Show de Àttoxxá e palestras agitam último dia do Afro Futurismo na Lapa

Estação ficou lotada de curiosos para acompanhar as discussões e 'meter dança' durante a festa

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  • Gil Santos

Publicado em 11 de agosto de 2017 às 22:00

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Que a Lapa é um dos principais pontos de encontro de Salvador não é novidade, mas a noite desta sexta-feira (11) foi especial. Quem desembarcava dos ônibus ou saia da estação de metrô não estava entendendo nada, mas mesmo assim caiu na dança. Um show do grupo Attoxxá e uma série de palestras encerraram o último dia da Ocupação Afro Futurista - evento que misturou debates e palestras com representantes nacionais e internacionais das ciências, tecnologia, negócios e artes.

Depois das discussões, a banda Àttooxxá fez muita gente 'meter dança' na estação de transbordo mais movimentada da cidade. Homens, mulheres e crianças não resistiram à batida e houve até quem fizesse coreografia. Com a bolsa do trabalho em um dos ombros e uma latinha de cerveja na mão, a vendedora Joseane Faria, 36 anos, aproveitou a festa para antecipar o fim de semana.

"Nesse sábado e domingo eu vou estar de folga, então, já comecei a curtição", afirmou, enquanto Improvisava as coreografias. Ela não foi a única. Isaías Silva, 28, estava indo para casa, mas resolveu parar para dar uma espiadinha no que estava acontecendo. "Comprei uma cerveja, deu fome, peguei um churrasquinho. Agora, já foi. Só vou embora mais tarde", disse, entre risos.

 

NasaUm dos convidados da noite foi o pesquisador do Centro de Astrologia da Universidade Harvard (EUA) e integrante da Nasa, o astrofísico colombiano Antonio Copete, que destacou a importância de fomentar a tecnologia nas escolas. Ele usou a trajetória de vida dele como exemplo de incentivo para que adolescentes da periferia possam driblar os obstáculos e avançar nos estudos.

"O enfoque da palestra foi minha trajetória como pesquisador e cientista nos Estados Unidos, sobre minha origem na Colômbia e como trabalho para juntar esses dois mundos na Universidade de Havard, em projetos inovadores para empoderar e construir capacidades nas comunidades afros da América Latina", afirmou.

Ele contou que uma das principais dificuldades que teve foi com o idioma. A escola em que ele estudou não tinha carga horária suficiente para ajudar na formação em inglês e, por isso, ele precisou aprender por outros meios. Ele afirmou que o preconceito com latinos é real, mas que com dedicação e eficiência é possível vencer os obstáculos. Debate na mesa Mulheres e Tecnologia (Foto: Betto Jr/ CORREIO) "São muitas dificuldades, estruturais, físicas e de dinheiro, mas a maior delas é a falta de cresça em nós mesmos. Trabalhar a autoestima é o primeiro e o mais importante dos pontos. O sistema nos leva a acreditar que não somos capazes de fazer o que classes mais elitizadas fazem, mas isso não é verdade. Com trabalho, dedicação e disciplina podemos. Essa questão da autoestima acontece no Brasil, na Colômbia e nos Estado Unidos, e é isso que precisamos trabalhar todos os dias", disse.

A plateia assistiu a palestra com olhos atentos. O vai e vem frenético da Estação da Lapa parou por alguns minutos para ouvir os palestrantes. A vendedora e estudante de psicologia Ana Maria Lima, 32, estava voltando para casa, chegou até a escadaria, mas retornou para ouvir parte da discussão. "Esses debates são importantes porque falam sobre empoderamento, nos faz ver o mundo por outros olhos", disse. Banda Àttoxxá encerrou a noite (Foto: Betto Jr/ CORREIO) Mesa de debateTrês convidadas, com projetos na área tecnológica, participaram da mesa de discussão 'Mulheres e Tecnologia'. O evento foi mediado pela jornalista Maíra Azevedo, a Tia Má, que destacou a importância de debater o assunto também nas escolas. Ela acredita que através do debate sobre a tecnologia é possível incentivar e despertar novas ideias.

"A gente sempre enxerga a tecnologia como algo inacessível, algo que está sempre muito distante. Fazer um debate com pessoas que fazem vários tipos de inserção tecnológica, uma pessoa da área de robótica, de vídeos, de plataforma parecida com a Netflix, que é a Afroflix, trazer uma pessoa da Nasa, é fazer o que é mais importante porque o conhecimento só é válido quando ele socializa. Um evento como esse é importante porque democratiza e possibilita a discussão", afirmou.

Um dos projetos apresentados consiste em desenvolver um sistema sonoro para auxiliar deficientes visuais em ambiente fechados, como a própria estação da Lapa. Segundo a estudante de engenharia elétrica, Lorenna Vilas Boas, o objetivo é ampliar a independência para essas pessoas.

"Atualmente, as pistas táteis indicam rampas e desvios de obstáculos, mas não informam sobre a localização. O projeto está em fase de desenvolvimento, mas o objetivo é dar mais liberdade para pessoas com deficiência para que elas possam fazer escolhas de uma maneira mais segura", afirmou. Público se diverte e faz coreografia durante o show (Foto: Betto Jr/ CORREIO) RealizaçõesO cofundafor da Aceleradora Vale do Dendê, Rosenildo Ferreira, destacou a preocupação em oferecer espaço para artistas locais e da periferia. Segundo ele, a Ocupação Afro Futurista acontecerá todos os anos em Salvador e a proposta é expandir a discussão para outras cidades.

"Cerca de 80% do conteúdo é local. Salvador é uma cidade que tem um potencial incrível e que está se reinovando. Até dezembro, faremos um chamamento público para 30 projetos nas áreas de gastronomia, designer de moda e arte, desenvolvido por mulheres jovens da periferia", afirmou.

O evento é uma realização também do Seja Digital, empresa com apoio da Rede Bahia. Na quinta-feira (10), a Rede Bahia assinou um Termo de Cooperação Técnica que oficializa a realização da Patrulha Digital - uma ação de conscientização e esclarecimento de dúvidas acontecerá em seis bairros de Salvador, até o dia 27 de setembro, quando o sinal analógico será desligado.

“Uma equipe de multiplicadores, formada por 30 alunos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-BA), irá orientar a população nas comunidades em relação a conversão e, eventualmente, realizar a ativação de aparelhos. Porque tem gente que tem o kit digital, mas utiliza a televisão no modo analógico”, explica André Dias, diretor de projetos especiais da TV Globo. Ele também representa a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), idealizadora da campanha - realizada em parceria com o Senai e com a Seja Digital

Confira como fazer para receber o sinal e quem precisa se adaptar às mudanças.

Depois do desligamento do sinal analógico, a única resolução disponível de imagem será a da transmissão digital - de 1.280 x 720 linhas de pixels, contra 704 x 480 da analógica. Isso garante uma imagem com mais nitidez, além de ferramentas de inclusão, como o closed caption (legendas) em todos os canais.