Salva-vidas surta e destrói 11 imagens sacras de igreja em Arembepe

Ele passou a tarde em bar e depois entrou na igreja procurando pelo padre

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  • Bruno Wendel

Publicado em 18 de outubro de 2017 às 16:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação
Imagens danificadas no ataque por Foto: Divulgação

Onze das 12 imagens sacras da Igreja de São Francisco de Arembepe, localidade de Camaçari, no Litoral Norte, foram destruídas, no final da tarde desta terça-feira (17), pelo salva-vidas Dezimário Souza Borges Júnior, 34 anos, conhecido como Chacal. Segundo testemunhas, ele chegou ao local procurando o padre Fernando Pereira, e como não o encontrou, saiu jogando as imagens no chão. Procurado pelo CORREIO, o pároco informou que não conhecia o homem que danificou as imagens e que soube pela comunidade religiosa que ele não frequentava a igreja.

Após o ataque, Dezimário foi levado por parentes a uma clínica médica em Salvador. O caso foi registrado na 26ª Delegacia (Vila de Abrantes). Segundo a delegada Daniele Monteiro, titular da unidade, o autor é usuário de drogas. A igreja faz parte da Quase Paróquia São Francisco de Arembepe, fica no centro da localidade e, segundo fiéis, o ataque às imagens aconteceu por volta das 17h20.  

“Todas as terças temos missa para Santo Antônio às 19h. A igreja estava toda decorada. Ontem (terça), como sempre, a secretária do templo deixou as portas abertas para a comunidade fazer suas orações. Foi quando ele entrou”, contou um dos fiéis, que pediu para não ser identificado. 

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Conforme testemunhas, Dezimário havia passado a tarde em um bar e depois entrou na igreja procurando pelo padre. “Mas o padre não tinha chegado. Só estava a secretária”, disse o fiel. Diante da ausência do sacerdote, Chacal partiu para o ataque às imagens.“Ele saiu puxando uma a uma e arremessando ao chão. Foi quando a secretária saiu da igreja e pediu ajuda na rua, e seis homens conseguiram impedir que ele destruísse a última imagem”, completou o fiel.120 anos De acordo com o padre Fernando, foram destruídas imagens de Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Candeias, São Francisco de Assis, Santo Antônio, Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora da Conceição, São Pedro, Bom Jesus dos Navegantes, Santo Antônio de Categeró, Santa Clara e de Nossa Senhora do Parto. A igreja foi construída no início do século XX e, segundo o padre, algumas dessas imagens remontam a essa época e possuíam até 120 anos.

Ele não soube informar o prejuízo financeiro causado, mas disse que vão avaliar se é possível restaurar algumas das peças danificadas. Ainda segundo o padre, a família de Dezimário já se disponibilizou em assumir as despesas do prejuízo causado por ele. Além disso, os próprios fiéis também se colocaram à disposição em colaborar para que a igreja possa ter as imagens de volta.

O padre disse que ainda avalia como fica a programação da igreja após o incidente, mas que a missa desta terça teve que ser suspensa.

“É uma família tradicional daqui. É formada por empresários e funcionários públicos daqui mesmo. Não têm tantas posses assim, mas mesmo assim garantiram que irão pagar tudo”, reforçou um frequentador da igreja.

Ainda de acordo com fiéis, Dezimário é casado, tem um filho e não é de se envolver em confusão. “Para a gente, foi realmente uma surpresa. O que pode ter acontecido foi o fato de ele ter sido possuído e isso gerou um conflito espiritual, porque o atual padre está aqui há quatro anos e, de lá para cá, as missas só andam lotadas. Tem gente que frequentava outras religiões como o Candomblé e o Espiritismo, e passaram a vir para as missas. Isso pode ter incomodado”, opinou um fiel.

Bispo da Diocese de Camaçari, à qual está vinculada a igreja de Arembepe, dom João Carlos Petrini disse que soube do incidente logo após a ocorrência. "Estava fora de Camaçari, dando um curso para sacerdotes perto de Brasília, e logo após o incidente recebi uma ligação do padre. Ele estava muito agitado na hora. Pelo que soube, não se trata de um vândalo. É um homem casado e com filho", explicou.

Delegacia Na 26ª Delegacia (Vila de Abrantes), onde o caso foi registrado, Dezimário ainda não foi ouvido. “Ele continua internado numa clínica em Salvador”, disse a delegada Daniele Monteiro. Segundo ela, antes do ataque às imagens sacras, o salva-vidas fez uso de entorpecentes.“Ele estava de férias e fez uso de maconha. O que se fala é que ele fez uso de outra substância mais potente, o que teria levado a um surto psicótico”, declarou a delegada.A delegada confirmou que, inicialmente, o salva-vidas entrou procurando o padre. “Não sabemos ainda o motivo, porque ele ainda está sob efeito de medicação”, declarou a delegada. Segundo ela, essa é a primeira ocorrência do tipo registrada na delegacia. 

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Ainda conforme a investigadora, foi instaurado um inquérito com base no artigo 165 do Código Penal, que prevê pena de seis meses a dois anos de prisão para danos em objetos de valor artístico, arqueológico ou histórico.

“Se for comprovado que realmente houve um surto psicótico, a gente vai fazer um termo circunstanciado e caberá à Justiça a decisão de se deixar de aplicar a pena em razão disso”, disse a delegada, que informou em seguida que o salva-vidas nunca tinha sido preso. 

Redes sociais Na página da Quase Paróquia São Francisco de Arembepe no Facebook, o padre pediu que os fiéis rezem pela família de Dezimário. “Só agora consigo me expressar referente ao susto que levamos hoje (ontem). A primeira coisa é que Deus é fiel e não nos desampara. A segunda é que tudo isso deve renovar ainda mais a nossa fé, o nosso amor a Cristo e a Igreja. Peço que rezem pela família do rapaz, rezem por ele, muitos o conhecem e sabem que ele é uma pessoa de bem, mas que teve um momento de desequilíbrio psicológico e já foi internado, como também a família já se comprometeu a reparar o prejuízo com nossas imagens, em breve teremos outras para tornar o nosso Altar belo, como sempre foi”, disse o líder religioso.