Sgt. Pepper's cinquentão: álbum dos Beatles que revolucionou o rock chega aos 50 anos

O disco, que tem clássicos como Lucy in The Sky With Diamonds, foi considerado por muitos como o primeiro álbum conceitual da história

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 31 de maio de 2017 às 06:05

- Atualizado há um ano

Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band chegou ao mercado britânico em 26 de maio de 1967 e no dia 2 de junho nos Estados Unidos (foto: reprodução)Em 2012, a revista Rolling Stone apontou, com base em uma pesquisa com 273 personalidades da música, o disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, como o maior de todos os tempos.A publicação americana foi categórica ao descrever os méritos daquele trabalho que chega agora aos 50 anos com o mesmo frescor da época em que foi lançado: “É o álbum mais importante do rock em relação a som, letras, capa e tecnologia de estúdio, realizado pela maior banda de rock de todos os tempos”.John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison haviam conquistado o público no início da carreira fazendo um iê iê iê “ingênuo”, que os aproximou principalmente dos adolescentes. Se nos dois álbuns anteriores a Sgt. Pepper’s - Rubber Soul (1965) e Revolver (1966)-, os quatro jovens anunciavam algumas mudanças rumo a um som mais experimental, em canções como Nowhere Man, essa “virada” chegou ao ápice no álbum que está completando 50 anos.“Rubber Soul era a transição entre o iê iê iê e a psicodelia, com os elementos constitutivos muito bem dosados e o grupo ainda soando como uma banda, sem a presença de arranjos para cordas ou sopros. Isso aparece no seguinte, Revolver, que antecipa o ápice do Sgt. Pepper”, defende o cantor e compositor baiano Paquito, 52 anos.O próprio Paul mais tarde revelaria o que o álbum significou para os quatro músicos: “Estávamos cansados de ser Beatles. Não éramos mais garotos; éramos homens. Éramos artistas e não mais ‘performers’”, revelou, na biografia Many Years From Now, escrita por Barry Miles. Não foi à toa que, cansados da histeria adolescente, os Beatles decidiram parar de fazer shows e realizaram sua última apresentação em agosto de 1966, quase um ano antes do lançamento de Sgt. Pepper’s, oitavo disco do grupo.Foi aí que o quarteto passou a se dedicar mais ao estúdio e, certamente, o álbum não seria o mesmo se eles ainda estivessem na estrada. Edição comemorativa de 50 anos tem quatro CDs e um vinil duplo, além de rico material gráfico (foto: divulgação)Trucagens“É basicamente um disco de estúdio, em que usam muitas ‘trucagens’. Mas uso esse termo ‘trucagem’ de forma positiva”, ressalta o músico baiano Ronei Jorge, 42 anos. “Já tinha isso em Revolver, mas Sgt. Peppers leva a consequências mais extremas e usa muita orquestra”, completa o músico.Antonio Portela, 60, fundador do fã-clube baiano Beatles Social Club, observa que a duração das faixas também aumentava: “Within You Without You tem cinco minutos, ao contrário dos dois e meio ou três minutos a que a gente estava acostumado”. “A Day in The Life, que encerra o disco, também tem cinco minutos e é a junção de duas canções, sendo que uma era de Paul e outra, de John. Aí, George Martin juntou as duas de uma forma brilhante. Era um trabalho incrível de dois artistas com um produtor”, acrescenta Portela.Embora todas as canções sejam creditadas à dupla Lennon/McCartney - a exceção é Within You Without You, de George Harrison -, sabe-se que algumas eram compostas somente por um deles. “A canção Sgt. Pepper’s é de Paul; Lucy in The Sky With Diamonds é de John. With a Little Help From My Friends é dos dois”, lista Paquito.Para o músico Ricardo Cury, no entanto, o álbum tem mais a “cara” de Paul: “Embora John tivesse a pecha de revolucionário, o disco é muito mais de Paul. A banda tinha acabado de perder o empresário (Brian Epstein) e Paul acabou praticamente assumindo o lugar dele, de uma forma natural, até porque era mais organizado que John”.Cury observa ainda outra diferença entre John e Paul, que acaba se refletindo nas composições deles em Sgt. Pepper’s: “John estava num casamento infeliz, morando num lugar isolado, se ‘chapando’ muito. Por outro lado, Paul era solteiro, na noite londrina, nas casas de show...”.Paul e JohnPara muitos, Sgt. Peppers é o primeiro álbum “conceitual” da música. Havia ali uma preocupação com uma unidade, uma sequência entre as canções e até a história de uma banda fictícia, que dá nome ao disco. A primeira faixa apresenta os músicos e a segunda, With a Little Help From My Friends, seria como um show daquela banda.Mas Paquito diz que, para John, aquilo não tinha importância: “Para ele, essa ideia de álbum conceitual era uma bobagem. John reconhecia que Paul havia tido a ideia da banda fictícia. Mas John acreditava mesmo era na força das canções dos Beatles”.  E Paquito concorda: “Eles faziam canções muito fortes. São mesmo os maiores da música pop”. Para o músico, há uma razão clara para isso: “A banda tinha dois líderes, Paul e John. Era uma parceria atípica na história da canção popular. No caso dos Stones, por exemplo, as canções da banda têm a cara de Mick Jagger. Já os Beatles têm umas canções cantadas por John e outras por Paul. Isso dá muita força e variedade à banda”.