Um ano de reestruturação

Operadora Oi pretende aumentar investimentos mesmo em processo de recuperação judicial. Em entrevista ao CORREIO, novo presidente da companhia detalha suas estratégias 

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  • Da Redação

Publicado em 1 de abril de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (foto: Divulgação)

O advogado Eurico Teles assumiu o comando geral da operadora Oi no final de novembro com a missão de levar adiante acordos com credores e acionistas e executar o plano de recuperação judicial da empresa e ao memso tempo garantir a qualidade na prestação de serviço aos consumidores. Ele está na companhia desde 1981 e tem 34 anos de experiência na área Jurídica, sendo membro do Instituto dos Advogados do Brasil (IAB). Ele também atuou como Procurador do Tribunal de Justiça Desportiva.

A assembleia que o escolheu como presidente da empresa o fez fazendo-o acumular o cargo de diretor jurídico da companhia. O que pode ser explicado pelo momento delicado vivido pela Oi, que precisa, por um lado, aumentar a capitalização, e, de outro, vencer a desconfiança de credores e consumidores e a resistência de grupo de acionistas. 

Nesta primeira entrevista que concede à imprensa baiana, Teles comenta sobre suas estratégias, dá uma visão geral sobre o atual momento da operadora, apresenta números para garantir que a empresa mantém investimentos e que a operação do negócio está blindada em relação à crise gerada pelo pedido de recuperação judicial. 

Em relação à Bahia, declara que o estado segue como praça estratégica para a  companhia e que o foco atual por aqui é o de aumentar a capilaridade com a abertura de novas lojas.  Confira: 

Teles, sobre a aprovação do plano de recuperação da Oi: "desagradar um pouco a todos foi melhor do que desagradar muito a poucos" Como a Oi tem enfrentado a questão da recuperação judicial? O que foi feito, dentro do previsto no plano de recuperação até aqui? Quais são os próximos passos? Ainda é possível um acordo com os pequenos acionistas, que têm se posicionado contrariamente ao plano de recuperação judicial? As negociações foram intensas, como era de se esperar num caso tão complexo como o da Oi, com um perfil tão variado de credores e tantos interesses envolvidos.  Mas fizemos tudo o que estava ao nosso alcance: desde o início do processo de RJ, a Oi esteve aberta ao diálogo, ouvimos todos os interessados, estivemos sempre abertos a receber propostas e discutir alternativas. Foi assim até o último momento, já que na própria assembleia de credores foram feitas solicitações de ajustes ao plano. Estamos satisfeitos porque a solução encontrada manteve a premissa básica que defendemos desde o início das negociações: buscar o melhor para a companhia e que ela saísse fortalecida no médio e longo prazo. Mesmo que sabendo que, para isso, teríamos que desagradar um pouco a todos, o que foi melhor do que desagradar muito a poucos. Uma vez que a Justiça homologou o plano, estamos agora dando sequência aos procedimentos para que os credores possam receber seus créditos.

Os problemas relacionados ao processo de recuperação judicial estão afetando – e de que modo – a operação da empresa? Como a companhia fechou seu balanço em 2017? Qual avaliação faz dos resultados obtidos no ano passado e quais as perspectivas para 2018? Durante o processo de recuperação judicial, estivemos focados em nossas atividades operacionais, mantendo inalterada a rotina de atendimento, venda, instalação, manutenção e reparo de serviços. Isso se deu em todos os segmentos do mercado de telecomunicações em que atuamos, englobando clientes pessoa física e também empresas de pequeno, médio e grande porte, bancos, redes de lojas, governos estaduais, órgãos federais e outras operadoras do mercado que alugam infraestrutura da Oi. Continuamos investimento em rede e na transformação digital da companhia e no lançamento de serviços inovadores para oferecer a melhor experiência aos nossos clientes. Temos aumentado o nível de investimento. Em 2016, o investimento foi de R$ 4,9 bilhões, com aumento de cerca de 18% na comparação com o ano anterior. Nosso resultado de 2017 será divulgado ao mercado no final deste mês, então não podemos antecipar as informações. Esse ano será de reestruturação para a companhia, com a meta de ampliar a média de investimento anual de R$ 5 bilhões para R$ 7 bilhões, com aumento de capital previsto no plano de recuperação judicial. Queremos que a Oi volte a ocupar o lugar de destaque que é dela no cenário nacional. Somos uma companhia presente no país inteiro, que atende de forma exclusiva milhares de municípios, que gera mais de 130 mil empregos diretos e indiretos, que recolhe bilhões de reais em impostos todos os anos e que investe também bilhões todos os anos. Ou seja, temos um peso importante na dinâmica econômica do país.  Ainda em relação à recuperação judicial, o governo – por meio do ministro Kassab – tem sido reticente em tomar uma posição sobre a empresa. O que a Oi espera do governo? A Oi entende que há questões relevantes para o setor de telecomunicações como um todo que precisam ser endereçadas o quanto antes, pois têm impacto para a sociedade como um todo e para o futuro do país, como a modernização das regras do setor. É preciso que essa discussão avance, para que as empresas possam realizar investimentos em serviços mais demandados pela sociedade hoje em dia, como a banda larga, em vez de continuarem destinando recursos para serviços que quase ninguém mais usa, como os orelhões.

A Oi está buscando compradores? Como está a articulação para que a empresa encontre um sócio? Se associar a um grupo estrangeiro seria a única forma de revitalizar a empresa? O aumento de capital previsto na aprovação do acordo com os credores trará um novo perfil societário para a companhia. A participação desses investidores no aumento de capital foi um sinal bastante contundente de que acreditam no futuro da companhia. De uma maneira geral, sempre ficou claro ao longo das negociações com os diversos envolvidos no processo que a Oi é um ativo muito valioso e que, uma vez solucionada a questão de estrutura de capital da empresa, muita gente teria interesse em participar desse novo momento da companhia, dessa nova história que a Oi vai começar a escrever a partir de agora. A Oi é a empresa de maior capilaridade no mercado brasileiro, com uma rede de fibra ótica de mais de 363 mil km, mais de 60 milhões de clientes e uma receita liquida de serviços de mais de R$ 20 bilhões por ano.  E durante o processo do RJ (recuperação judicial) a companhia fez seu dever de casa. As equipes continuaram focadas em suas atividades e, com isso, melhoramos nossos indicadores de qualidade e também os indicadores operacionais e financeiros. Com a questão financeira equacionada, é natural que novos investidores venham a se interessar pelo negócio da companhia, mas no momento não há nada de concreto sobre isso e não há como estabelecer um prazo.

A empresa vai manter seus investimentos em 2018? Quanto a Oi pretende investir no Brasil e na Bahia em 2018? Qual o foco prioritário dos investimentos? Depois de ter seu plano de recuperação judicial aprovado pelos credores e homologado pela Justiça, a Oi se prepara agora para um ano de reestruturação com a meta de ampliar sua média anual de investimentos de R$ 5 bilhões para R$ 7 bilhões, com o aumento de capital.  Traçamos um plano granular de investimentos, focado na digitalização, na expansão da rede de fibra ótica e no aumento da cobertura 4G em áreas onde a companhia tem as maiores perspectivas de crescimento. A Bahia é um mercado estratégico para a Oi, que conta com mais de 3,5 milhões de clientes. Somos líderes na banda larga, na telefonia fixa e na telefonia móvel pré-paga e investimos mais de R$ 168 milhões no estado de janeiro a setembro de 2017, um crescimento de 17% em comparação ao mesmo período de 2016. Geramos mais de 7 mil empregos entre diretos e indiretos e somos uma das maiores contribuintes do estado.  O fim do sinal analógico de TV abriu uma oportunidade para as empresas de telefonia ganharem amplitude de sinal; Lembro que na Bahia regiões inteiras não têm qualquer sinal de celular, e muitas cidades ainda estão na era do 2G. A Oi vai ocupar essa nova banda? De que forma? Investindo quanto, quando e em quê? A companhia adotou uma estratégia diferente para a ampliação do 4G, já que decidimos não participar do leilão de 700MHZ.  Somos a empresa com a maior capilaridade de rede fixa no Brasil, tanto em redes óticas nacionais, interurbanas e metropolitanas, quanto em rede metálica. Toda essa capilaridade, aliada ao nosso amplo espectro em 1.800MHz que nos permite crescer a nossa cobertura 4G através do refarming, faz com que a Oi tenha um potencial de abrangência de serviços convergentes de qualidade em toda a sua rede. E é esse movimento que estamos fazendo agora com o início da implantação das nossas redes 4,5G em 1.800MHz e a expansão da nossa rede de fibra FTTH em algumas cidades ainda em 2018.

Qual o futuro da telefonia e das tecnologias móveis na visão da Oi? O que a companhia tem feito para alcançar este futuro? A empresa já estuda como trazer a tecnologia 5G? A nossa estratégia de negócios está voltada para o aumento do consumo de dados, convergência de produtos e avanço da transformação digital com lançamento de serviços inovadores e totalmente digitais que atendem às necessidades e expectativas dos clientes de hoje. As novas tecnologias, como por exemplo IoT (internet das coisas) e Inteligência Artificial, já são realidade na companhia e acabam assumindo um papel relevante tanto no atendimento aos clientes como no planejamento e desenvolvimento de novos produtos. E entendemos que o futuro seguirá por esse caminho. Acabamos de lançar em Barcelona, no maior evento mundial de telecom, o MWC, o nosso chatbot que está preparado para auxiliar o cliente a buscar o código de barras, valor e vencimento da fatura, neste primeiro momento. No futuro, ele será capaz de suportar o processo de vendas e também estamos mapeando oportunidades de utilizá-lo em processos internos. Além de oferecer uma melhor experiência aos clientes, a digitalização reduz custos e melhora a eficiência operacional da companhia.

Na visão do senhor, o que precisa ser feito para o Brasil ter uma internet e uma telefonia móvel de melhor qualidade e de menor preço? Vemos que o perfil do consumidor mudou diante do maior acesso à internet e às novas tecnologias. Diante disso, acreditamos que nós, como empresa de serviços, precisamos acompanhar essa mudança para oferecer de fato o que eles querem e precisam. Temos realizado constantemente pesquisas com objetivo de mapear o comportamento desses clientes: que serviços eles utilizam, que meios usam para se relacionar com outras pessoas, como interagem com cada aparelho, que tipo de conteúdo desperta seu interesse, em que momento costumam utilizar serviços de telecom, por quanto tempo e em que situações do dia-a-dia. É com base nessas informações que desenvolvemos o Oi Total e as ofertas digitais do Oi Livre e Oi Controle, que permite a troca da franquia de voz por dados e vice-versa. Um mês depois do lançamento, identificamos que 75% dos clientes trocaram a franquia de voz por dados, ou seja, optaram por mais internet. Estruturalmente, a companhia tem investido anualmente na expansão da rede para acompanhar a demanda desses consumidores.  A cobertura 4G da Oi está presente em mais de  800 cidades brasileiras e, somente em 2017, a companhia lançouo 4G em mais de 520 cidades. Além disso, a Oi também iniciou a implantação da tecnologia 4,5G, prevista para entrar em operação ao longo do ano de 2018. Em virtude da grande capilaridade e capacidade do seu backbone, a companhia está preparada para crescer com as novas tecnologias de acesso de alta velocidade e, desta forma, aprimorar ainda mais a experiência de uso de dados dos nossos clientes. Ao mesmo tempo, mantemos foco permanente em inovação. Inauguramos recentemente no Rio de Janeiro o Oito, um centro de empreendedorismo e inovação voltado para startups, para desenvolver os serviços com o que há de mais avançado em tecnologia.

A Oi pretende lançar algum produto ou promoção específica para o mercado baiano? Como a empresa se posiciona aqui em termos de share? Que estratégia pretende adotar para aumentar a base de clientes? O estado da Bahia é um mercado estratégico para a companhia, que conta com mais de 3,5 milhões de clientes presentes em todos municípios. Com uma base de mais de 850 mil clientes, somos líderes de mercado na telefonia fixa, líderes na banda larga com mais de 346 mil clientes, além de ocupar a liderança na telefonia móvel pré-paga com 3,1 milhões de clientes. A companhia tem direcionado seus esforços para oferecer as melhores ofertas aos seus clientes. Para esse ano estamos focados em aumentar a nossa capilaridade no estado, tanto na capital quanto no interior, com a abertura de novas lojas.  A Oi, a exemplo de outras operadoras, vai investir em geração própria de energia, por meio de parques eólicos e fotovoltaicos? Se sim, alguns destes parques serão na Bahia (em que município)? A Oi está investindo em energia solar, dentro do nosso plano de eficiência energética. Neste primeiro momento, o trabalho será feito no estado de Minas Gerais. Em parceria com a GD Solar, estamos prospectando áreas para a criação de fazendas solares que converterão a luz do sol em eletricidade nos municípios de Janaúba e Capitão Enéas, no norte mineiro. As duas fazendas, com potência de 5 MWp cada, terão capacidade de gerar 1,7 GWh/mês. Essa energia seria equivalente ao consumo mensal de cerca de 10 mil residências, devendo entrar em operação em novembro de 2018. O projeto é parte do nosso plano estratégico de diversificar a nossa matriz de consumo, utilizando fontes renováveis com menor custo, complementando a aquisição de energia no mercado livre.

 O mercado já começa a especular sobre uma fusão do Oi com a TIM. Estas conversas existem? A possibilidade é real? O que uma fusão dessas poderia significar para o mercado de telefonia móvel do Brasil?  Não comentamos especulações de mercado. O que a Oi e a TIM divulgaram recentemente foi um comunicado sobre compartilhamento de infraestrutura, prática que já existe no mercado e que é feito com outras operadoras também.