Saiba quais são as formas mais seguras e econômicas de levar dinheiro para o exterior

Na tentativa de escapar dos impostos, muitos turistas acabam colocando em risco o sustento de uma viagem inteira

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  • Maryanna Nascimento

Publicado em 6 de novembro de 2017 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Pixabay

Londres, setembro de 2017, 18h. Era o primeiro dia de viagem na Europa  da pedagoga Karla Sampaio e de seu marido. O hotel reservado estava a 400 metros da estação de trem e eles decidiram ir andando, afinal a luz ainda clareava a cidade. No caminho, ficaram confusos com a numeração britânica do endereço e ao serem abordados por um homem que percebeu a dúvida, aceitaram ajuda. “Ele era bem solícito”, relembra Karla. Poucos passos depois, uma surpresa: a polícia para o trio e mostra uma credencial do departamento de narcóticos. A revista, que dizia procurar cocaína, começou com o recém-amigo, passou pelo esposo e depois por Karla. Mexeram em tudo: da narina à doleira, onde os policiais encontraram o equivalente a R$ 15 mil, em notas de libras e euro, que seria gasto durante a ‘eurotrip’ de um mês. 

Após a revista, o homem solícito e os policiais saíram correndo, e a pedagoga notou algo estranho. “Dudu, parece que meu dinheiro tá menos”, disse ao marido. Os homens haviam levado a maior parte da quantia e, para o consolo do casal, deixaram cerca de 10% do total. Depois de chamar a polícia -a oficial -, chorar muito e tentar remessa com a conta brasileira, eles decidiram seguir viagem usando o cartão de crédito e pediram dinheiro emprestado para uns amigos que iam encontrar em outro país da Europa. 

“Eu sempre viajei com dinheiro assim, mas hoje eu sinceramente penso em pegar um cartão e pouquíssimo dinheiro em mão, mas não na doleira, conta Karla. O caso de Karla é clássico: para fugir do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) - que desde 2013 passou de 0,38% para 6,38% em algumas formas de levar grana para o exterior (veja box na página ao lado), muitos levam papel-moeda como forma de economizar - nesse caso o IOF é de 1,10%. 

Finanças x Segurança

Para Sérgio Bessa, professor da área de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), antes de embarcar é preciso avaliar se quer privilegiar as finanças ou a segurança. “Se for a questão financeira, é o dinheiro vivo. Você compra a moeda na casa de câmbio, coloca no bolso, chega no hotel e usa o cofre. Aí só sai com o dinheiro que vai gastar durante o dia”, explica. Por outro lado, isso envolve um risco maior - que vai desde ser assaltado, perder a bolsa ou molhar todo o dinheiro em um dia chuvoso.

Quem optar por essa alternativa ainda tem que ficar atento às orientações da Receita Federal sobre saída do Brasil com dinheiro em espécie. De acordo com o órgão, se for mais de R$ 10 mil, ou o equivalente em uma moeda estrangeira, a quantia deve ser apresentada à Receita junto com a Declaração Eletrônica de Bens de Viajantes (e-DBV) (informações em: goo.gl/DqxjPW). O próximo passo, antes de sair do país, é se apresentar na Alfândega. Não há cobrança de tributos.

Diversifique a carteira

Roberto Cotrufo Filho, gerente de processos da MultiMoney, corretora e casa de câmbio, indica que a melhor opção é diversificar. “A recomendação é levar uma certa quantia em dinheiro em espécie e, pelo menos, mais uma ou duas outras opções, pois imprevistos podem acontecer”. Ele exemplifica que o cartão pode não funcionar, ser utilizado todo o papel-moeda, acontecer uma emergência ou ainda o estabelecimento que vai para aquele passeio ou jantar, não aceitar cartão de crédito.

Para variar, algumas das alternativa são os cartões pré-pagos, débito ou crédito internacionais. De acordo com Roberto, “um grande ponto a favor (do pré-pago) em relação ao de crédito, por exemplo, é que, apesar da incidência de 6,38% em ambos, a taxa da moeda no cartão de viagem pré-pago não fica sujeita à variação cambial, pois é definida no dia da compra de carga para o cartão”.  Já no segundo caso, será utilizado o câmbio do fechamento do extrato, o que pode gerar surpresas para o consumidor. Além disso, ele chama atenção para a possibilidade de fazer saques em caixas eletrônicos do exterior e também recarga à distância, caso o orçamento fique apertado ou o viajante precise que alguém lhe envie dinheiro. Para os mais controlados com as despesas, a vantagem também é a possibilidade de consultar o saldo e extrato pelo site ou aplicativo da plataforma. Os números mostram que os cartões de crédito são queridinhos dos brasileiros que viajam ao exterior. De acordo com levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), as compras com esse pagamento eletrônico cresceram 20,3% no primeiro semestre de 2017 se comparado com o mesmo período de 2016, somando R$ 13 bilhões.  Quem é mais conservador e prefere levar o próprio cartão de crédito desbloqueado, as vantagens, segundo Roberto estão no acúmulo de milhas, desconto em alguns estabelecimentos comerciais e a facilidade de cancelamento em caso de roubo, furto ou extravio do cartão. Vale ficar atento às taxas de conversão da moeda do país.

Dica da semana: pé-de-meia para viagemMeta de economia: Defina um valor mensal para poder economizar e siga à risca.Investimento: Até a viagem se concretizar, coloque a reserva financeira em um investimento para ganhar com os rendimentos.  Organização: Saiba as suas receitas e despesas para facilitar os cálculos. Dessa forma você saberá onde cortar gastos para ter ais dinheiro ‘investido’ na viagem.  Programa de milhagem: As companhias aéreas têm programas que convertem os pontos do cartão em milhas. Pesquise qual oferece o melhor custo-benefício.Desapegue: Tem algo em casa que não usa mais  que pode ser útil para alguém? Desapegue e venda.  Passagens: Pesquise as passagens aéreas com antecedência para poder pegar os melhores preços.Estude: Antes de se aventurar por algum país, veja qual o custo de alimentação, transporte, hospedagem e passeios.Venda parte das férias: Fez o planejamento de viajar durante 15 dias? Pense na possibilidade de vender parte das suas férias para voltar da viagem sem dívidas.  Gasto por dia: Já tem o seu pé-de-meia? Divida pelos dias que passará viajando e defina um gasto diário.

Veja as opções para transferir recursos

Se para alguns o dilema é a melhor forma de levar dinheiro para a viagem ao exterior, para outros é como transferir uma quantia para quem está fora. De acordo com a Cartilha de Câmbio do Banco Central do Brasil (BC), esse tipo de remessa pode ser feita por intermédio de uma instituição autorizada e também pelos Correios.  Para Roberto Cotrufo Filho, gerente de processos da Multimoney, antes de escolher a modalidade de envio (ver quadro abaixo) é preciso “analisar a finalidade da remessa, quantia a enviar, incidência de tributos, período e objetivo de permanência (lazer, trabalho, curso)”. 

Entre as opções, Marcelo López, gestor de investimentos na L2 Capital Partners, empresa especializada em serviços financeiros, aponta: transferência para bancos no exterior, Vale Postal Eletrônico dos Correios, Paypal e até Bitcoin - a moeda digital que deve operar mais de R$ 1 bilhão até o final do ano.  Neste último caso, ele diz que é “possível comprar aqui (no Brasil) e resgatar ou usar como transferência de recursos”. De um lado, há a vantagem de economizar taxas e impostos; por outro, nem todo mundo trabalha com a moeda ou domina o investimento. É preciso ficar atento também ao Imposto de Renda. Se a remessa for realizada por pessoa física, haverá alíquota de 6% em envios de até R$ 20 mil por ano. Caso esse valor seja ultrapassado, a alíquota será de 25%. As regras valem até 31 de dezembro de 2019. Em caso de envio de dinheiros para gastos com saúde e educação, não há cobrança. As informações são da Receita Federal.

Custo e benefícios das formas de levar  dinheiro 

Espécie: A principal vantagem é o IOF inferior (1,10%), o que deixa seu preço final ou VET (Valor Efetivo Total) menor, se comparado com as outras modalidades. Atenção à segurança.Cartão de débito internacional: IOF de 6,38%. Converse com o seu gerente para saber o seu limite no exterior e negocie a taxa de câmbio. Consulte a taxa de saque, que pode ser alta, e prefira utilizar só em caso de emergência.Cartão pré-pago: IOF de 6,38%. Também é bom ficar atento às tarifas de aquisição, carregamento, saque e manutenção, que varia de acordo com a empresa.Cartão de crédito internacional: IOF de 6,38%. Consulte se o seu banco utiliza o câmbio de turismo ou comercial. O último é mais vantajoso. E lembre-se que a conversão será feita no fechamento da fatura.

Enviar dinheiro para o exterior

Transferência bancária para contas no exterior:

Banco do Brasil: Para as ordens em Swift, é cobrado 2% da operação, sendo no mínimo R$ 110 e no máximo R$ 490. Santander: A taxa cobrada para ordem de pagamento recebido ou enviado é R$ 200 e varia de acordo com o segmento da qual o cliente faz parte.   Bradesco: Transferência pela internet, de até US$ 10 mil, está isento de tarifa. Em outros casos, a tarifa é de US$ 40,00.Itaú:  IOF de 0,38%. Taxa de ordem de pagamento não informada.

Consulte despesa externa cobrada pela instituição que receberá a ordem no exterior. 

Vale postal eletrônico dos Correios: É cobrado R$ 35,00 por remessa + 1,5% sobre o valor enviado. Se atente ao prazo de entrega e países conveniados.

Paypal: Não paga para enviar, porém, para receber as taxas podem variar entre 1,9% a 3,4% dependendo do valor. Na Europa há uma tarifa fixa de € 0,35 por transação em caso de conversão de moeda.

Western Union, Transferwise, MoneyGram  Nesses casos, o IOF é de 0,38%. Porém, também existem tarifas por transferência. Consulte as empresas.