Só 39% dos orelhões na Bahia funcionam; ligações estão gratuitas

São 57 mil telefones públicos no estado, 9 mil deles em Salvador, onde metade está quebrada; gratuidade é punição à Oi

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  • Nilson Marinho

Publicado em 3 de outubro de 2017 às 21:00

- Atualizado há um ano

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. por Foto: Evandro Veiga/CORREIO

Alguns, há tempos deixaram de ser utilizados com frequência; outros, penam com a degradação e a falta de manutenção, e já nem funcionam mais. É esta a situação da maioria dos 57 mil telefones públicos da Bahia. Apenas 39% deles funcionam, atualmente, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Em Salvador, são cerca de 9 mil orelhões, mas só 49% estão aptos para ligações.

Desde domingo (1°), os telefones públicos passaram a realizar, de forma gratuita, ligações locais e de longa distância nacional para telefones fixos. A medida, que vale somente para orelhões da concessionária Oi, foi determina pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e passou a valer em 15 estados como forma de punição, depois de se verificar que a empresa não cumpriu a exigência da Anatel de manter o nível de equipamentos em condições de operação, em cada estado, em pelo menos 90%.

Todos os estados que passaram a ter orelhões gratuitos estavam abaixo desse patamar. Isso foi constatado depois de uma fiscalização realizada no último dia 30 de agosto. A Bahia ficou longe de ter, pelo menos, metade dos seus 75 mil equipamentos em condições de uso. Com os 39% dos orelhões operando, ficou, segundo a Anatel, à frente apenas da Paraíba, com 35% de telefones em condições de uso, e do Pará, que tem míseros 18% em funcionamento. 

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As ligações gratuitas podem ser feitas até o dia 30 de março de 2018, quando deverá ser divulgado pela Anatel o resultado da próxima fiscalização das condições de disponibilidade dos orelhões. O levantamento deve ser realizado pela agência no final de fevereiro.

Este é o sexto ciclo de gratuidade em ligações no país. O primeiro foi em 15 de abril de 2015, quando, além da Bahia, mais 14 estados também adotaram a medida: Alagoas, Amazonas, Amapá, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Sergipe.

Dessa vez, o Espírito Santo, Roraima, Santa Catarina e Sergipe passaram a adotar a exigência. O Rio Grande do Sul, que estava na lista dos estados com aparelhos insuficientes, vai voltar a cobrar pelas ligações, já que, no levantamento mais recente, o estado apresentou 92% dos orelhões em funcionamento. 

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Utilidade pública E quem vê um orelhão por aí, pode até pensar que o equipamento não é mais utilizado, já que a maioria da população já migrou para celulares e smartphones. Mas, é apenas uma impressão. Os bons (quando funcionam) e velhos telefones públicos ainda quebram um galho danado, sobretudo quando a ligação é para outro telefone fixo ou quando andar com os telefones móveis no bolso passou a ser sinônimo de perigo. O PM aposentado Jair de Jesus deixou de sair com celular e usa orelhões para não ficar incomunicável (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) É o caso do policial aposentado Jair de Jesus, 57 anos, que há cerca de dois anos passou a sair de casa apenas com a carteira e o cartão de passagem no bolso, por temer ser assaltado. Quando precisa ligar para alguém, é ao orelhão mais próximo que ele recorre."Fui assaltado e, desde então, não saio mais com meu celular. Como o telefone da minha casa é fixo, ficou mais fácil entrar em contato com a minha mulher", afirma Jair, usuário assíduo. Na manhã desta terça-feira (3), o policial aposentado esteve no Terminal Rodoviário de Salvador, onde seis telefones públicos estão à disposição dos 11 mil passageiros que embarcam e desembarcam lá todos os dias - metade deles não funciona.

Jair, que foi até a rodoviária comprar passagens, fez questão de ligar para a mulher para avisar que chegou em segurança. "Liguei só para dizer que cheguei e já estou voltando", contou ele. Como a única opção do aposentado é o orelhão, ele, mais do que ninguém, é o maior prejudicado nessa história toda. "Às vezes, procuro um e não acho", protesta.

Na mão Quem também deu de cara com aparelhos fora de serviço foi a dona de casa Flávia Chirlei, 22, que precisava entrar em contato com urgência com o ex-marido, mas acabou não conseguindo realizar a chamada. A dona de casa Flávia Chirlei tentou quatro orelhões para fazer ligação, mas sem sucesso (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Na Praça Novo Marotinho, no bairro Novo Marotinho, Flávia testou os quatro aparelhos do local, enquanto conversava com a reportagem. Nenhum funcionou."Tive que desistir e deixar para lá. É sempre assim", lamenta a dona de casa.Justificativa Segundo a Anatel, além dos telefones públicos da Oi, a Bahia tem 132 da concessionária Embratel, no entanto, "a gratuidade só vale para os orelhões da Oi". A empresa alega que os aparelhos sofrem, diariamente, danos por vandalismo. A concessionária informa ainda que mantém um programa permanente de manutenção de seus telefones públicos e que conta com as solicitações de reparo enviadas à companhia pelo telefone 10314, as quais podem ser feitas por qualquer consumidor ou entidade pública. O ambulante Antônio Félix descobriu um macete para usar orelhão na Pituba, e ajuda quem tenta usar (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Pode ser uma forma de contribuir e, quem sabe, evitar que um orelhão fique sem funcionar direito por mais de um ano. É o que ocorre com o telefone que fica no cruzamento da Rua Piauí com a Avenida Manoel Dias, na Pituba, segundo o vendedor ambulante Antônio Félix, 56, que trabalha no local há mais de 20 anos. Mas ele descobriu que, mesmo sem a ajuda técnica, é possível fazer o telefone fazer chamadas, a partir de um macete."Todo mundo vem, tenta e não consegue. Só eu sei a maneira certa de usar, mas só informo para quem me pede. É muita gente que reclama", conta Antônio.Segundo conta, o orelhão só consegue completar uma chamada depois que o usuário pressiona duas vezes seguida o gancho. Na falta de manutenção, o jeito é recorrer à criatividade ou à adivinhação.