Sem solução: dois meses após morte de comerciante em Itapuã, família cobra respostas

Nadjane Santos de Jesus, 30 anos, tinha saído para comprar feijão; foi encontrada morta no CIA/Aeroporto

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  • Thais Borges

Publicado em 17 de setembro de 2017 às 13:23

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO

Foram dois meses de agonia para a doméstica Maria Nazaré Xavier dos Santos, 51 anos. No dia 9 de julho, dona Nazaré, como é mais conhecida, recebeu a notícia de que a filha, a comerciante Nadjane Santos de Jesus, 30, fora sequestrada na Rua Santos Soares, em Itapuã, onde morava, e, depois, encontrada morta na Estrada do CIA/Aeroporto. A filha tinha saído com o cachorro Mayck para comprar feijão fradinho para o almoço em sua casa.

Só que, mais de dois meses depois, o caso continua sem respostas. Não se sabe quem matou Nadjane, nem por qual motivo. Ela foi encontrada com marcas de espancamento e sinais de violência sexual - mas, oficialmente, nem isso é uma certeza para a polícia, de acordo com a família da comerciante. 

"A dor de perder minha filha já é muito grande, imagina não saber o que realmente aconteceu com ela. E o pior é saber que tudo foi onde ela nasceu e se criou", desabafou dona Nazaré, durante uma caminhada na manhã deste domingo (17). Por volta das 8h, cerca de 50 pessoas, entre amigos e parentes, saíram da rua onde a comerciante vivia - e de onde também foi levada - em direção à orla de Itapuã, na frente da 12ª Delegacia (Itapuã). A comerciante Nadjane tinha saído com o cachorro para comprar feijão. Horas depois, foi encontrada morta (Foto: Acervo Pessoal) Vestindo camisetas brancas com uma foto de Nadjane, além dos dizeres 'Amor Eterno' e ‘Queremos Justiça’, o grupo carregava cartazes e balões de ar brancos. Durante todo o percurso, gritaram palavras de ordem pedindo solução e entoaram canções evangélicas. O objetivo, segundo a própria família, era sensibilizar possíveis testemunhas. “Com certeza, alguém viu algo, mas não quer falar nada. O pessoal tem medo de represálias, tem medo de ser alguém conhecido, porque hoje a gente está nas mãos de Deus. Quando o pessoal vê alguma coisa violenta acontecendo, prefere se trancar”, disse o marido de Nadjane, o autônomo Eviton Gomes, 36. Os dois estavam juntos há cinco anos.No dia em que foi morta, uma câmera de um estabelecimento da rua registrou Nadjane passando com o cachorro às 7h19. Depois, um vizinho disse à família que viu quando a comerciante passou com o cachorro, nesse mesmo horário.

Laudo pericial Ao CORREIO, o padrasto de Nadjane, o aposentado Antônio José dos Santos, 67, contou que eles também pretendem fazer uma manifestação no local onde a vítima foi encontrada. “Mas o laudo nem mesmo diz o local exato. Fala que foi ‘nas imediações do CIA-Aeroporto’, mas onde exatamente? A estrada é muito grande”, disse, referindo-se ao documento produzido pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT). Mesmo assim, eles acreditam que uma mobilização no local pode estimular que outras possíveis testemunhas decidam falar.  Parentes e amigos de Nadjante percorreram ruas de Itapuã cobrando respostas sobre o caso (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) O laudo, segundo seu Antônio, não esclarece alguns dos principais questionamentos da família. Além da falta da indicação do local exato onde Nadjane foi encontrada, não há nenhum indicativo de que a comerciante teria tentado se defender da violência sexual. “Eles falaram para a gente que ela se defendeu, mas o laudo não diz nem que tinha algo embaixo das unhas. Eu conheço minha filha. Sei que ela teria lutado até o final, sem se entregar”, afirmou a mãe da jovem. 

Desde a morte da filha, dona Nazaré começou uma peregrinação. Pelo menos uma vez por semana, vai até a sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba, cobrar atualizações sobre o caso. “A gente tem um delegado empenhado, mas precisamos de uma solução. Eles só pedem para ter paciência, mas já fazem dois meses que perdi minha vida, meu tesouro, meu dengo. Estou me segurando nas mãos de Deus. Já pensei em desistir (da busca), porque é muito doloroso”, desabafou.A família preferiu não identificar o delegado que está à frente do caso, embora tenha confirmado que ele é lotado no DHPP. 

Procurada pelo CORREIO, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que a Polícia Civil é quem deve se pronunciar sobre o caso. A assessoria da Polícia Civil foi procurada, mas não foi localizada pela reportagem.