Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.
Elton Serra
Publicado em 20 de agosto de 2017 às 05:16
- Atualizado há um ano
A diretoria do Bahia, desde que assumiu o clube, no final de 2014, sonha com um time que mostre uma identidade tática dentro de campo. Uma equipe que tenha no jogo ofensivo a sua marca, e que em casa seja imponente. Uma cultura que faça qualquer pessoa que assiste futebol identificar o tricolor baiano. Os dirigentes continuam sonhando.
Implantar uma filosofia de jogo não é fácil. Ela está diretamente ligada à cultura do futebol local. Na Inglaterra, por exemplo, no início do século passado, os torcedores se incomodavam quando uma equipe jogava priorizando a posse de bola – era a antítese do jogo vertical, de poucos toques e buscando sempre o gol, algo que eles estavam acostumados a ver. Até hoje, inclusive, é possível ver times que preferem um jogo reativo e veloz na Premier League, mesmo que a estratégia “kick and rush”, ideologia de jogo do inglês tradicional, tenha se transformado na terra da rainha. Quem se ousou a mudar completamente essa cultura se deu mal.
Com mais de dois anos e meio de gestão, a atual administração do Bahia já viu o time jogar de várias maneiras. Com Sérgio Soares, a equipe jogava de forma bastante ofensiva, como o clube sempre quis. Em 2015, o ex-treinador aplicava constantemente o 4-4-2 com um losango no meio-campo e jogadores velozes do meio para frente. Deu certo até o início da Série B, quando o tricolor passou a enfrentar dificuldades com adversários mais qualificados e falta de bons jogadores para manter o alto nível de intensidade. Soares caiu, o Bahia não subiu e a segunda tentativa foi com Doriva, que mudou a formação para o 4-2-3-1 em 2016, tentou jogar com mais posse de bola, mas também fracassou.
Num terceiro esforço para encontrar a sua identidade, o Bahia apostou em Guto Ferreira, que manteve o esquema tático de Doriva, mas voltou a jogar como gostava Sérgio Soares: transições rápidas, jogadas pelos lados do campo e muita intensidade. O acesso à Série A aconteceu, mas o tricolor sentiu dificuldades durante o percurso – muito mais por conta da insuficiência técnica do elenco, que não conseguia equilibrar o time quando os principais jogadores se ausentavam. O torcedor já começava a enxergar um desenho bem definido quando Guto resolveu trocar Salvador por Porto Alegre, assumindo o Internacional. A diretoria do Bahia, convicta de que tinha achado algo que poderia ser chamado de “cultura”, contratou Jorginho para dar continuidade ao processo, mas o técnico desmontou o castelo de areia criado pelo seu antecessor em menos de dois meses.
Não que o Bahia tenha voltado à estaca zero, mas deu alguns passos para trás. Em meio a um difícil Campeonato Brasileiro, priorizar resultados passa a ser o grande objetivo. Sem tempo para treinos mais intensos, o apelo é por uma equipe, no mínimo, equilibrada. Mesmo com os jogadores conhecendo o estilo aprimorado por Guto Ferreira dentro do clube, ainda não souberam recuperar a identidade. Preto Casagrande, técnico interino, tem um estilo diferente dos técnicos que passaram pelo Fazendão, apesar de ter vivenciado de perto toda a evolução tática pela qual o Bahia atravessou nas últimas duas temporadas. A escolha de um novo treinador, caso a opção seja por uma mudança de comando, passará pelo resgate de uma filosofia ainda em construção, mas é pouco provável que esse processo volte aos trilhos em curto prazo.
*Elton Serra é jornalista e escreve aos domingos