Sobre Renê Júnior, Tréllez e racismo

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  • Miro Palma

Publicado em 25 de outubro de 2017 às 02:17

- Atualizado há um ano

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Nem a derrota e nem o retorno do Vitória à zona de rebaixamento foram responsáveis por tornar tão negativo o último Ba-Vi do ano, realizado no domingo passado, na Fonte Nova, pela 30ª rodada do Campeonato Brasileiro. Mas sim, uma acusação de injúria racial que aconteceu nos últimos minutos da partida.

Após uma confusão em campo, o volante tricolor Renê Júnior ficou muito irritado e depois saiu do gramado chorando. Segundo ele, o colombiano e rubro-negro Santiago Tréllez o chamou de macaco. Os dois foram para o vestiário sem dar entrevista. Já na sala de imprensa, ao lado do presidente do clube, Marcelo Sant’Ana, Renê reafirmou a acusação, mas disse que não registraria a denúncia. “O que aconteceu é inadmissível no mundo de hoje, mas eu sou maior que isso aí”, falou. O clube condenou a ofensa e escolheu seguir a vontade do jogador.

 Do outro lado, o Vitória preferiu não fazer uma coletiva e Tréllez deixou o estádio correndo da imprensa. O clube, então, publicou um vídeo em que o atacante colombiano pede desculpas ao rival pelos xingamentos, mas garante não ter feito nenhuma ofensa racial. Ele não disse quais foram os xingamentos proferidos no calor da confusão, apenas que “não chamaria ele do que disseram que eu falei”. E completou: “Primeiro, porque eu sou preto. Meu pai é preto, rastafári. Na minha família, temos pretos. Eu amo ser preto”.

 O presidente em exercício e o técnico do Vitória optaram por colocar panos quentes no ocorrido. Agenor Gordilho considerou essa uma situação contornável. “Quero falar com o jogador para saber o que aconteceu, mas vamos contornar tudo. Vamos dar cobertura ao atleta, mas tenho certeza que foi um grande mal-entendido. Tudo se contorna”, assegurou. Já Mancini comparou uma possível injúria racial com uma falta de fair play. “Tiveram dois lances ridículos em que o Bahia deveria devolver a bola e não devolveu. Um com Zé Rafael e outro com o próprio Renê, que deveria dar o fair play. Assim como se o Tréllez falou alguma coisa, também errou”, avaliou.

Em seu perfil em uma rede social, Tréllez falou do pai negro mais uma vez e reforçou a má interpretação do colega tricolor. “Sou filho de um homem negro, o que faz de mim um negro também”, iniciou o texto. Mais uma vez, os termos que foram usados na discussão em campo não foram mencionados.

É difícil acusar um jogador de uma atitude tão lamentável sem total noção do que realmente aconteceu. Mais do que difícil, seria leviano. Ao mesmo tempo, devido à conduta de Renê Júnior como profissional no Bahia, é, também, árduo achar que ele faria isso para apenas prejudicar o atleta rubro-negro. Estamos falando de um suposto crime, e não somente de uma discussão. 

Porém, para além do fato que não está perto de ser esclarecido, visto que não há nenhum registro que corrobore com uma das versões, o que mais me chamou atenção foi a postura do Vitória enquanto clube. O presidente tratou como um incidente a ser contornado e o técnico achou que uma injúria racial é uma questão de fair play. Mesmo a possibilidade de um ato tão deplorável deveria ter uma atenção maior do dirigente e do comandante do time. Relativizar uma atitude racista é compactuar com ela. Isso, independente, de ela ser comprovada e de sua origem ser ou não de um profissional do time.

Um clube que defende a bandeira da igualdade em todas as suas vertentes teria sido mais incisivo quanto à investigação sobre o ocorrido e, mais ainda, em condenar qualquer ação que fira esse princípio. Por não ter feito isso, o Vitória saiu de lá com duas derrotas.

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às quartas-feiras