Rodrigão e Messi: a moral da história é comprometimento

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Publicado em 26 de outubro de 2017 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Véspera de clássico, o horário já avançava na casa das 22h. O treinador pega o telefone, liga para o craque do time e diz: “Preciso lhe mostrar uma coisa muito importante. Venha agora”. O craque vai ao encontro do técnico no centro de treinamento (ele não estava lá porque o clube não impõe regime de concentração) e ouve uma instrução até então impensável em relação ao seu posicionamento em campo. No dia seguinte, aquela dica noturna faz toda a diferença. O craque arrebenta e o time goleia o maior rival por 6x2, fora de casa.

A história é real. Aconteceu com Pep Guardiola e Messi, no Barcelona memorável de 2009, e está relatada na página 50 do livro “Guardiola Confidencial”, uma biografia escrita pelo jornalista espanhol Marti Perarnau que narra este e outros detalhes do perfeccionismo do treinador (como o dia em que ele foi apresentado no Bayern de Munique e já chegou falando alemão na primeira entrevista). Naquela véspera de clássico contra o Real Madrid, Guardiola inventou Messi como falso 9 - até então, o argentino era ponta-direita.

A sequência deste ato é o que o mundo inteiro aplaudiu de pé: o Barcelona ganhou tudo, Messi foi eleito melhor jogador do planeta pela primeira vez e aquela equipe do Barça é considerada uma das mais marcantes da história.

Talento? Claro, em dose cavalar. Mas a moral desta história se define com outra palavra: comprometimento.

Corta para o Ba-Vi. Semana de clássico. Rodrigão procura Carpegiani na terça-feira, pede desculpa ao treinador pela irritação demonstrada ao ser substituído no jogo contra o Corinthians e, segundo conta o técnico, emenda que está com uma contratura. No mesmo dia, o Bahia informa que o atacante sente “dores na região lombar”. As versões parecem não bater, já que geralmente um jogador ou treinador fala contratura referindo-se à coxa (onde esse tipo de lesão é mais comum, embora possa acontecer em outras partes do corpo, inclusive na coluna). O fato é que aquilo impediria o jogador de enfrentar o Flamengo na quinta.

Segue o baba. O time viaja sem Rodrigão e é goleado por 4x1. A delegação chega a Salvador na sexta-feira, dois antes do clássico contra o Vitória. Dessa vez, Carpegiani é informado que o atacante está com uma faringite e, consequentemente, fora do Ba-Vi.

Aí entra em cena o polêmico vídeo gravado na noite de sábado, que circulou nas redes sociais horas antes do Bahia entrar em campo contra o Vitória no domingo. Eu bebo, tu bebes, ele bebe. Qual o problema do jogador beber? Nenhum, desde que na hora e na circunstância adequadas, o que não foi o caso de Rodrigão.

Aqui o baba não segue. Não sem antes destacar a palavra faringite, popularmente conhecida como garganta inflamada ou dor de garganta. Quem está com uma faringite na sexta-feira não deveria estar comendo água na noite de sábado. Mesmo se fosse um sedentário ou atleta amador, mas aí seria da conta unicamente dele. Quando se trata do esporte de alto rendimento, o nível de exigência é outro. Pior ainda se o atleta em questão foi dispensado de um Ba-Vi por causa da suposta faringite. E se, antes da confusão toda, já estava fora da melhor forma física.

Não se trata de poder beber ou não, de estar vetado ou não. A moral desta história se define com outra palavra: comprometimento.

Herbem Gramacho é editor de Esporte e escreve às quintas-feiras.