Ser mãe de cachorro é sofrer no paraíso

Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista

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Publicado em 20 de abril de 2018 às 02:20

- Atualizado há um ano

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“Ser mãe é sofrer no paraíso”, frase mais antiga, vinda desde o século antepassado, dita pelo poeta e “Príncipe dos Prosadores Brasileiros” Coelho Netto e que uso abusando, agora, para demonstrar o que se passa com o coração de mães e pais (tem quem insista que o certo é proprietário ou dono, mas isso é quem não tem coração nem sentimento) de cães e gatos, numa Bahia que não tem hospital público veterinário, nenhuma prefeitura cumpre o Termo de Ajustamento de Conduta e ainda se pensa que pegar cachorro vadio é para meter algo na veia e mandar o bicho para o paraíso canino, onde deve ter mil cadelas para cada um, ossos brotando do chão e muitos postes à disposição. As cidades não têm canis públicos. Falta política sanitarista.

O sofrimento para quem possui algum animal e não tem condição financeira favorável é intenso, uma vez que os animais têm doenças assemelhadas aos dos seres humanos e outras específicas de cada raça. E cuidar da saúde deles é mais caro que tratar dos males humanos, pelo que se pode constatar nos preços das clínicas que exploram e abusam do amor ancestral dos humanos pelos bichos.

Pais e mães sabem: as clínicas particulares, vez que não existem públicas, extraem o rim dos proprietários em pânico por uma ajuda ao seu pet. Imagine que, no Brasil, 45 por cento das habitações (são 65 milhões de domicílios) têm um ou mais cachorros e quase 18 por cento possuem ao menos um gato. Pesquisa feita há algum tempo pelo IBGE demonstra essa realidade crescente, ainda mais que os animais se descobrem como auxiliares de tratamentos vários, da insônia, autismo, depressão e até mal de amores, imagine que deve ser bem maior. A pesquisa detalhava coisas como, por exemplo, que os pais e mães (está bem, proprietários) de cães são, em sua maioria, casados; 24% adotaram seus cães, sendo 59% deles sem raça definida (nosso icônico vira-lata); 44% veem seus cachorros como filhos (estou dizendo), sendo que a maioria dos que têm essa opinião é mulher solteira.

Com relação aos felinos, 61% dos donos de gatos são mulheres (uma das lendas urbanas garante que são os animais preferidos dos gays); 45% veem seus gatos como filhos - a maioria dos que têm essa opinião é mulher solteira. A mesma pesquisa observa que muitos dos entrevistados que não têm pet (100%) assume vontade de ter um bicho de estimação. Mas revelam o receio de não ter como encarar os custos altos para cuidar desse novo filho.

E estão certos. Nas clínicas de Salvador, por exemplo, uma ressonância ou tomografia tem um custo médio de R$ 1 mil e são raríssimas as que oferecem o exame. Ultrassom sai por R$ 300. Avaliação cardíaca não sai por menos de R$ 200. Se o animal precisa de hemodiálise sai por R$ 400 a sessão. Quimioterapia é para destroçar a burra da família. Colocar um marcapasso sai por R$ 8 mil e um cateterismo, R$ 5 mil. Cirurgia de catarata, em média, custa R$ 2 mil.

O Hospital Veterinário da Ufba  é quem tem quebrado o galho dos pais e mães, sem ter muita estrutura, mas que serve por ser local de formação de novos profissionais. E temos problemas pontuais. Agora mesmo gravíssimo se avizinha. Existe um gatil improvisado num terreno sem a menor estrutura na Barroquinha, onde estão 300 gatos. Nesse caso não se sofre no paraíso, pois o lugar é um inferno com tantos problemas e nem o Ministério Público tem agido. Mas, e se fechar, mãe! Vai colocar os bichanos onde, pai?