdos com pouca aplicação prática acaba afugentando os alunos.

“Eu espero que essa mudança traga de volta o interesse do aluno pela sala de aula. Meu desejo é que os currículos se encaixem à realidade desses alunos, uma vez que hoje eles utilizam, muitas vezes, cerca de 10% do que aprendem”, disse.

Ela ressalta, ainda, que as salas de aulas disputam cada vez mais espaço com as novidades tecnológicas e, quase sempre, os tablets e smartphones saem vitoriosos dessas batalhas. “Quando a aula não é interessante, tudo termina chamando mais atenção do que o professor”, completou. (Foto: Arisson Marinho/CORREIO)Escola mais atrativaDe acordo com ministro Mendonça Filho, o propósito maior das mudanças, que segundo ele serão executadas a partir de 2019, é justamente tornar o ensino médio atrativo. “O Brasil, hoje, tem um segundo grau único para todos e que não respeita os valores individuais. Vamos com a reforma despertar o protagonismo desses jovens, respeitando suas vontades e habilidades”.

O secretário de Educação Básica, Rossieli Soares, destacou que o Brasil ainda é um dos poucos países que têm os três anos do segundo grau igual para todos os alunos. Ele citou exemplos de países como a Austrália, Finlândia e Inglaterra que têm apenas o primeiro ano do ensino médio comum aos alunos.

Ele citou, ainda, que o ensino médio não pode se restringir a preparar os jovens para ingressar na faculdade: “Se a gente tratar todos os alunos de forma igual, teremos sempre o mesmo resultado”.

Reforma integradaSegundo Mendonça Filho, a reforma está integrada com outras transformações no âmbito educacional. Segundo ele, a expansão das escolas em tempo integral é outro ponto que merece ser destacado uma vez que já se mostrou eficiente nos estados que adotaram o sistema.

“O estado de Pernambuco, por exemplo, lidera o ranking do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e isso foi possível com a implementação das escolas em tempo integral. Esse é o caminho que o Brasil pretende seguir”.

O ministro frisou que é importante o país valorizar cada real investido na educação. Atualmente, 6% do PIB brasileiro é dedicado à educação. “Nós estamos empenhados em buscar mais recursos e priorizar os investimentos na educação básica para garantir mais oportunidades às pessoas”.

Para o prefeito ACM Neto, a reforma produzirá jovens mais preparados para os desafios do mundo moderno. “Não há país no planeta que tenha crescido sem investir em educação. Eu quero dizer para essa galera que está aqui que vocês serão protagonistas das suas vidas e vão fazer um país mais equilibrado”.

Presente, o presidente da Rede Bahia, Antonio Carlos Júnior, falou sobre o encontro. “Foi uma aula espetacular sobre o novo ensino médio. O secretário Rossieli Soares informou sobre as mudanças de forma clara para uma plateia atenta e ávida por informação”, declarou.

Reforma pode beneficiar quem está em atrasoAlém dos jovens que ingressarão no antigo segundo grau, a reforma do ensino médio deverá beneficiar também aquelas pessoas que estão com distorção idade-série. Em sua apresentação, o secretário Rossieli Soares destacou a importância de conciliar no mesmo horário de estudo o curso regular do ensino médio com uma formação profissionalizante.

“Essas pessoas já estão com um atraso na sua formação, então, se elas tiverem que esperar terminar o ensino médio para conseguir uma profissão, poderão ficar desestimulados. Então, nossa ideia é mudar esse quadro para manter esses alunos na escola”, disse.

Durante o CORREIO Encontros, um grupo de alunos do Centro Noturno de Educação Maria Felipa de Oliveira, instituição que trabalha com a educação de jovens e adultos, também marcou presença para saber das mudanças.

Segundo a diretora da instituição, Valdirene Félix Granja, os alunos questionam bastante a reforma e os impactos que ela vai trazer na vida deles. Ela fez questão de levar ao bate-papo os líderes de salas para que eles possam agir como multiplicadores na escola. “Esses alunos vão levar o que ouviram aqui para os outros colegas e assim disseminar o conhecimento.”

Ainda de acordo com Valdirene, a reforma tem tudo para estimular os alunos a seguirem com os estudos. “Trabalhamos com alunos com distorção idade-série e eles perceberam que o ingresso deles no mercado de trabalho está diretamente ligado à conclusão do ensino médio. Muitos deles já têm uma área de conhecimento que se interessam mais”, disse ela.

O estudante Matheus Ferreira, 20 anos, que cursa o 3º ano no Centro Maria Felipa, acredita que após a implantação da reforma, não apenas os jovens terão mais foco nas áreas de conhecimento que pretendem aprofundar como também o ingresso no mercado de trabalho será facilitado. “O tempo de aperfeiçoamento para as profissões será melhor aproveitado”, acredita.

Troca de ideias viabiliza mudança, diz educadoraA coordenadora do Colégio Montessoriano, Carina Menezes, que acompanhou os cerca de 30 alunos da instituição no bate-papo, considera que a troca de ideias é essencial para que de fato as mudanças aprovadas para o novo ensino médio sejam transformadoras.

“A educação se constrói dialogando com professores, alunos, gestores e todos aqueles que fazem parte dela”, frisou a educadora. Carina acredita, ainda, que a reforma é necessária para atender a uma demanda dos tempos atuais.

Em um determinado momento do encontro, o secretário de Educação Básica do MEC, Rossieli Soares, perguntou à plateia quem tinha smartphone. Como já era de se esperar, os jovens em massa levantaram as mãos com os aparelhos. Rossieli, então, perguntou se alguém sabia o que era banzeiro, expressão típica do Amazonas - estado de origem do secretário. Em questão de segundos, uma adolescente da plateia disparou: “Ondas provocadas por embarcações”.

“Como podemos ver, não dá para fazermos educação como fazíamos no meu tempo. Acabou aquela história de que só o professor é quem sabe. Mais do que nunca, o conhecimento hoje é uma troca e, por isso, precisamos de mudanças. E eu tenho certeza que daqui a 20 anos vocês criarão algo que mudará a sociedade e estaremos novamente debatendo inovações na área”, afirmou o secretário.  (Foto: Arisson Marinho/CORREIO)Após aula, alunos curtem pocket showApós o esclarecimento das dúvidas sobre a reforma do ensino médio, que, diga-se de passagem, não foram poucas, as cerca de 350 pessoas que lotaram o Teatro Eva Herz meteram dança no CORREIO Encontros. Ao som da banda Duas Medidas, os meninos e meninas afiaram o coro e cantaram do início ao fim o arrocha pop do grupo baiano.

O momento de descontração foi marcado ainda por um recado do vocalista Lincoln Sena, que mandou boas vibrações e incentivo para que os jovens não desistam dos seus sonhos e escrevam as suas histórias. Muitos deles farão o Enem em novembro.

“Aproveitem esta que é a melhor fase da vida de vocês. Não deixem que ninguém os impeça de realizar aquilo que vocês desejam e não parem de sonhar”, disse Lincoln, enquanto era aplaudido pelos fãs.

O vocalista revelou ainda que, antes de realizar o sonho de ser cantor, cursou faculdade de Educação Física. “Meu pai disse que eu poderia ser cantor, desde que antes conquistasse meu diploma. Assim eu fiz e hoje estou fazendo o que sempre quis.”