Três bairros do Subúrbio de Salvador estão com surto de chikungunya

As notificações foram registradas em Coutos, Alto de Coutos e São João do Cabrito; são 27 casos confirmados na região

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  • Jorge Gauthier

Publicado em 13 de julho de 2017 às 11:53

- Atualizado há um ano

Moradores de cinco ruas de três bairros do Subúrbio Ferroviário de Salvador estão convivendo com um surto de chikungunya, doença transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti, o mesmo da dengue e zika, e Aedes albopictus. A informação foi confirmada pela diretora da Vigilância em saúde da Secretaria da Saúde de Salvador, Geruza Moraes.

Segundo Geruza, de maio a junho de 2017, foram notificados 171 casos suspeitos da doença nos três bairros. Desses, 41 amostras de pacientes foram coletadas, 27 deram resultado positivo para chikungunya e outras cinco estão em investigação.

Casos de chikungunya devem voltar a subir neste ano

Em Coutos, foram 55 casos notificados e 22 confirmados na Rua Setúbal. Já em São João do Cabrito, os casos estão distribuídos em três ruas: São Paulo, Sá Oliveira e Ferroviário. Nessas três ruas foram 72 casos notificados e cinco já confirmados. O terceiro bairro com surto da doença é Alto de Coutos que tem 44 casos notificados na Rua Caixa D´Água.

"A vigilância epidemiológica do município visitou o local e realizou coleta de material para investigação, além da busca ativa de outros possíveis casos suspeitos. Esses casos foram descobertos por nossos agentes de campo. Não foram notificados em postos porque a maioria das pessoas não buscou atendimento", explica Geruza.

Ela esclarece que entre os pacientes há muitas pessoas que dependem do trabalho no mar. "Temos conhecimento de pescadores e marisqueiras que não estão conseguindo trabalhar por conta das dores que estão sentindo. A chikungunya é uma arbovirose que incapacita o indivíduo. As pessoas não se reestabelecem muito rápido. Há casos de gente que fica mais de dois anos sentindo as dores", pontua Geruza.

'Dores terríveis'Na manhã desta quinta-feira (13), o CORREIO esteve na Rua Setúbal e entrevistou moradores da região, como o pescador Isaías de Jesus, 50 anos, que há oito dias sofre com a doença. “Que mosquito miserável. Nos primeiros dias, sequer saí da cama. Conseguiu me derrubar, eu que pesava 100 quilos”, declarou, exibindo o resultado do exame positivo para chikungunya.  

Mesmo doente, voltou ao trabalho ontem. “Tenho duas filhas para criar. Apesar das dores terríveis no corpo todo, não posso ficar parado. Não tenho a mesma força de antes. Hoje, conto com ajuda de outros pescadores para carregar o motor do barco, o que antes fazia só tranquilamente. Não desejo isso ao meu pior inimigo”, contou.

O auxiliar de produção Ueverton Ferreira dos Santos, 28, também é uma das pessoas que passa por tratamento da doença. “Sinto dores nas articulações, tonturas, náuseas. Os sintomas começaram há dois meses e há um mês fiz o exame que deu positivo para chikungunya”, disse o rapaz, que exibia o rosto e os braços cobertos de picadas de mosquitos. “Isso foi só hoje à noite”, declarou.

Segundo ele e os demais moradores, o foco da doença está num córrego que está à margem da linha do trem. “A água parada está cheia de larvas do mosquito. Já pedimos providências, mas nada é feito até agora”, disse ele, fazendo referência à Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB) que seria responsável pela limpeza da área. “Os moradores não aguentam de tanto mosquito. Estão jogando até óleo queimado no córrego como paliativo”, complementou – segundo os moradores, o óleo forma uma camada sobre a água e impede que o mosquito deposite as larvas.

InspeçãoA diretora da Vigilância em Saúde da SMS, Geruza Moraes, relata que o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) realizou inspeção para identificação e eliminação de possíveis focos do principal mosquito transmissor, o aedes aegypti. Foram realizadas ações como aplicação de inseticida, mutirão de limpeza e distribuição de material educativo a fim de conscientizar a população sobre a importância de contribuir para a eliminação de focos do mosquito.

"Na semana passada, foram retiradas só da Rua São Paulo em São João do Cabrito três toneladas de lixo com o apoio da Limpurb. É preciso que as pessoas se conscientizem e descartem o lixo no local adequado", explica a diretora da vigilância.

"Não há uma razão única para o surto estar acontecendo. No caso das arboviroses, que são transmitidas por mosquitos, o cuidado com o descarte de lixo é um dos fatores que colaboram com o aumento no número de casos associados ao armazenamento inadequado de água".

Falta d'água pode estar relacionada ao aumento da infestação do mosquito da dengue Ilustração/CORREIOAtenção com o mosquito Esse surto registrado no Subúrbio vai aumentar o número de casos de chikungunya que já foi registrado, desde o início do ano, em toda capital baiana. Foram 67 confirmados entre 2 de fevereiro e 8 de julho deste ano. No ano passado, no mesmo período, foram 136 confirmados.

"Esses dados do surto nos três bairros ainda não estão constando nesse levantamento por questões sistêmicas", esclarece. Outra arbovirose é o zika vírus, que este ano já teve 31 casos confirmados, contra 55 no mesmo período de 2016. Já de dengue foram 352 casos confirmados este ano - contra 850 no mesmo período do ano passado. 

De acordo com o Ministério da Saúde, a transmissão autóctone de chikungunya no Brasil foi confirmada no segundo semestre de 2014, primeiramente nos estados do Amapá e da Bahia. Desde então, todos os estados do país registraram ocorrência. A alta densidade do mosquito, a presença de indivíduos suscetíveis e a intensa circulação de pessoas em áreas endêmicas são alguns dos fatores que contribuem para a transmissão.  

A doençaA chikungunya persiste por até dez dias após o surgimento dos sintomas. A transmissão se dá através da picada de fêmeas dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus infectadas pelo CHIKV - vírus que transmite a chikungunya.

Os sinais e sintomas são clinicamente parecidos aos da dengue – febre de início agudo, dores articulares e musculares, cefaleia, náusea, fadiga e exantema (manchas ou erupções na pele). A principal manifestação clínica que a difere são as fortes dores nas articulações, que muitas vezes podem estar acompanhadas de inchaço.  

De acordo com o guia do Ministério da Saúde, "Chikungunya: manejo clínico", a doença tem como consequência a redução da produtividade e da qualidade de vida.

A origemO nome chikungunya deriva de uma palavra em Makonde, língua falada por um grupo que vive no sudeste da Tanzânia e norte de Moçambique. Significa “aqueles que se dobram”, descrevendo a aparência encurvada de pessoas que sofrem com as dores articulares características da doença.

O CHIKV foi isolado inicialmente na Tanzânia por volta de 1952. Desde então, há relatos de surtos em vários países do mundo. Nas Américas, em outubro de 2013, teve início uma grande epidemia de chikungunya em diversas ilhas do Caribe.