Reinaldo Eckenberger transitou entre o riso e o trágico

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  • Cesar Romero

Publicado em 20 de agosto de 2017 às 06:55

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O Brasil e especialmente a Bahia, perdeu um de seus artistas fundamentais, Reinaldo Eckenberger. Era multiplataforma, desenhista, pintor, gravador, escultor, ceramista, cenógrafo. Nasceu em Buenos Aires, em 1938. Era um viajante, viveu em vários países europeus, até vir para o Brasil em 1964 e ano seguinte fixou-se em Salvador. Achava que aqui poderia estabelecer um melhor diálogo entre nosso barroquismo e sua arte. Sua estreia na capital baiana se deu em 1966, com a exposição Luxo e Lixo, Lixo e Luxo que foi a primeira manifestação de arte pop na Bahia. Obteve neste mesmo ano o primeiro prêmio de pintura na 1º Bienal de Artes Plásticas da Bahia. A partir daí sua carreira deslanchou, expondo em diversas galerias do Brasil e da Europa, participou da Bienal Nacional de São Paulo em 1976 e ano seguinte da Bienal Internacional de São Paulo. Sua pintura, de início lisa, começa a agrupar relevos e colagens – sucatas, objetos lúdicos e utilitários, sobras, brinquedos, utensílios de cozinha, cabeças de bonecos, instrumentos musicais ligados uns aos outros por uma trama de delicados bordados e se elevando do suporte bidimensional. Daí, suas figuras saíram da tela para o tridimensional, num processo coerente. A partir da década de 70, Eckenberger trabalhou com maior apego às bonecas de pano. Utilizava delas de forma caricata para discutir a pompa, a visão materialista do mundo, os estereótipos e a cultura da opulência. Havia nestas produções, a busca do riso, do cômico, do inusitado, também do dramático e do trágico. Eckenberger, como poucos artistas, soube unir estas distâncias. Seu trabalho tinha um jeito irônico, zombeteiro, provocativo, onírico, ligações com a sexualidade, sem jamais ser vulgar ou banal. Eram críticas mordazes à sociedade superficial, à decadência dos dias atuais, ao fútil. O erotismo permeou toda sua obra em diversos materiais e técnicas. Eckenberger era um homem afável, tinha uma ironia refinadíssima, que sempre provocava risos entre os interlocutores. Era cuidadoso com as palavras. Sempre conciliador, opinava quando questionado, breves palavras. Não se colocava como centro das atenções. Seu desapego a coisas materiais era comovente. Vivia o aqui e agora, gostava de andar pela cidade e seu olhar treinado buscava objetos e informações para seu trabalho. Tinha raciocínio rápido, gostava de viajar, passava meses na Europa. Falava cinco línguas e era extremamente generoso. Simples, coerente, ético, inventivo. Terça-feira passada sofreu um infarto e no dia seguinte, outro. Não resistiu e foi inteiro, tomado pelo insondável.