Refavela, de 1977, é o álbum da conscientização afro de Gilberto Gil

Gravado após uma viagem do compositor à Nigéria, disco faz 40 anos e é uma obra-prima da MPB

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  • Da Redação

Publicado em 18 de setembro de 2017 às 06:05

- Atualizado há um ano

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Gilberto Gil, 75 anos, é mais do que um cantor e compositor de música popular. É um pensador, também, expondo ideias sobre ancestralidade e questões sociais, científicas, afetivas e filosóficas em muitas de suas canções. A sua percepção do mundo e do seu tempo transcende a música como a de nenhum outro compositor de sua geração no Brasil. Formada por Refazenda (1975), Refavela (1977) e Realce (1979), a chamada trilogia Re é um bom exemplo do Gil músico e pensador ao mesmo tempo. Capa e contracapa de Refavela, álbum clássico de Gilberto Gil Em Refazenda, disco que reúne pérolas como Ela, a faixa-título, Tenho Sede (Anastácia e Dominguinhos), Pai e Mãe, Jeca Total, Retiros Espirituais, O Rouxinol e Lamento Sertanejo (parceria com Dominguinhos), ele retomou suas raízes rurais e relembrou o sertão usando novos instrumentos e tecnologias, como o violão ovation e novos pedais.

Em 1977, depois de uma viagem a Lagos, na Nigéria, para participar de um festival de arte e cultura negra, o cantor mesclou a sua ancestralidade africana (Balafon, Babá Alapalá) com baianidade (Ilê Ayê, Patuscada de Gandhi) e brilhou em questões afetivas (Sandra) e rítmicas (o reggae em Norte da Saudade e a versão suingada da bossa Samba do Avião, de Tom Jobim), sem esquecer de aspectos existenciais (as lindíssimas Aqui e Agora e Era Nova) e das contradições sociais envolvendo o negro e o pobre brasileiro em um país que crescia e sofria sob a ditadura militar: "A refavela/ Revela o salto/ Que o preto pobre tenta dar/ Quando se arranca/ Do seu barraco/ Prum bloco do BNH". Um apartamento do BNH, hoje, seria um imóvel do programa Minha Casa, Minha Vida.

Álbum de conscientização da herança afro do cantor, Refavela é a obra-prima da trilogia RE, que seria fechada com Realce, onde Gilberto Gil cantava a beleza e o empoderamento em ritmo de disco funk na faixa-título e seguia a louvar o velho e o novo.

Ouça o álbum completo: