Somos um bando de otários

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  • Ivan Dias Marques

Publicado em 8 de setembro de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Pelas ruas de Belo Horizonte, anda uma atleta olímpica do Rio-2016. Ela foi membro da equipe brasileira de nado sincronizado. Mas a nadadora não está a caminho do treino. No rosto, nenhuma maquiagem especial. No corpo, nenhum maiô. Ela anda de roupa normal, dirigindo um Uber para conseguir se sustentar ao mesmo tempo que se dedica, em outro turno, ao esporte. A areia quente da praia de Copacabana até dá uma aliviada no meio do ano. Mas, mesmo assim, caminhar por ela dá trabalho, ainda mais com um isopor cheio de empadas para vender. Ainda bem que o vendedor tem boa condição física. Afinal, fez parte da seleção brasileira de handebol, que competiu no ano passado no Rio-2016. Aos domingos, o trânsito na Avenida Paulista, na capital paulista, é suspenso das 10h às 19h para carros. Assim, as pessoas podem andar de bicicleta, de skate, dar uma volta e apreciar uma apresentação da seleção brasileira de ginástica rítmica no vão do Museu de Arte de São Paulo, como aconteceu no início desta semana. Vale lembrar também que a seleção brasileira de polo aquático feminino fez uma vaquinha online no início do ano passado para custear uma viagem de preparação para os Jogos do Rio. Equipe essa que, após a Olimpíada, perdeu sua melhor jogadora e um fenômeno das águas (Izabella Chiappini) para a Itália, adivinhem o porquê. Felipe Perrone, outro monstro, voltará a defender a Espanha, provavelmente.  Enquanto isso, a Confederação Brasileira de Basketball (CBB) está falida, a de Desportos Aquáticos teve o ex-presidente preso, a de Taekwondo é alvo de investigação, a de Vôlei passou por um escândalo dois anos antes dos Jogos e o presidente da de Futebol não pode deixar o país senão é preso.  A cereja do bolo foi Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e de tudo mais que organizou o Rio-2016 teve a vida devassada e cerca de R$ 480 mil e alguns carros apreendidos como garantia de devolução de dinheiro à União, após uma operação conjunta das Justiças brasileira e francesa.

Nuzman é acusado de fazer parte (provavelmente, encabeçar) um esquema de compra de votos para fazer do Rio a sede olímpica do ano passado. Além dele, o ex-governador Sérgio Cabral, já envolvido em outras maracutaias, também participou das operações.  Pra mim, ninguém que fica mais de 12 anos à frente de uma federação ou confederação esportiva tem apenas interesses esportivos nela. Que Nuzman, há 22 anos no COB como o voto de algumas das federações citadas, não era um singelo coroinha (imagine santo) todo mundo já sabia. Faltava ter coragem de investigar. E olha que o Comitê Olímpico Internacional foi avisado em 2012 e passou pano. Como todos nós sabemos, vide o caso Fifa, no esporte - ao menos, isso - a corrupção e a indecência não são exclusivas dessa terra verde-e-amarela. Taí nosso legado olímpico. Enquanto, os atletas fazem bicos para continuar treinando, os homens de paletó enchem as malas, os cofres e as contas de bambá. Bambá meu, seu e dos atletas, que dedicam seus corpos e suas vidas ao esporte para vir um sacana e dizer que ele amarelou porque não ficou em primeiro. Um dia depois do Dia da Independência, venho dar os parabéns a todos nós honestos nesses país. Faz 195 anos que um monte de “espertos” nos faz de otários todos os dias. Quase sempre livres, dando risada e bebendo champanhe.

*Ivan Dias Marques é subeditor do Esporte e escreve às sextas-feiras