Um craque imprevisto

Por Clara Albuquerque

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Publicado em 23 de janeiro de 2018 às 05:01

- Atualizado há um ano

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O craque da Seleção Brasileira não saiu do Barcelona. Ele está lá, veste a 15 e já marcou mais gols no campeonato espanhol que Cristiano Ronaldo. Não é Neymar. É Paulinho.

Quem imaginaria? Certamente, eu não. Muito menos a imprensa catalã, que elegeu o volante brasileiro como a maior surpresa entre os estreantes na Espanha. Os torcedores também não confiavam na contratação de um jogador de 29 anos que atuava na China. Pouco antes do acerto, um taxista em Barcelona, quando soube de onde eu era, me disse que tinha um pé atrás com atletas brasileiros, mas que ao menos eles traziam “fantasia” pra dentro de campo e que esse não era o caso de Paulinho. E, especialmente fora do Brasil, era muito fácil concordar.

Em sua primeira passagem no futebol europeu, Paulinho passou por Lituânia e Polônia sem destaque. Aos 24 anos, já campeão brasileiro e da Libertadores, pelo Corinthians, foi para o Tottenham, em 2013, com a expectativa de se firmar na Europa. Não foi bem. A tradicional revista FourFourTwo chegou a eleger o brasileiro como o pior jogador do Tottenham e Paulinho cansou de figurar em listas das piores contratações da Premier League. Uma Copa do Mundo desastrosa e, dois anos depois, estava praticamente escondido no futebol chinês.

Quem, então, em sã consciência apostaria numa reviravolta? Certamente, eu não. E acredito que você também não. Tite confiou e, assim como tinha feito anos atrás, no Corinthians, colocou as qualidades do jogador na vitrine.

Ao chegar no clube catalão, Paulinho foi questionado, em entrevista coletiva, por que merecia estar ali. Hoje, são oito gols no Campeonato Espanhol (Cristiano Ronaldo alcançou seis no domingo) e duas assistências. Mais do que os números, Paulinho exerce um papel que o próprio Barcelona desconhecia, mas precisava. Ele não é o destruidor de jogadas nem o criador clássico. Também não é o rei do toque de bola. É presença e disposição. Aquele que está na defesa quando é preciso ter mais número por lá. Que está no meio quando falta consistência. E que vai ao ataque quando precisa ser surpresa. Quem, agora, criticaria um jogador assim? Certamente, eu não. Muito menos a torcida do Barcelona.

Às Claras  Se ainda existiam dúvidas sobre o atacante Firmino, a atuação no clássico contra o líder Manchester City, no dia 14 de janeiro, deve ter encerrado a discussão. Por não ter jogado num dos grandes clubes do país (foi revelado pelo Figueirense), Firmino sofre por não ter criado memórias (e fantasias) na mente do brasileiro, ainda que tenha deixado o Brasil com mais idade que Gabriel Jesus, por exemplo.

Na temporada, são 17 gols em 32 partidas. Sete gols a mais que o camisa 9 titular da Seleção Brasileira, mas que tem 5 jogos a menos, na temporada, pelo Manchester City. Firmino, 26 anos, é melhor que Gabriel Jesus, 20 anos? Não. Não é. Mas é a melhor segunda opção possível. Sem nenhum demérito em ser banco, considerando que Gabriel Jesus esteja bem e em forma no fim da temporada. Não dá pra voltar no tempo, mas vale dar a chance pra que Firmino crie novas memórias.

Clara Albuquerque é jornalista e correspondente internacional na Europa