“Solução é remover sedimentos do fundo”, dizem professores da Ufba em aula no dique 

Equipe do Instituto de Biologia da Ufba levou estudantes para analisarem manancial

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 21 de outubro de 2017 às 19:23

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Os microscópios foram montados no deck principal, nos fundos dos restaurantes, bem na margem do Dique do Tororó. Alunos, moradores, curiosos e até pescadores foram chegando aos poucos. Todo mundo de olho nos microorganismos e nas orientações dos quatro professoras do Instituto de Biologia da Ufba, que neste sábado, 21, realizaram uma aula pública para explicar o mau cheiro e a coloração esverdeada de um dos cartões postais de Salvador.

Além de esclarecer os motivos da fedentina que há algumas semanas vem tirando a paz de quem passa pelo local, eles apontaram soluções para o problema. Segundo um dos professores da Ufba, o biólogo Eduardo Mendes da Silva, o mau cheiro do dique é resultado da floração de algas que se alimentam do excesso de matéria orgânica arrastada pelas chuvas, associado à poluição histórica crônica do manancial. 

“Estamos falando de 400 anos de poluição. Essa poluição está principalmente no fundo do dique e alimenta as algas, que se proliferam. É a deterioração dessas algas que causa o mau cheiro”, diz o professor. A solução? “A solução mais viável e rápida é remover a água suja, o lodo, o sedimento orgânico que fica no fundo do dique. Seria um grande avanço”, afirmou o professor, sugerindo que fosse feita uma grande dragagem no sistema aquático.

“A dragagem é uma solução cara, mas um sistema como o dique merece essa atenção. Quem mora aqui tem que ter o direito de fazer esporte, de passear de pedalinho e até de nadar”, disse o professor. “O dique é um cartão postal, um espaço de lazer, um local de ocupação do espaço público e merece maior atenção das autoridades”, concordou a também bióloga Taiara Caires, doutora em botânica.

Além de entender detalhes do problema, moradores da região diziam que o problema é recorrente. “Sempre acontece. Mas agora tá pior. Um patrimônio como esse não poderia estar abandonado dessa forma. As autoridades estão brincando com a população”, critica o fisioterapeuta Henrique Saldanha, que mora na vizinhança e levou a filha para observar os microscópios. Um pescador que assistia a aula disse que os peixes estão morrendo. "Pratico pesca esportiva no dique há anos. Os peixeis estão cada vez mais sumidos", disse Antônio dos Santos, 42 anos, que, além de pescador, é comerciante. Segundo biólogos da Ufba, lixo jogado no dique piora proliferação de algas (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Mas, também foi dado um recado para os próprios moradores. Afinal de contas, alguns deles também ajudam na poluição quando jogam mais matéria orgânica nas águas. “Esse lodo existe há muito tempo dentro do dique, mas ele é potencializado pelo material orgânico trazido pelas chuvas e pelas pessoas que jogam lixo”, afirmou Adriana Medeiros, professora de biologia da Ufba e especialista em microbiologia ambiental.

Adriana ressaltou que, além da remoção do sedimento, há outras iniciativas possíveis para amenizar a proliferação de algas. Segundo a bióloga, é necessário fazer a água circular. Uma das formas já existe. É a utilização de aeradores, que esguicham água e levam um pouco de oxigênio para as águas. “Mas é preciso um sistema de circulação que funcione. Os aeradores podem estar entupidos”.

Naturalmente, os sistemas aquáticos parados favorecem à floração de algas, especialmente se esses sistemas não tiverem manutenção. Segundo a professora, se isso continuar acontecendo, o dique pode deixar de existir. “É um processo natural, mas estamos acelerando ele. Como é um sistema dentro de uma região urbana e utilizado pela população, a gente espera que as autoridades tenham cuidado com ele. Tem que restaurar, tem que limpar o dique”.