Um cheiro de chifre no ar

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  • D
  • Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2017 às 15:01

- Atualizado há um ano

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Juro que não tenho preconceito. Aliás tenho. Todo mundo tem. Devo ter outros, mas o que mais me domina é o preconceito com a falta de educação. Não suporto, não aguento, não tolero. Veja bem, não sou a pessoa mais simpática, agradável, sensível e queridinha do mundo, mas tenho plena convicção de que meu direito acaba quando começa o teu. Não sei se pra você é assim, mas no meu conceito esse é o princípio básico da educação. Obrigado, com licença e por favor, importantes e indissociáveis para a boa convivência vem depois disso. O cara que não respeita o direito do outro não pede licença, não diz obrigado e até se sente diminuído quando balbucia um por favor.

E a praia é o lugar onde a falta de educação só perde lugar no pódio para a quantidade de conchinhas e grãos de areia. É predominante. É fato. É irritante. O maior exemplo do “lasque-se você” ou “os incomodados que se retirem”, dois argumentos (sic) típicos de quem não teve mãe ou teve pais ausentes, é o som estridente que foge da mala aberta do carro rebaixado com roda de magnésio. E o pior: jamais, em tempo algum, o ruído que sai dos autofalantes pode ser comparado a música.

Em volta do bólido, um bando de selvagens bebendo e gritando. Sim gritando, porque eles próprios não conseguem se ouvir. Logo não se entendem. Também não sabem porque estão ali, atrapalhando a vida dos outros, já que não ouvem a deliciosa harmonia das ondas, a música relaxante que ecoa na praia como acordes de piano. Isso eles desconhecem. E se você não suporta aquelas músicas horrorosas, sem letra nenhuma, de um gosto pior que duvidoso, então se pique, porque a “praia é pública”.  E é isso que dá mais raiva. Se a desgraça é pública, é de todo mundo, então por que dezenas, centenas, todos, são obrigados a ouvir a porcaria que o simpático mal educado enfia no nosso aparelho auricular sem dó nem piedade?

Não estou aqui pra questionar o gosto de ninguém, até porque gosto é que nem cabelo. Tem gente que simplesmente não tem. Mas eu mesmo não obrigo ninguém a ouvir Hendrix, Joplin, Led ou Elis. Ouço quietinho, baixinho, na minha. Quando quero arrebentar com meus ouvidos  uso fone e não perturbo ninguém. Tenho vergonha de ser apontado como um cara mal educado, por respeito a minha mãe que depois de tanto trabalho não merece a pecha de ausente, omissa ou irresponsável. Com toda dificuldade ela ensinou o básico, deu limites e nos fez ver que não estamos sozinhos no mundo, no edifício ou na praia. Mas voltemos aos simpáticos poluidores sonoros desse domingo ensolarado na disputada praia de Stella Maris. 

Em volta do bólido de aço quatro pançudos com cerveja na mão riam desbragada e escancaradamente sem saber exatamente por que estavam rindo. Deveriam estar se divertindo um com a cara do outro, tamanha a semelhança com uma cena pastelão. As moçoilas que os acompanhavam, refesteladas na areia, posicionaram-se de costas para os machões do paredão e de olho na paisagem.  Então ficou tudo claro, límpido, cristalino. Eram quatro mal educados e mal amados que riam da própria desgraça, da ignorância e da falta de educação doméstica. Tá explicado por que aquele ruído horroroso, persistente, chato e perturbador exalava um forte cheiro de chifre no ar. Sim, quem vai à praia, abre a mala e obriga os outros a ouvir suas porcarias só pode ser corno. Pronto falei.

Oscar Paris é jornalista