Tecnologia cria novas formas de emprego e de fazer negócios

Empresas se valem dos cliques na internet para definir perfil e novos produtos para os clientes que, por sua vez, participam com mais com sugestões

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  • Thais Borges

Publicado em 25 de outubro de 2015 às 15:34

- Atualizado há um ano

Naeem Zafar: "As tecnologias estão vindo sumariamente. Não lute contra mudanças" (Evandro Veiga)Um tsunami. O professor Naeem Zafar, da University of Berkeley, na Califórnia, não tem dúvida de que essa é a melhor forma de classificar as mudanças trazidas pela nova era digital. Para ele, que é especialista em empreendedorismo e CEO de uma empresa que cria soluções para Internet das Coisas (a TeleSense), essa onda vai mudar totalmente a forma de fazer negócios.

Mas, segundo o professor, não há por que se assustar. Na verdade, os empreendedores devem enxergar uma oportunidade nessa nova paisagem, inclusive no que parece ser um transtorno. “Acredito que temos que reconhecer que as mudanças estão surgindo e que diversas delas são necessárias, como o treinamento de funcionários. As tecnologias estão vindo sumariamente. Não lute contra mudanças”.

Até mesmo porque a tecnologia deve reduzir os custos dos novos negócios. Com o Big Data, por exemplo, as companhias podem ficar mais eficientes. “O Big Data trata-se de coletar informações sobre como seu cliente utiliza seus produtos e o que eles consomem. Isso vai ajudar a identificar várias coisas, como se você precisa começar a construir uma nova fábrica”, exemplifica Zafar.

Dessa forma, quem conseguir ter um olhar mais sagaz ou atencioso diante do que for coletado pelo Big Data deve ser cada vez mais produtivo e aumentar os lucros.

Cliente Publicitário

Aqueles que souberem tirar o melhor disso também vão economizar até com os valores dos contratos de marketing e publicidade. “Nos últimos anos, você tinha que gritar para falar para as pessoas sobre seus produtos. Só que seria melhor se você pudesse fazer com que seus clientes falassem de você”, explica o professor, referindo-se a iniciativas como a da Starbucks.

A maior cadeia de cafeterias do mundo lançou o site My Starbucks Idea (mystarbucksidea.force.com) para que seus clientes sugerissem o que eles podem fazer para melhorar os produtos e o atendimento. Resultado: uma grande comunidade de clientes conversando sobre a marca Starbucks. “Eles estão fazendo o marketing. E muitas ideias foram implementadas a partir disso, como novas bebidas”.

Tanto engajamento gerou mais de 45 mil sugestões só de tipos de café, além de 22 mil pitacos sobre tipos de comida e até opiniões sobre a responsabilidade social da empresa (mais de 11 mil). Ao todo, foram quase 2 milhões de interações e sugestões até hoje. E, assim, a Starbucks se transformou em um dos casos de maior sucesso da chamada Economia de Serviços hoje. “Isso certamente está mudando a indústria”, diz Zafar.

Mas os exemplos de empresas que estão se apropriando disso só aumentam. A Cisco, uma das maiores multinacionais da área de tecnologia do mundo, por exemplo, conseguiu reduzir seus custos de marketing em até 81%, segundo Naeem Zafar. “Empresas no Vale do Silício estão fazendo isso utilizando as mídias sociais. A Cisco aumentou sua eficácia em 212%”.

Até os serviços de atendimento ao cliente foram otimizados assim. Tradicionalmente, grandes empresas contam com milhares de funcionários somente para atender clientes. “Hoje, tem clientes que tiram dúvidas de clientes. É o engajamento do cliente, que também é um bom exemplo de redução de custos”, afirma.

Economia Compartilhada

Além disso, as novas tecnologias disponíveis criam possibilidades de negócio que, até pouco tempo, sequer tinham chance de existir. É o caso do Uber, aplicativo para transporte em carros particulares de luxo, e do Airbnb, de aluguel de imóveis para turismo.

Na Copa do Mundo de 2014, no Brasil, cerca de 80% das reservas de hospedagem foram feitas em sites como o Airbnb e não diretamente com o setor hoteleiro. Por isso, as antigas formas de indústria também devem ser remodeladas e afetadas pelas transformações.

“É economia compartilhada. Alguém tem uma coisa e alguém precisa dessa coisa. Na minha casa, tenho1.200 livros que não são tocados na maior parte do tempo. Ter uma maneira confiável de compartilhar isso, nem que seja por algumas horas, melhora a vida de todos”, explica.

Engajamento

Em meio a essas novidades, é importante não deixar de investir em treinamento desde as escolas. Segundo o professor, o Brasil está na contramão do mundo quanto à quantidade de horas na educação infantil: apenas quatro por dia. Em alguns países, crianças chegam a ficar até10 horas na escola. “Não sei como podem aprender tudo em apenas quatro horas”, critica.

Além disso, ele defende que as companhias também devem trazer o engajamento que os jovens têm com as tecnologias para o ambiente de trabalho. Dessa forma, é mais fácil atingir o sucesso comercial. “Jovens passam horas jogando videogame, mas, quando você diz para eles trabalharem em algum lugar, eles ficam entediados. Precisamos trazer essas mudanças para atrair as pessoas e aumentar a produtividade”.

A experiência da Target, rede de lojas de varejo dos Estados Unidos, é um exemplo de como agregar as coisas. E de uma forma simples: eles estabeleceram que, nos caixas, se as pessoas estiverem escaneando produtos em uma velocidade errada, vão ouvir um ‘bip’.

Assim, os funcionários conseguem ter uma noção de seu próprio ritmo - é a gamificação, a aplicação de elementos de jogos eletrônicos em contextos diferentes. No final, a produtividade cresceu 80%. Ainda assim, ele ressalta que as pessoas não vão ser ‘devoradas’ por essa nova realidade, até porque nem tudo será substituído por máquinas.

“O que importa é entender que nem tudo será substituído pelas máquinas. O papel dos seres humanos será a empatia. As máquinas não podem sentir isso”. Apesar das previsões, ele diz que não tem todas as respostas sobre o futuro. “Mas sei que mudanças vão surgir, teremos implicações sociais e temos que pensar nisso”.

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