Saiba quem são as pessoas que vão assistir ao júri de Kátia Vargas

Pelo menos 500 tentaram garantir espaço no júri, que acontece dia 5 de dezembro

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  • Tailane Muniz

Publicado em 1 de dezembro de 2017 às 14:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tailane Muniz/CORREIO

Sabe aquela fila quilométrica comum em dia de vendas para ingressos de um grande show ou de um clássico do futebol? A cena foi vista por quem passou, nesta sexta-feira (1º), em frente à Vara de Família, no bairro de Nazaré, em Salvador, e se deparou com pelo menos 500 pessoas aglomeradas no local.

A missão, porém, não era assistir a uma final da dupla BAxVI, mas conseguir a senha para acompanhar de perto o julgamento da médica Kátia Vargas - investigada por causar o acidente que matou os irmãos Emanuel e Emanuelle Gomes, de 21 e 23 anos, em 11 de outubro de 2013.  

O júri, que acontece na próxima terça-feira (5), deve durar pelo menos dois dias, de acordo com o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA). Uma hora depois do início da distribuição, iniciada às 7h30, as 220 fichas já haviam sido distribuídas. A fila chegou a atingir a Rua da Independência, a cerca de 500 metros da entrada do fórum.

Vizinho ao Largo do Campo da Pólvora, o comerciante Roberval Alcântara, 62 anos, resolveu sair de casa para dormir no local. Primeiro da fila, ele contou ao CORREIO que chegou às 20h. Para passar a noite e garantir um lugarzinho, ele levou uma mochila com água e alguns alimentos.   Roberval foi o primeiro da fila (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) A paixão pelo Direito também influenciou na maratona pela senha. "Eu gosto muito dessa área. E esse caso, para mim, é emblemático. Porque não houve nele, nada que nós não já tenhamos visto tantas outras vezes. Por isso, para mim, é um caso que se tornou enorme muito em função da construção da imprensa", pontuou.

O comerciante, que já acompanhou mais de cinco júris, disse que teme que a data seja adiada. "Pode haver essa manobra, mas espero que não, porque a expectativa é grande. Mas eu não estou aqui para especular pecador. Quero assistir justamente para ver e ouvir as partes", afirmou Roberval.

Após quase 12 horas na fila, o comerciante conseguiu se cadastrar e vai assistir ao julgamento. No dia 5, ele contou que pretende chegar pelo menos uma hora antes. 

Diferente de Roberval, que mora próximo ao fórum, o motorista Francisco Cantuária, 24, e sua mãe, a microempreendedora Josélia da Cruz, 50, cruzaram a cidade para garantir o acesso. Eles, que moram em Cajazeiras, chegaram por volta de 22h e também conseguiram o direito de assistir ao júri.  Francisco Cantuária e Flávia Cardoso eram o 2º e 3º da fila, respectivamente (Foto: Tailane Muniz/CORREIO) Mãe e filho se dizem fãs do caso e, por isso, não abrem mão de acompanhar o desfecho. "Não estudo Direito, mas faço questão de estar presente neste dia. Eu acompanho desde o início  e, de verdade, espero que a justiça seja feita. Eu vejo como um crime, acho que vai ser muito marcante", contou o motorista, que pretende chegar pelo menos duas horas antes ao júri.

Para Josélia, a condição de mãe fez com que ela se envolvesse emocionalmente com o caso. "Como mãe, é também uma maneira de mostrar solidariedade àquela mãe. Lembro, como se fosse hoje, das imagens, das cenas, de tudo o que aconteceu na época. Foram dois filhos, os dois de vez, deve ser muito duro", salientou ela, mostrando o acesso e as instruções que recebeu do TJ-BA para o dia do julgamento.

A mãe de Emanuel e Emanuelle, Marinúbia Gomes, chegou ao local por volta de 2h30, acompanhada de amigos e um advogado, mas permaneceu dentro do carro da família, estacionado na mesma rua. Ela chegou a cumprimentar algumas pessoas na fila, segundo foi informado ao CORREIO.

Psicóloga e amiga da família, Maria do Carmo dos Santos, 46, que também e presidente do Grupo Vítimas Unidas, chegou acompanhada da mãe dos irmãos, por volta de 2h30. Ao CORREIO, ela contou que Marinúbia chegou a cumprimentar as pessoas que já estavam na fila mas, em seguida, por orientação do advogado, retornou para o carro, onde permaneceu até o iníci da distribuição das senhas. Maria do Carmo é amiga da família dos irmãos mortos (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Segundo Maria do Carmo, a amiga está bem, mas convive com muitas lembranças dos filhos. "Espero que seja feita a justiça. É um caso acompanhado por todo país, ela não deveria ter conseguido esperar o julgamento em liberdade. Para a família, é algo extenso e desgastante. A Mari [mãe dos irmãos] está bem clinicamente. Mas em casa, ela tem lembrança por todos os cantos. É difícil".

Estudante de Direito, a pedagoga Zenilda Fonseca, 65, foi a 18ª da fila. Após cerca de quatro horas e 20 minutos, ela conseguiu garantir acesso ao julgamento. "Cheguei a me desentender na fila, pois houve falta de respeito. Mas não  vou abrir mão de estar presente,  pois, para mim, já  condenaram Kátia", pontuou. 

Apesar das horas na fila, a pedagoga discorda do júri popular para a médica. "O dolo existe quando a pessoa premedita, sai de casa para matar. Foi uma fatalidade, então, torço  para que a justiça seja feita", concluiu.

Não deu para quem quis As 220 senhas distribuídas esta manhã não foram sucientes para a quantidade de gente que aguardou empolvorosa na fila. Inconformados, alguns foram embora, outros gritaram e teve também quem não parou de acreditar e, até o último minuto, permaneceu com esperança de conseguir uma senhazinha. Foi o caso da bacharel em Direito Rose Andrade, 34, que chegou à frente da Vara da Família por volta de 7h. Acompanhada das amigas, Rose não se conformou ao receber a notícia de que as senhas haviam terminado. "É uma pena. Eu sinto muito, porque uma advogado, um bacharel ou um estudante de Direito sabe o quanto participar de um júri desse traz muito conhecimento jurídico e penal", lamentou.  A professora aposentada Ruth foi jurada por mais de 20 anos mas não conseguiu a senha (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Embora tenha lamentado não poder acompanhar o julgamento de perto, Rose afirmou que a médica Kátia Vargas não teve a intenção de matar. "Eu penso que o júri popular, no caso dela, não se justifica. Fica claro que é mais por uma comoção social, pois, no meu entendimento, não houve dolo".

"Eu sou mulher, assim como ela, e dirijo. Na violência urbana que vivemos atualmente, qualquer um, sem saber quem estava na moto, teria feito o que ela fez. Ou seja, pode ter sido o calor da situação. O fato é que a pior condenação ela já sofreu, que foi feita pela sociedade. Que a justiça seja feita", defendeu.

A professora aposentada Ruth de Oliveira Muricy, 84, permaneceu até o final. Ela, que foi jurada por mais de 20 anos, estava inconformada ao saber que não vai presenciar a sentença de Kátia Vargas. "Cheguei às 7h, mas acho triste. Fui jurada para o TJ por tanto tempo, acho que eles deveriam abrir precedentes para quem faz parte do colegiado". "O mais importante com isso tudo, é que o caso tenha um desfecho. Que seja justo para todas as partes e que cada um arque com suas consequências", concluiu Ruth, acompanhada de outros 26 esperançosos que, mesmo após o anúncio de novas senhas não seriam distribuídas, continuaram no local.

De acordo com o Tribunal de Justiça da Bahia, a capacidade da sala onde ocorrerá o júri de Kátia Vargas é de 432 lugares - mas por uma questão de segurança não haverá lotação máxima do espaço. Além das 220 senhas para plateia, foram reservadas cotas para membros da defesa e acusação, famílias da ré e vítimas, jornalistas e Ordem dos Advogados do Brasil - seção Bahia (OAB-BA).