Twelves, o macaco cremado

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  • Malu Fontes

Publicado em 26 de março de 2018 às 07:50

- Atualizado há um ano

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Agora Inês é morta. E cremada. E o macaco Twelves também. E se você não sabe quem raios é o macaco Twelves, agradeça por sua sanidade e por conseguir se manter à margem da insanidade brasileira e do mundinho paralelo das celebridades de quinto escalão nas redes sociais. O macaco Twelves vivia como gente, era tratado como gente, era vestido com roupas de gente, morreu como gente (atropelado), teve um funeral de gente (foi cremado), e gerou em seu “pai”, o cantor Latino, um luto do tipo que as pessoas têm por gente. Frase do “pai”: hoje é o dia mais infeliz da minha vida. Orem por mim”. Ah, tá.

Que famosos cuja carreira é mais lembrada por aquilo que fazem fora dela mantenham seu nome na imprensa cor-de-rosa por suas excentricidades patéticas, ok, fazer o quê? Cada um tem o ídolo que pode ou merece. Mas o que sacoleja as placas tectônicas de quem ainda acredita que haja um mínimo de juízo no mundo é, de repente, passar a esbarrar com todo o tipo de informação sobre um macaco celebridade em um tempo em que centenas de macacos anônimos estão morrendo por causa da volta da febre amarela. Os bichos não estão morrendo apenas por estarem contaminados com a doença, mas assassinados pela ignorância de quem acredita que matando-os a febre será erradicada. 

Pensão Duas ou três coisas que fiquei sabendo sobre Twelves nos últimos dias: era um macaco prego de 5 anos e vivia vestido com roupas de criança. Tinha esse nome porque Latino o considerava seu 12º filho. Essa parte, inclusive, é mais complexa de se entender do que a fama do próprio símio, pois o astro da Festa no Apê tem apenas nove filhos. O 10° e o 11º não se sabe a que ou a quem se refere. E, claro, “apenas”, nesse caso, é uma palavra sem muito sentido, pois nove filhos são nove filhos. Não deve ser à toa que Latino, embora desse tratamento de rei a Twelves, volta e meia frequenta as manchetes da imprensa órfã do site Ego por ameaça de prisão por não pagar a pensão alimentícia de algum dos nove filhos.

Tempos estranhos esses em que há macacos de classe média e um deles não apenas tem rede social, como tem mais de 130 mil seguidores, para os quais “escreve” em primeira pessoa, inclusive depois de morto e, literalmente, cremado, no Garden Pet Crematório. Uma empresa vai transformar o carbono das cinzas do bicho em um diamante e entregar a Latino. Bem que o dono enlutado poderia leiloar o diamante entre os 130 mil seguidores de Twelves para pagar a pensão dos filhos vivos.

Para quem quer aproveitar a loucura em torno do macaco de Latino para se ilustrar sobre a humanização dos animais (ops, dos pets), leia Miss Dollar, um conto de Machado de Assis, facilmente encontrável na web. Em tempo: Twelves morreu atropelado quando tentava fugir, pela segunda vez, da mansão do dono, num condomínio da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, para uma mata nos arredores. O macaco estava certo. E um post scriptum: como não foi feita nenhuma perícia e dúvida é um direito de todos, a morte de Twelves foi atropelamento ou suicídio? Motivos para desistir da vida, o macaco tinha. Ou vocês acham que é fácil, para um macaco, ser privado de bananas e todos os dias ser servido com um prato de mingau da fruta preparado pela cozinheira do dono?