Sol, suor e inflação: verão deixa itens da época até 10% mais caros

Índice geral fechou o ano em 3,23%; acumulado dos itens mais consumidos na estação caiu 1,35%

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  • Priscila Natividade

Publicado em 22 de janeiro de 2018 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes/ CORREIO

Que o Verão é bom e todo mundo gosta, a gente bem sabe. Mesmo registrando uma queda de 1,35% entre janeiro e dezembro de 2017, a estação mais quente do ano chega aumentar em até 10% o preço dos produtos mais consumidos nesta época. 

O termômetro da inflação não para por conta do crescimento da alta procura, como aponta um levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Os dados têm como base no Índice de Preços ao Consumidor (IPC/FGV), calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre). 

Entre janeiro a dezembro de 2016, a inflação dos itens de Verão chegou a 9,25%. “O efeito da queda é comprometido por conta do acúmulo de novos aumentos, devido a própria estação e também ao efeito do aumento da demanda da estação”, explica o coordenador do IPC do FGV-IBRE e responsável pela pesquisa, André Braz. 

No mesmo período, o IPC-FGV subiu 3,23%, destaca ainda Braz. “É aí que o consumidor precisa ficar de olho, mesmo sendo uma tendência sazonal. É a procura que mantem o preço alto. O dever de casa está na mão do consumidor: você não precisa deixar de consumir, mas já ajuda reduzindo o consumo. Isso contribui bastante na regulação do preço”.

Não adianta só reclamar dos valores. “Vale refletir sobre o que é justo pagar e não continuar pagando por um preço alto demais, contribuindo para a carestia. O equilíbrio só vai acontecer de acordo com a resposta da demanda. Ninguém vai continuar vendendo um coco por R$ 10 se o consumidor se recusar a pagar por isso”. 

Produtos como frutas (-15,59%), passagens áreas (-9,56%) e protetores para pele (-6,15%) tiveram as maiores quedas no acumulado. Já o cafezinho (6,53%), academia (5,41%), cervejas e chopps (5,11%) são alguns dos itens que subiram mais que a inflação. 

“Tudo que tem o serviço envolvido ficou mais caro. O aumento tem muito a ver com a pressão do custo, que ao longo do ano foi repassado para o consumidor. No entanto, a queda das frutas, por exemplo, tem muito a ver com a boa safra. Quando o clima ajuda, aumenta a oferta e os preços caem”, pontua. 

 Farofa

O administrador Danilo Borges é daqueles que não abrem mão do sol. Junto com os amigos James Amaral, Fábio Mascarenhas e Raren Araújo, em uma tarde na praia do Farol da Barra, a conta da cerveja já chegava a R$ 150. 

“O que mais pesa é a bebida. No Verão, eu acabo gastando três vezes mais o que gasto em outras épocas do ano. Se for colocar na conta, ensaio de Verão então, o rombo no cartão de crédito é certo”, afirma o administrador. 

A ida para curtir a praia fora do final de semana até surpreendeu: “A cerveja que a gente paga R$ 8 em um domingo, por exemplo, hoje saiu por R$ 5”. 

Mas há quem prefira chegar à praia com o seu kit básico garantido, como os primos Taísa Santos, Adriane Moreira, Ícaro Junqueira e Adriele Santos,  que só saem de casa com o cooler cheio. “Gastamos a metade do que íamos pagar na praia. Aproveitamos a promoção do depósito de bebidas do bairro. Cada caixa de cerveja saiu por R$ 20, mais água e refrigerante fechou R$ 70 e aqui a gente fica a tarde toda”, afirma Taísa. 

Para o acarajé (que é de lei) e mais outros petiscos, eles reservam uma grana para comprar na praia. “O aumento é bem menor, coisa de R$ 1 ou R$ 2 em comparação com a baixa estação”, completa Adriele.

Freguês

Para o educador financeiro Edval Laundulfo, o bronze vai ficar mais barato com o kit praia. Ele fez um cálculo bem básico para o CORREIO, levando em consideração dois adultos e duas crianças. Colocou na caixa térmica 12 cervejas,  suco de frutas, água, refrigerante, gelo e mais um pacote de amendoim e outro petisco. O gasto não ultrapassou R$ 60. 

“O kit vai depender muito do consumo, mas esse valor pode cair bastante também se o consumidor fizer uma boa pesquisa, supermercado por supermercado. Aí sobra até um troco para os ensaios e as festas do Verão”, aconselha. 

Agora, se você não resiste ao queijo coalho na brasa, ao caldinho de sururu e outras iguarias, a dica é chamar o vendedor na barganha: “pechinchar não é vergonha. Vergonha é não ter dinheiro. É outra boa estratégia para usar no Verão, porque ninguém quer perder o seu freguês. Encontrar um preço bom para todo mundo, onde ganha o cliente, o vendedor e o bolso dos dois”.

Produtos e serviços Inflação acumulada de jan a dez/17 (%) Frutas -15,59 Refrigerantes e água mineral    1,39 Suco de fruta    3,53 Polpa de fruta congelada            5,32 Refresco de fruta em pó      -4,10 Erva mate -3,23 Bebidas de soja 5,40 Cerveja 2,28 Refrigerante diet/ light 3,21 Sorvetes fora de casa    2,98 Suco de fruta fora de casa 5,69 Cafezinho           6,53 Refrigerantes e água mineral fora de casa       3,66 Cervejas e Chopps         5,11 Ar-condicionado              1,67 Geladeira e freezer        1,74 Ventilador e circulador de ar      0,68 Protetores para pele     -6,15 Academia de ginástica  5,41 Hotel     -4,21 Passagem área -9,56 Excursão e Tour               6,47 Taísa, Adriele, Adriane e Icaro optaram por turbinar o cooler ao invés de pagar por R$ 7 pela cerveja na praia (Foto: Almiro Lopes/ CORREIO) PREÇOS EM QUEDA

Frutas (-15,59%) A queda no preço das frutas é reflexo do ano positivo para a agricultura, já que os preços são influenciados pela condição climática. Bom para o feirante Jonatan Santos, que não tem do que reclamar. Na banca montada no Rio Vermelho, ele vende umbu, maracujá, pinha, seriguela, maçã, mamão, tangerina e banana. “Estou gostando, viu? E vendendo bastante. Quando a gente compra mais barato na Ceasa e na roça, consegue vender mais barato também e ganha na quantidade. Todo dia estou repondo a banca e aí dá para pegar lucro.  A tangerina mesmo, baixou muito. Está saindo o monte de seis por R$ 2”, comemora.

Passagens áreas (-9,56%) Segundo um levantamento feito pelo buscador de viagens Kayak, o preço das passagens áreas saindo de Salvador caíram 56%. Na comparação entre janeiro e o mesmo período de 2017, a pesquisa levou em conta a viagem no Carnaval. O destino com maior queda de preço foi Recife, onde o trecho de ida e volta fechou em R$ R$ 536,78. Fortaleza teve a segunda maior queda (-28,2%) e Rio de Janeiro (26,6%). “O contexto é de reaquecimento da economia e do setor. Além disso, o Carnaval vem crescendo em outras praças, o que pode ter levado a oferta de preços mais competitivos”, analisa o country manager do Kayak no Brasil, Eduardo Fleury.

Protetores para pele (-6,15) Na rede de Farmácias Pague Menos, os produtos que registraram maior queda em um ano foram o protetor labial (-43,54%) e o pós-sol (-26,89%). Para o diretor financeiro da empresa, Luiz Novais, a redução do poder de compra do consumidor, por conta da crise, fez com que o mercado diversificasse as opções. “Os produtos de proteção solar com menor preço cresceram sua participação. A categoria dispõe de um mix diversificado, com opções de marcas, benefícios e valores. Essa é uma forma do consumidor não ter que abrir mão. Preço é determinante para públicos que tiveram seu poder de compras diminuído”, afirma.

PREÇOS EM ALTA

Cafezinho (6,53%) Ninguém abre mão do cafezinho. O produto acumula a maior alta entre os produtos mais consumidos no Verão: quase o dobro da inflação do ano, medida pelo IPC - FGV, que fechou em 3,23%. De acordo com o dono das franqueadas da Cafeteria Feito a Grão, nos Shoppings Barra e Paralela, Luiz Laranjeira, a última safra nas remessas de novembro a janeiro tiveram reajuste de 8%. No entanto, o empresário diz que segurou o aumento. “O café é o meu artigo principal, por isso não alteramos.  A alternativa de diluir o custo foi  aumentar o valor de outros itens do cardápio, a fim de diminuir a diferença e manter o cliente fiel à marca”.

Cervejas e Chopps (5,11%)  O diretor institucional da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-BA), Júlio César Calado, reconhece que a inflação chegou também no preço da cerveja e do chopp. “As cervejarias não aliviam e tem aumentando os preços sem justificativas. Mas o empresário que está desesperado atrás de cliente para manter o bar aberto, compromete a sua margem e não repassa esse aumento todo”, pontua Calado. Ainda de acordo com ele, o preço de uma caixa de cerveja, que antes custava R$ 90, pulou para R$ 116. “O setor ainda trabalha com promoção de dobrado e segura o preço da cerveja por R$ 5,50 (650 ml)”.

Academia (5,41%)  Manter o corpo sarado também ficou mais caro. No entanto, na Academia CFC Fitness, localizada em Brotas, a alternativa para trazer os alunos de volta foi apostar nas promoções. Segundo a proprietária, Maiara Passos, o preço de R$ 185 caiu para R$ 130 até o mês de março. “Estamos tentando ganhar no volume. A crise tirou muita gente da academia. Fora isso, as despesas com energia aumentaram muito. Uma conta de R$ 2 mil subiu para R$ 3,2 mil, em um mês”. Reajuste mesmo no último ano, só na área dedicada às artes marciais, a CFC Fight. O aumento não passou de R$ 15. “A procura do público feminino cresceu”, destaca.